Já dizia Ferreira Gullar, falecido há um ano, que “ A arte existe porque a vida não é o bastante”.
É certo que o gosto pela arte mudou nos últimos anos. No século passado a humanidade acompanhou o aflorar da sétima arte, que ganhou destaque na cultura ocidental e ocupou o espaço de outras artes que em tempos anteriores eram preferidas.
A questão que fica é: qual é o papel da literatura na atualidade?
Falar sobre nosso tempo é tarefa complexa. O que se diz sobre hoje contradiz o conceito sobre o ontem e o amanhã. A tecnologia substituiu hábitos há muito arraigados, como a comunicação por cartas, e a leitura de livros e jornais impressos. Se nada disso era imaginado no passado, o futuro se torna ainda mais incerto.
Voltando à pergunta do ensaio, uma das primeiras questões que nos vêm a cabeça é: com todas essas mudanças de comportamento da sociedade, existe lugar para os livros?
Muitos levantaram a questão. Alguns autores definiram a literatura como uma arte fadada a desaparecer. Segundo órgãos oficiais, houve redução da procura por livros nos últimos 4 anos.
Mas, voltando à pergunta, prefiro usar como referência a impressão do escritor Tiago Novaes. Segundo o romancista, vivemos uma época de incerteza. As mensagens de texto substituíram as conversas. Imagens pixeladas substituem poentes e a natureza. O ser humano tende a confinar-se, a trabalhar mais e a duvidar do amanhã. Não há tempo para reflexões e para descanso. As mídias sociais invadem o cotidiano, ocupam cada espaço com conteúdos vazios. Grande é a busca das pessoas pelos centros de saúde para tratamento de sintomas como angústia, tristeza e solidão. Nesse sentido, observando os cacos desse cenário instável, a literatura nas palavras do escritor tem o papel de nos ajudar a enxergar o todo. De forma distanciada, nos auxilia a entender o mundo e nossa relação com ele. Indiretamente, faz com que entendamos nós mesmos.
Esta reflexão política e social se faz imprescindível, pois o oposto dela é alienação. Desta forma, a literatura, bem como as ciências sociais e a filosofia é, entre as artes, talvez a mais importante ferramenta de empoderamento humano.