O inicio: Representatividade!
Antes de tudo, agradecemos ao Durval Arantes e Ana Paula Evangelista, do grupo Intelectualidade Afro-brasileira, que fecharam uma sessão só para que negros e negras pudessem ver o filme do Pantera Negra, no Shopping Eldorado, sala 5. Um fato histórico que contou com a ajuda do Cinemark e da Marvel Studios. Foi lindo ver a cada cena a emoção do povo preto (a). Em especial as mulheres que deliravam com o empoderamento feminino do filme.
Atenção, tem spoiler
Assim que comecei a escrever fiquei em dúvida se escreveria para pessoas não negras que ainda não entendem a luta das pretas (os), e que acham engraçado usar black face, que fazem a piada ou dizem que fazemos mimimi quando exigimos algum direito. Ou poderia ser para os “meninos e meninas” que hoje passaram dos 30 anos de idade e que não tiveram na infância bonecas pretas, games com protagonistas negros(as), filmes com negros em papeis que não fossem estereotipados e, que hoje brilham os olhos e se emocionam ao saber que não somente existe herói negro, e sim, um Rei Negro e Guerreiras Negras, de Wakanda.
O filme do Pantera Negra responde uma pergunta que minha mãe e, acredito que muitas mães, não souberam responder por décadas. Onde estavam as bonecas negras?
Cadê as Paquitas negras? As bailarinas do Faustão sambam porque só tem uma preta? Cadê os técnicos de futebol negros? Por que negro só é retratado nos filmes como bandidos e as negras nas novelas são secretarias do lar (empregadas)? Se tem negro funcionário ppúblico e negra dona de empresa e jornalista, por exemplo? Resolvi falar para todas essas pessoas. Pois esperamos muitas décadas para nos vermos de forma representativa e que fizéssemos jus a nossa linda história africana. Por mais que falássemos da nossa ancestralidade, indicávamos livros como do professor Carlos Machado: Gênios da Humanidade: Ciência, tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente, ainda percebíamos a dificuldade da pessoa não branca e até alguns negros entenderem o quão importante é para história o povo negro. Agora apareceu um filme da Marvel para ajudar nessa tarefa.
E mais ainda. O filme foi tão importante que, além desta linda ação do Durval Arantes e da Ana Paula, tivemos Snoop Doog levando crianças para ver o filme nos Estados Unidos e vaquinhas online pipocando para levar inúmeras crianças carentes para ver o filme ao redor do mundo. Por quê? Por representatividade. Você branco (a) que se olha no espelho quando vê uma televisão, filme, compra uma boneca ou vota no político da sua cor, agora talvez entenda por que no fim do filme o menino olha com esta admiração para aquele negro(Pantera) na frente dele.
Outra questão importante do filme é que ele abre uma porta (que não deve ser fechada) para discutir e exigir que não aceitemos mais papeis coadjuvantes ou filmes que só nos coloquem em papel de servidão e ou na briga de bandido e policia.
Demorou quase 30 anos para ver a resposta da pergunta que minha irma negra fez a minha mãe o por de não ter “referencia negra”(boneca preta) e hoje foi respondido: Estava em Wakanda!
Nota: O Pantera Negra foi criado em julho de 1966, nas páginas da HQ Fantastic Four #52, Pantera Negra, o primeiro super-herói negro dos quadrinho faz jus a expectativa criada em trono de seu filme.
Sobre o Filme:
Os dilemas
Ser Rei e ser Super-herói, Tecnologia e ancestralidade, abrir Wakanda e preservar sua história ou abrir para mundo e usar sua tecnologia para salvar o mundo e expor seu país. Esses são alguns dilemas que T’chala irá tratar. Um filme que fala de legado, família, ancestralidade, Ideologia politica, lealdade, tradição, natureza, visão de futuro e tecnologia de ponta. Não é um filme de um fantasiado batendo em bandido, é um filme de um Rei com momentos de herói.
Um filme que fala de origem sem ser chato. Um filme que fala para negros, mas a pessoa branca não passa batido, ela sente a importância do universo negro(a). Ela se incomoda e creio que até entende algumas das nossas lutas. Confesso, este filme merece os textões que irão surgir.
Os Vilões
Garra Sônica (Andy Serkis) é um Coringa. Uma pena ter morrido. Confesso que fiquei chateado com sua morte. Ele me lembrou o Coringa do Batman. Fará falta.
Erik Killmonger (Michael B. Jordan) é o maior vilão da Marvel. Ele também lembra o Coringa quando questiona a natureza do certo ou errado para T’chala. Ele também quer salvar o mundo, só que da forma dele que [e acreditando mais nas ideias praticas dos Panteras Negras, que na forma pacifica do Martin Luther King Jr. Faço campanha que revivam ele. Já que este expediente foi feito com tanto herói (chato) nos quadrinhos (hehe).
