A virada histórica do Palmeiras em cima do Peñarol na Taça Libertadores teve capítulos memoráveis – e ao mesmo tempo lamentáveis – após o apito final. A confusão se iniciou com uma discussão de Felipe Melo, que chegou a agredir um adversário com um soco, fazendo jus a fala de que “daria tapa na cara de uruguaio”.
Os bastidores da noite da última quarta-feira (26) ainda reservariam muitas emoções, além daquelas já vistas dentro de campo. Enquanto Felipe Melo fugia do que poderia ser um “linchamento uruguaio”, as torcidas se debatiam e a polícia local demorou para tomar uma atitude extrema.
Claro que o episódio colocou Melo como um herói alviverde na atual campanha continental. Com seu jeito autêntico, o meia já escreve seu nome na história palmeirense ao se entregar de corpo (literalmente) e alma pela equipe. No entanto, a agressão pode lhe causar um problema. Aliás, tudo o que houve em Montevidéu pode ser um problema, não importa para que lado.
O que ainda viria a ser um grande episódio dessa partida seria a entrevista coletiva do técnico Eduardo Baptista, que se mostrava alterado ao comentar algumas informações veiculadas na imprensa brasileira.
Para ser mais exato, Baptista comentou uma informação veiculada pelo jornalista Juca Kfouri, em seu blog no site UOL, onde Kfouri comentou que Róger Guedes teria discutido com o treinador após saber que ficaria no banco na primeira partida contra o Peñarol, no Allianz Parque. Para minimizar o atrito, o diretor de futebol Alexandre Mattos convenceu Baptista de escalar o jogador no jogo com a Ponte Preta, pelo Paulistão. Róger foi titular na partida pelo estadual.
Visivelmente alterado, Eduardo comentou sobre a informação e criticou a informação veiculada, enfatizando que exige respeito por parte do jornalista.
“Sou um cara educado e respeitador. Vocês estão no dia a dia e respeito. Mas colocaram algumas coisas sobre a minha pessoa que vai além do campo. Além da parte tática, sobre se substituiu mal. Isso respeito. Escutei de uma pessoa importante, um cara que admiro e sou fã há muito tempo. Falar que o Róger Guedes jogou contra a Ponte Preta porque o Mattos escalou e que sou um treinador maleável. Sou um cara muito sério. Batalhei para estar aqui. Exijo respeito”, disse o técnico.
Baptista ainda questionou a informação veiculada e pediu responsabilidade dos profissionais ao questionar o trabalho dos treinadores brasileiros.
“Essa pessoa não falou quem era a sua fonte. Eu sou responsável. Vou falar minha fonte. Willian não jogou depois do jogo da Ponte Preta, foi treinar quatro horas antes do jogo com a Ponte. Por isso não jogou e resolvi pelo Róger Guedes. Se cobrou tanto estudo dos treinadores depois de 2014. Vários estão surgindo. Os técnicos estão estudando. As pessoas que colocam isso precisam ter responsabilidade. Fala a fonte que disse que eu saí de mão com o Róger. Pode questionar substituição e escalação”.
Em entrevista à ESPN, Juca Kfouri entende o desabafo e mantém a informação que publicou em seu blog. Kfouri disse ainda que o jornalista pode preservar o sigilo de sua fonte de acordo com o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (Art. 8), mas se esquece de ouvir os dois lados da informação antes de publicar uma notícia, indicado nos artigos 14 e 15 do mesmo Código de Ética.
Parece que o futebol brasileiro vive de polêmicas. Enquanto uma vitória heroica é deixada de lado, o futebol vive de escândalos, fontes não informadas, notícias mal apuradas e distorções de fatos para “agradar” o torcedor e cutucar o profissional. Mesmo com a crise instalada no jornalismo, alguns profissionais parecem “esquecer” o princípio da profissão. A guerra enfrentada pelo Palmeiras no Uruguai é o resultado de uma informação alimentada no passado e que hoje resulta na pancadaria em Montevidéu. Enquanto buscamos o “tapa na cara de uruguaio”, o jornalismo continua sem nenhuma vergonha de polemizar, produzir sensacionalismo e fica por isso mesmo. Lamentável.