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Piada de Preto é coisa do William Waack

 
O jornalista William Waack, demitido da Rede Globo em dezembro, divulgou uma nota em que alega não ser racista.

Declara que fez somente uma piada, durante uma gravação diante da Casa Branca, em 2016. Sua defesa teve o apoio de personalidades como sua colega Glória Maria.

A tentativa de explicação, no entanto, não deixa de ser tragicômica. Afinal, sabemos que seu racismo subliminar, expresso todos os dias, tem sido eficaz para manter a exclusão social, estigmatizar os movimentos por igualdade e cristalizar os valores “meritocráticos” das elites neocoloniais.

Waack fez mesmo piada? Não visão dele e de seus colegas, trata-se de um chiste de pouca importância. Consideram nosso protesto uma forma condenável de vitimização.

A apologia de Waack, no entanto, colabora para a preservação de uma cultura suprematista, estúpida e mofada, que marginaliza, separa e golpeia a justiça humana.

E o povo negro é, sim, alvo desse tipo de insolência dos “bem-nascidos” de matriz europeia. A anedota corta, mutila e humilha. É suja e tóxica. É a arma enferrujada de gente ignorante e ruim, como o dublê de humorista Danilo Gentili, aquele que teima em chamar os afrodescendentes de macacos.

Imaginamos que a nota do ex-âncora global foi redigida depois da leitura de “Não Somos Racistas”, do famigerado Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da Rede Globo, um amante do sistema de castas e de seus piores vícios.

O pobre Waack e sua turma, que se julgam tão cultos, ainda não aprenderam que não há graça no insulto que toma como referência cor da pele, a fisionomia ou a cultura do outro.

Não existe, por exemplo, cabelo duro ou ruim. Existe aquele que é crespo, cacheado ou que se corta e modela no estilo afro.

O negro não tem a cor do pecado. Não denegrimos nada. E não possuímos o pé na cozinha. Se lá estivemos cativos, nos tempos da escravatura, foi por imposição infame dos coronéis, que enriqueceram dez de suas gerações pelo trabalho roubado dos músculos da África.

Nossas esposas, namoradas, irmãs, mães e amigas não são mulatas. Na verdade, carregam a cor da miscigenação, muitas vezes forçada, obtida pelo senhor de engenho de uma moça que podia se deitar em sua cama, mas que não tinha direito de comer em sua mesa.

Provavelmente, o letrado William Waack saiba de tudo isso, mas finge que não sabe. Agora, flagrado em sua deselegância, tenta desesperadamente passar uma imagem de inocência, fazer cara de sonso, embromar. Vai que cola…

Vamos relembrar o que disse este arrogante senhor das câmeras e dos microfones, na ocasião em que foi flagrado em suas irresponsáveis pândegas televisivas.

“Tá buzinando por que, seu merda do caralho?”, vocifera o antipático porta-voz da direita brasileira, reclamando de uma buzina que soava na rua.

Na sequência, sussura ao convidado, o comentarista Paulo Sotero: “você é um, não vou nem falar, eu sei quem é”. E complementa: “é preto, é coisa de preto”.

Altere o texto e confira o sentido: “é branco, coisa de branco”. Teria o afamado jornalista cogitado em reclamar assim do motorista que circulava diante do estúdio?

Posto isto, o Jornal Empoderado conversou comprofessor Juarez Xavier, da UNESP, grande conhecedor da causa negra e de religião de matriz africana. Leia a baixo:

 
 
“Nessas décadas, o movimento negro avançou. Em especial, na conceituação. Aceita-se que preconceito racial está no campo das subjetividades. Na dimensão cultural. Ideológica. Portanto, pode ser superado com políticas públicas. A lei 10.639/03 nasce com essa missão.
 
Ao ensino sobre a África e os africanos e africanas dissolvem-se os preconceitos, com argumentos racionais. A discriminação racial é a segregação. O apartheid. A exclusão compulsória do negra em áreas de prestígio e projeção social. Na Universidade.
 
Nos melhores postos de trabalho no mercado e no estado. A da reserva de vagas em universidades públicas e concurso de serviço público para pretos e pobres faz parte do esforço de superação da invisibilidade social.
 
Já o racismo é a soma do genocídio, etnocídio e epistemicidio. Ele implica os altos índices de morbidade da população negra. Particularmente, jovens. Nesse cenário abrasivos, o cuidados é regra.
 
Principalmente, para figuras públicas. William Waack tem razão em afirmar que uma piada infeliz, de cunho racista, não é racismo. Mas o alimenta, esqueceu de dizer. Nem a declaração de Glória Maria o redime. Porque, no Brasil, não basta não ser racista, e preciso ser anti racista, segundo Angela Davis. Os corpos negros foram educados pela violência.
 
Isso implicado um baita esforço de controle pessoal e cotidiano das e dos afrodescendentes. Essa carga, para a superação da indignidade do racismo, não pode ser só das negras e negros. Precisa ser compartilhada, para a supressão do pensamento da supremacia branca, pelos anti racistas. Uma boa forma de começar o letramento da diversidade é pensar antes de falar.
 
E se falar, se corrigir. Boas práticas da educação permanente anti racista criam uma ambiência salutar para o debate, a reflexão e a luta efetiva contra o racismo no país.”.

 

NOTA

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