Muito se falou sobre o tema. As pesquisas de opinião, que mostram o canditato na liderança das intenções de voto, apontam para dois diagnósticos sobre a nossa sociedade :
O primeiro é que o brasileiro não lê . Aqui incluo jornais, livros de história, revistas. Qualquer coisa. Porque só assim não nos apercebemos do risco que o país corre com a escolha de políticos como Jair Bolsonaro, alardeado pela imprensa seja de direita ou de esquerda
O segundo diagnóstico é que o brasileiro pode não ter bem estabelecido em sua consciência alguns conceitos como o estado de direito e o respeito às minorias e grupos sociais de uma forma geral. Pior que isso, pode não dar a eles o devido valor.
É estranho imaginar que se escolha um candidato com dois projetos de lei de autoria própria aprovados em 26 anos de vida política. No entanto, este não é o tema do artigo. Fala-se aqui do risco que o país corre caso o candidato seja alçado à presidência. Esse risco explica parte da rejeição do eleitorado ao seu nome.
A rejeição por Jair Bolsonaro não tem relação com qualquer alinhamento político. É importante que se entenda isso. A nefasta opção pelo candidato, sabemos todos, muitas vezes se embala na política do ódio. “ Vou votar no Bolsonaro porque a esquerda não quer ele”. Vivemos este contexto alienado. Esquerda e direita estão implicadas na raiz da intolerância. Esta é mais uma confusão do eleitorado. Evitar Bolsonaro não tem relação com opções pela direita ou esquerda. Rejeita-lo é resguardar, preservar idéias caras que o candidato desdenha. A rejeição ao candidato tem relação com um risco ao que o país está exposto com a sua candidatura.
Bolsonaro não é o responsável por todas as mazelas do país. No entanto, defende escolhas arcaicas que levaram o Brasil à esse contexto em que vivemos. Repetir caminhos errados é se aprofundar o fosso. As desgraças, ontem e hoje, se perpetuam pelas escolhas humanas. Pelo voto displicente e equivocado. É coisa que todo o brasileiro sabe. A história conta.
Afinal, por que não Bolsonaro? Vou aqui explicar, substituindo nomes reais por fictícios. Dona Maria, por exemplo, rejeita Bolsonaro porque o candidato acha que os pobres não podem decidir sobre terem ou não filhos. Sua opinião se embasa na afirmação de Bolsonaro de que “ o caminho para a melhora da pobreza é esterilizar os pobres “. Esta, sim, é uma das frases do candidato. Dona Maria diz que tem direito de ter filhos e por isso não escolheria o canditado.
Dona Ana também não escolhe Bolsonaro porque acha que homens e mulheres são iguais. Parece algo óbvio a todo mundo, mas o candidato disse que mulheres deveriam ganhar menos do que os homens. Em outro momento, descrevendo uma função muito simples, disse que “ até uma mulher pode fazer isso”. As referências abaixo apontam as frases do candidato.
O Senhor Anderson, da mesma forma, não escolhe Bolsonaro por ser negro e por ter repugnância pelo passado de escravidão vivido pelo nosso país. Ele, como todo mundo, sabe que o candidato responsabilizou o negro pela escravidão.
Mas, por último, o que faz muita gente rejeitar o parlamentar ( entre as razões descritas e tantas outras omitidas, dada a brevidade do texto) é a defesa cotidiana do candidato do regime ditatorial, mancha incontestável no nosso passado. Bolsonaro chegou a dizer que tem em sua cabeceira o livro de um dos maiores torturadores da ditadura nacional. Recentemente, depois da ampla rejeição de tantas siglas à sua candidatura, elencou um general como vice em sua chapa. A democracia brasileira tem seus problemas, todos sabem, mas a ditadura é o fim da liberdade e do direito político de cada brasileiro.
O argumento de alguns apoiadores do candidato é: Bolsonaro é perseguido. Mas será mesmo que ele não quis mesmo dizer o que disse, tantas e tantas vezes? Por que tanta benevolência e tolerância com seus erros?
Bolsonaro muitas e muitas vezes já disse o que pensa. Com atos e palavras. Ele não merece uma segunda chance. Cabe, sim, ao brasileiro usar essa única chance que tem, a do voto, para escolher opção melhora para o futuro do país.
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-42953883
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/04/20/politica/1461180363_636737.html