Depois da morte do Papa Francisco, a revista Veja publicou uma matéria intitulada “O legado da simplicidade”. Essa chamada, no entanto, é um reducionismo. É exatamente isso o que muitos veículos de comunicação, particularmente alinhados à direita, desejavam. Ocorre que o Papa Francisco foi uma figura muito popular e ignorá-lo seria impossível – sobre ele, portanto, tiveram que falar.
O Papa Francisco faz lembrar Zoroastro: apesar dos inimigos, era tão poderoso no seu tempo que até os seus opositores tiveram que prestar-lhe reverência. E foi justamente isso o que aconteceu. Por exemplo, Trump e Milei – este último, que o chamava de comunista –, tiveram que viajar para Roma, junto a outros líderes, para o enterro do pontífice.
Mas, finalmente, é preciso discutir com cuidado o seu legado. O Papa Francisco é filho de um outro tempo, e deixou uma herança diversa. Ele viveu a era da polarização, e nunca deixou de expressar o seu lado. Sua Igreja foi, acima de tudo, inclusiva, acolhendo transexuais e até mesmo ateus. Muito mais do que isso, o Papa Francisco defendia uma atitude contínua por parte dos fiéis. Não se tratava da distribuição de esmolas, mas de algo muito mais profundo: trazer, à luz da Bíblia, a utopia do paraíso para a Terra — e não esperar por soluções na eternidade.
E como isso poderia ser possível? Para ele, a igualdade entre os homens não se constrói por esmolas, mas através de uma mudança radical. O nome disso é revolução. E foi exatamente isso que o Papa pediu: “Sejam revolucionários.” Essa ideia se opõe ao assistencialismo hipócrita. Não se tratava de distribuir moedas aos pobres no Natal. Um mundo melhor não se constrói em um único dia.
Pegando carona nessas ideias, vale o esforço de todos nós em construir um mundo melhor, longe de assistencialismo superficial e das aparências. Esse legado está sendo edificado por almas anônimas e iluminadas, dia após dia, nas periferias do nosso país.
Texto: Corisco Moura.
Revisão e edição: Brenda Evaristo.
