Qual o seu espaço? Como é visto e lido socialmente? Partir dessas perguntas é o primeiro passo para abarcarmos outras, para, assim, irmos ao encontro de respostas e epistemologias para o assunto.
O intuito deste texto é fomentar o debate e questionar, de forma provocativa mesmo, qual tem sido e o que queremos nós homens pretos? Para que possamos enfrentar o racismo é necessário que estejamos preparados intelectualmente também.
Precisamos falar de masculinidades. E necessitamos mais ainda falarmos sobre a masculinidade negra. O quanto estamos, nós homens pretos, construindo narrativas e reflexões acerca de nossos corpos, comportamentos e subjetividades.
Ou melhor: no processo de cura e abertura ao tema.
Não é que estejamos longe de sermos parte da estrutura machista e patriarcal de nossa sociedade, e sim que devemos buscar por melhorias e compreensão sobre nós mesmos; o papel que possamos desempenhar para compor um novo tecido social e cultural do homem contemporâneo.
Que saiba ouvir, chorar e, principalmente, que repense a sua existência num mundo completamente centrado na figura do macho cis-hetero-branco.
Não entrarmos no jogo sórdido da rivalidade, dos estereótipos de virilidades; é, porém, da urgência de sermos agentes de outra masculinidade mais fluida, menos tóxica e mais dialógica.
Em um país de raízes e manutenção do racismo estrutural, cumpre ao corpo negro estabelecer sempre atos de rebeldia e aprofundamento de sua história, das lutas cotidianas de sobrevivência e enfrentamento contínuo do ódio.
Estudando nossos comportamentos e referências teóricas
Em “Diálogos Contemporâneos Sobre Homens Negros e Masculinidades”, obra que traz importante contribuição teórica sobre o tema, lançando este ano pela Ciclo Contínuo Editorial, os autores trouxeram para campo o debate.
No total, oito ensaios, escritos todos por homens negros, procura contextualizar a figura masculino-negro na sociedade.
Suas dores, angústias, as constantes disputas com homens brancos pela aceitação e reconhecimento das mulheres não negras – o mercado afetivo. O homem negro trans e gay no conjunto de abordagens e lugar de fala.
As implicações de todo tipo de preconceito sobre seus corpos. O racismo na linha de frente de massacre e esgotamento físico e mental.
Espaços de debates são bons exemplos dessa retomada de construção de fala, rodas de conversas estão sendo organizadas já com este intuito.
O MilTons, na cidade de Porto Alegre, tem sido palco deste formato de encontros entre homens negros para debater e colocar em prática suas vivências.
E há outros também, como as rodas de conversa na Aparelha Luzia, em São Paulo.
O importante é estarmos em contato permanente com as nossas histórias e trocas de falas, ouvindo e colocando o dedo na ferida. Expondo nossos traumas e no caminho da cura.
Munidos de conhecimento e dispostos a revermos nossos comportamentos: o papel como pais, filhos, companheiros e sujeitos cientes de nossas responsabilidades para com a coletividade negra.