» Post

“#PRETASFEDIDAS”: SOBRE OS LUGARES QUE [NÃO?] DEVERÍAMOS ESTAR…

“Sai daqui, sinhá preta!”

Essas palavras cortaram meus ouvidos feito faca naquela noite. Era uma noite de maio, em 2001. Eu tinha 20 anos e estava concluindo o curso de História na UNEB. Quem me disse isso foi a dona do buffet responsável por organizar uma festa de formatura da mesma IES que eu estudava. Tava ali como convidada e fui expulsa enquanto ela me empurrava pra fora do clube com minha mãe e um casal de amigos, porque eu tinha esquecido as senhas para entrada individual e a formanda que me convidara, não estava presente ainda.

Ouvir aquele “sai daqui, sinhá preta!” foi a primeira de uma série de ofensas e situações racistas que foram me acompanhando e recheando meu currículo de mulher preta que estuda… que insiste em ocupar um lugar onde [não?] deveria estar.

Porque estou contando isso agora? Bem… recebi há dois dias um vídeo de um fato que aconteceu dia 6 de março num campus do IF de São Paulo. Uma professora negra manifestava sua indignação perante a turma por conta de agressões e pichações racistas encontradas num dos banheiros da instituição.

#FORAPRETAS

#PRETASFEDIDAS

#IFBRANCO

Ali estavam meninas negras sendo expulsas. Como eu fui. Dezesseis anos depois, percebi que mulheres negras na universidade ou nos espaços que permitem o acesso a ela, continuam incomodando. A professora do vídeo chorava enquanto tentava expor a dor de se ver representada naquela pichação. A dor de se ver excluída de um espaço que também é dela. De ver que as alunas negras não são bem-vindas porque o pretume das suas peles incomoda pelo simples fato de serem… Ali, naquelas meninas “#pretasfedidas”, a professora se viu e chorou. Ali naquelas meninas “#pretasfedidas” também me vejo e é ali que estou. Eles, os racistas, ainda tentam nos expulsar dos espaços acadêmicos que tanto temos suado para conquistar.

Um ponto é particularmente interessante e curioso sobre este fato… Como disse,  aconteceu no dia 6 de março. Este é também o dia do meu aniversário. Naquele dia completaram-se 36 anos do meu nascimento, mas o mais importante, é que naquele dia, eu, rotulada como #pretafedida e expulsa na pele daquelas meninas do #IFbranco paulista, fiz a minha matrícula no curso de Doutorado em História Social da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), para desenvolver uma pesquisa voltada à investigação acerca da escravidão e da conquista da liberdade no interior da Bahia. Como digo sempre, vou seguindo no rastro do povo preto!

Naquele dia, mesmo sem ter a consciência imediata de que estava sendo expulsa do universo acadêmico pelos racistas juvenis do #IFbranco de São Paulo, insisti em ser a #pretadoutoranda, a #preta acadêmica, a #pretaresistente, a preta que está no lugar que quer, onde quer e quando quer.

Ao #Ifbranco  racista, ofereço duas hastags para serem fixadas não nas paredes dos banheiros, mas nas mentes dos seus mentores:

#racistasnãopassarão

#vaiterpretadoutorasim!

(Email: alinasigo@gmail.com)

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!

Respostas de 3

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

» Parceiros

» Posts Recentes

Categorias

Você também pode gostar

Max Mu

‘Me Too’ Mentiu?

Dizem que um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. Dessa vez, caiu.A bomba já explodida explode novamente, e

Leia Mais »
plugins premium WordPress

Utilizamos seus dados para analisar e personalizar nossos conteúdos e anúncios durante a sua navegação em nossos sites, em serviços de terceiros e parceiros. Ao navegar pelo site, você autoriza o Jornal Empoderado a coletar tais informações e utiliza-las para estas finalidades. Em caso de dúvidas, acesse nossa Política de Privacidade