Mulheres Fortes
Nada de moças indefessas ou apenas sexy simbols, as donzelas submissas ou que são apenas adornos a espera do príncipe encantado. Não! Aqui a história é outra. O filme mostra mulheres fortes, sagazes e lideres guerreiras, além de gênias tecnológicas como: Shuri (Letitia Wright), a inteligente , que é o alivio cômico , sem ser chata. Ponto para Marvel. Continuando, ela é uma das minhas personagens preferidas. E já pensando no universo Marvel/Vingadores adoraria vê-la assumir a vaga do Tony Stark, o Homem de Ferro. Já que o Robert Downey Jr. não mais fará filme dos Vingadores. Shuri é uma gcientista, mulher forte e negra. Quer mais?
Outro exemplo de liderança vem de Ramonda (Angela Bassett). Ela é a mais uma que ocupa cargo relevante, algo normal na cultura africana. Sua influência é notável, sua liderança respeitada e seguida. A conselheira que T’chala ouve e segue.
De todas as grandes guerreiras a que mais me cativou, não só no filme mas no Universo Marvel, foi a Okoye (Danai Gurira), Vamos resumir assim: ela é máquina de combate de Wakanda. Lidera um grupo de mulheres guerreiras e unidas. É emocionante a cena delas lutando juntas. Queria ser amigo dela (risos).
Nakia (Lupita Nyong’o) é a 007 negra. Como é bom ver a Lupita atuar. Concordo com a Lupita Nyong’o quando diz que adora filme baseado em quadrinhos, mas Pantera Negra é um filme sobre “afirmação de identidades”.
A Tribos e a Cidade
Para quem lê quadrinhos ou simplesmente assistiu todos os filmes de Thor e ainda se pergunta se Asgard é só aquele castelo ou uma cidade, a população só serve para correr quando a cidade é atacada? Ou por que só se da ênfase na realeza? Esqueça isso, pois em Wakanda, a cidade tem vida, as pessoas comuns tem importância e não somente a realeza. Duvida? Veja a cena de guerra em que é perguntado quem deseja lutar pelo trono do rei e conheça rapidamente as cinco tribos de Wakanda. Coisa que Asgard demorará um século para nos ensinar.
Pantera Negra
Chadwick Boseman, como Pantera Negra, nos deu mais que o personagem, nos deu alguém em quem confiar num conflito de nações. Alguém que Wakanda e o povo preto do mundo podem confiar. Eu queria T’chala presidente do Brasil.
“Cada manifestação de luta ou dança a que éramos apresentados vinha todo um histórico acerca do que cada atividade daquela representa para a cultura africana”. – Boseman, o Pantera.
Direção do filme
Nate Moore, produtor-executivo da Marvel, merece milhões de aplausos. Um filme que fala de raízes africanas, com tecnologia que não atrapalha o enredo e uma direção que nos faz entrar na historia. Que filme!
Cota
Martin Freeman (o agente Everett K. Ross, um operativo da CIA) foi o preto no filme branco, só não morreu no inicio. Fez um papel discreto como deveria ser e conseguiu não ser “o branco chato” como ele tinha medo de ser visto.
Cenas pós-credito mostra que lado T’chala está
A frase do Rei T’Challa na ONU: “Os tolos constroem barreiras. Os sábios constroem pontes”. A melhor cena pós-credito do Universo Marvel. Um tapa na cara para o presidente Trump que fala em criar barreiras ao invés de incluir povos. E mostra que um “pais de terceiro mundo” pode ser a nação que vai ser protagonista do mundo.
Por fim!
Um filme de negro para negro. Que traz o DNA africano no sangue e no roteiro e fala de um povo que é guerreiro e, até hoje, luta para ser respeitado, pois somos a história da humanidade. Coloca de forma sublime o legado que deixamos no mundo e, como poucos filmes, reforça a nossa essência e o orgulho de ser negro(a). Nossas raízes, nossas crenças e costumes. T’chala é mais que um homem numa fantasia prendendo bandido, ele é um Rei, ele é o Pantera Negra.
O filme trata com muita inteligência e humor o espaço de fala preta(o) e traz a tradição medicinal dos nossos ancestrais. Um filme que fala como nos unirmos por um bem maior, onde cada um dando o seu melhor em prol de um objetivo comum: O bem estar do coletivo, do povo!
Ao fim do filme uma lágrima caiu de orgulho, visibilidade e Empoderamento.
Nota de extra: Jack Kirby e Stan Lee, muito obrigado pelo que fizeram para quem ama quadrinhos. E para quem não conhecia o Universo Marvel/ Pantera Negra, Wakanda é mais uma pintura destes dois gênios.
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