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A Polícia Militar é uma Máquina de Matar: O Genocídio Negro em São Paulo e no Brasil

O Brasil é um país construído sobre o sangue negro, e a Polícia Militar (PM) é sua arma mais eficiente. Sob o governo de Tarcísio de Freitas, a PM paulista escancarou essa verdade. Em 2024, o número de mortes dobrou em relação ao ano anterior: uma pessoa é morta pela PM a cada 10 horas em São Paulo. Entre essas vítimas, 83% são negras. Isso não é acidente. Isso é projeto.

A PM nasceu na ditadura para reprimir, não para proteger. Seu papel é claro: conter, controlar e eliminar corpos pretos e pobres. Esse racismo institucional está tão arraigado que transcende governos e ideologias. Na Bahia, estado com maior população negra do país é governado pela esquerda, a polícia também caça pretos como se fossem inimigos de guerra. O genocídio negro não tem partido: é uma política de Estado.

Por que Fim da PM?

O pedido pelo fim da PM é uma luta contra o racismo estruturado e militarizado. Não é o fim da ordem, mas o fim de uma força armada que opera como um exército ocupando territórios pretos. Ninguém pede o fim dos bombeiros ou da polícia civil, porque não são essas instituições que assassinam jovens negros em operações mal planejadas e violentas. O clamor é por uma segurança pública humanizada, uma polícia municipal ou um modelo inspirado na civil, com controle comunitário e foco na proteção, não no extermínio.

Dizer que somos contra a PM não é defender criminosos; é defender a vida contra criminosos de farda. É denunciar a impunidade e a licença para matar que a corporação recebe, seja de governos, seja de uma sociedade que aplaude atrocidades. Quem apoia a PM jogando jovens de pontes, agredindo mulheres ou assassinando sem justificativa não defende a ordem. Defende o racismo.

A discussão sobre o fim da Polícia Militar no Brasil não se refere à ausência de segurança pública, mas à necessidade de uma reformulação profunda para construir um modelo mais eficiente, justo e alinhado às demandas sociais. A desmilitarização e a criação de alternativas focadas na redução da violência estrutural e na construção de confiança entre polícia e população são passos fundamentais. Exemplos internacionais e propostas locais oferecem caminhos viáveis para essa transformação.

Nos modelos de desmilitarização, países como Portugal e Noruega demonstram como a segurança pública pode ser eficaz sem a militarização. Em Portugal, a polícia é voltada para a mediação de conflitos, o que se reflete em índices de violência consideravelmente mais baixos. Na Noruega, os policiais geralmente não portam armas e são treinados com foco em ética, comunicação e resolução pacífica de conflitos, resultando em uma abordagem mais humanizada e menos letal.

Outro exemplo de sucesso vem da polícia comunitária, amplamente adotada em países como Japão e Cuba. No Japão, os “koban” são postos comunitários que promovem a integração da polícia com os moradores locais, facilitando a prevenção de crimes através da confiança mútua. Em Cuba, a polícia trabalha em conjunto com lideranças comunitárias, com foco em educação e assistência, o que contribui significativamente para a redução da violência.

Abordagens específicas também são aplicadas no Canadá, onde equipes especializadas substituem a presença armada em situações que envolvem saúde mental, intervenções sociais e crises domésticas. Isso não só evita o uso desnecessário da força, mas também promove uma solução mais eficaz e humanizada para conflitos.

No Brasil, é possível adaptar esses exemplos, adotando estratégias que diminuam a violência e protejam a população, especialmente a negra e periférica, que historicamente carrega o peso do racismo estrutural e da violência policial. Uma proposta é a criação de polícias municipais descentralizadas, sob gestão local, para aumentar a proximidade e a responsabilidade social, moldando ações conforme as realidades de cada município.  

Além disso, é essencial que a formação policial seja reformulada, substituindo treinamentos militares por uma abordagem humanizada, que inclua direitos humanos, mediação de conflitos, técnicas de desescalada e comunicação não violenta. O contingente armado pode ser reduzido, priorizando o uso de tecnologias como câmeras corporais e drones, garantindo maior transparência e evitando abusos.

Outra proposta relevante é a intervenção social preventiva, que redistribuiria parte do orçamento da segurança pública para áreas como educação, saúde, cultura e geração de empregos, abordando os fatores que alimentam a violência estrutural. Ao mesmo tempo, operações policiais em favelas e periferias devem seguir protocolos rigorosos, supervisionados por entidades independentes, com auditorias regulares para garantir conformidade e evitar excessos.

Essas mudanças esperam atingir diversos objetivos, como a diminuição da letalidade policial, visto que abordagens menos armadas e mais qualificadas tendem a reduzir fatalidades. A confiança entre polícia e população seria fortalecida por meio de práticas comunitárias que promovam integração, ao invés de perpetuar a visão das periferias como inimigas. Por fim, a formação baseada em diversidade e direitos humanos ajudaria a combater o racismo estrutural, reduzindo abordagens discriminatórias.

Dessa forma, a reformulação da segurança pública brasileira não é apenas necessária, mas também possível. Com modelos humanizados e preventivos, é viável construir um sistema que priorize a proteção e o bem-estar da população, respeitando sua diversidade e garantindo justiça e equidade.

Acabar com a Polícia Militar é apenas o começo de um processo necessário de reconstrução. O Brasil precisa de um modelo que não veja o cidadão preto e pobre como inimigo, mas como parte da sociedade que deve ser protegida. A violência policial é o sintoma de um sistema falido, e cabe ao movimento negro e à sociedade organizada pressionarem por mudanças reais e estruturais. Não podemos mais esperar enquanto corpos negros caem. A mudança começa agora.

O Papel do Racismo e da Sociedade

A violência da polícia militarizada não existe no vácuo. Ela é sustentada por um racismo que perpassa todas as camadas da sociedade. O governo de Bolsonaro não inventou o racismo, mas deu licença para que ele se fortalecesse. Em redes sociais, vemos pessoas abertamente apoiando abusos policiais. Isso não é apenas fruto de ignorância; é a manifestação de uma maldade enraizada. 

Nos últimos anos, racistas que antes se escondiam agora se sentem encorajados. A ascensão de discursos autoritários deu asas a um ódio antes reprimido. Esses indivíduos não são apenas produto do sistema: são cúmplices ativos da barbárie, legitimando a violência e desumanizando corpos pretos.

A Luta do Movimento Negro

O movimento negro é a linha de frente nessa guerra pela vida. É ele quem denuncia o genocídio e propõe soluções reais. Ele aponta que a abolição da PM é necessária para salvar vidas. Não é possível reformar uma instituição que foi criada para matar. É preciso substituí-la por algo novo, algo que respeite a dignidade humana, especialmente a dignidade negra.

Nossa luta é pela sobrevivência, mas também pela memória. Cada jovem preto assassinado pela PM deixa para trás uma família, uma história interrompida e um futuro roubado. Quando dizemos que *vidas negras importam*, estamos afirmando que não aceitaremos mais carregar alvos nas costas. 

A luta para acabar com a PM não é contra a polícia, mas contra o racismo. Não é contra a ordem, mas contra o genocídio. É um grito por justiça, por dignidade, por um Brasil onde os pretos possam viver sem medo. Enquanto a sociedade aplaudir a violência e governos continuarem a legitimá-la, o movimento negro será resistência. Não há outra opção: é viver ou morrer lutando.

Texto: @jonatassolano

NOTA

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