Pesquisar
Close this search box.

» Post

O maldito coeficiente eleitoral

Em 1982, com 18 anos de idade, votei pela primeira vez. Coincidentemente, eram as primeiras eleições diretas para governadores de estado, após muitos e muitos anos. Junto com a eleição de governador, votei para senador, deputado federal e deputado estadual (para estes cargos já havia eleição direta desde 1974).

Como jovem que almejava terminar o 2º grau e prestar vestibular para Jornalismo, também fui ser “free-lancer” da Rede Globo de Televisão, junto com mais 50 jovens (dois anos depois éramos 100 e apósquatro anos éramos 250), no Anhembi, para conferir, computar e editar para sua central de jornalismo, as contagens dos milhões de votos, em cédulas de papel, que ali era realizada.

Chamou-me muito a atenção o fato de cerca da metade dos candidatos a deputado federal e deputado estadual que obtiveram maior número de votos (e eu via os votos, dia após dia das contagens, com meus próprios olhos), não acabarem sendo eleitos, mas sim outros candidatos que não obtiveram maioria dos votos. Um tremendo absurdo, uma injustiça, uma “roubalheira”, uma tremenda manipulação, imaginou minha cabecinha juvenil. Esbravejei, denunciei, reclamei e percebi que nem os próprios candidatos “lesados” me davam crédito, alguns deles, dos mais diversos partidos, apenas se sujeitavam a me responder: “É assim mesmo, garoto, obrigado pela atenção.”

Porra!,pensava eu, como é “assim mesmo”? Isso está errado! Foi então que, por eu continuar fazendo “barulho” e questionando aqueles resultados e despertando certa atenção por parte de eleitores e de veículos de comunicação, me apresentaram o maldito coeficiente eleitoral, o qual, continua sendo um ilustre desconhecidopara 99% do eleitorado brasileiro, escondido e camuflado que é, por toda a imprensa, pelos partidos (até mesmo de seus novos candidatos) e pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A verdade é que ele é maldito para a população e para mais de 90% dos candidatos que entram na disputa eleitoral, mas é amado por todos os partidos políticos brasileiros, de todas as ideologias, da extrema esquerda à extrema direita, pois lhes permite manusear os números e elegerem cerca de 40% a 60% das vagas nos plenários, para quem eles bem entenderem, dentro de uma complexa norma matemática criada em conluio entre os próprios partidos e com o aval do TSE.

Políticos famosos ou de famílias famosas na política nacional nunca são esquecidos e a maioria dos candidatos conquista milhares de votos para, simplesmente, os concederem aos próprios partidos e suas pérfidas coligações, sem receberem nada em troca, muito menos, a vitória eleitoral que, muitas vezes lhes é conferida nas urnas, em números absolutos, em votos reais.

Ou seja, não é o povo brasileiro quenão sabe votar, como se alardeia por aí, é o TSE que não sabe “contar” e diplomar os candidatos que obtiveram mais votos individualmente.

Um caso clássico ocorreu nas eleições municipais da capital paulista, no ano 2000. Certo candidato recebeu cerca de 72 mil votos nas urnas, alcançando o 3º lugar entre milhares de candidatos. E, pasmem, não foi eleito. Mas, no mesmo pleito, candidatos com 2 mil, 3 mil e 5 mil votos, que estavam centenas de posições atrás dos 55 primeiros colocados (número de vagas a serem preenchidas) foram eleitos. Toda esta anormalidade antidemocrática, num país que se diz democrático, devido ao coeficiente eleitoral.

Vou continuar denunciando o maldito coeficiente eleitoralaté morrer. Provavelmente não alcançarei êxito algum, mas enquanto isso não for exterminado da política brasileira, nosso país nunca progredirá politicamente e jamais será uma democracia plena.

Gracindo

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

» Parceiros

» Posts Recentes

Categorias

Você também pode gostar

plugins premium WordPress

Utilizamos seus dados para analisar e personalizar nossos conteúdos e anúncios durante a sua navegação em nossos sites, em serviços de terceiros e parceiros. Ao navegar pelo site, você autoriza o Jornal Empoderado a coletar tais informações e utiliza-las para estas finalidades. Em caso de dúvidas, acesse nossa Política de Privacidade