Bate-papo com Luka Franca e Alê Almeida, organizadoras da “Marcha”:
O Jornal Empoderado perguntou a algumas mulheres: Como é ser mulher negra no Brasil hoje? Como educar o homem machista?
Eliana Frazão, educadora, Carapicuiba/ SP
Ser mulher negra no Brasil hoje é ainda conviver com o modelo estereotipado: a mulher quente, as instáveis, as braçais.
Desconstruir esse imaginário é uma batalha diária, onde temos que provar que somos mais que peito e bunda, que somos seres intelectuais e capazes, que somos fortes por que na maioria das vezes é nossa única opção.
Outra batalha é manter nossa auto estima, quando constantemente vemos todos modelos de beleza serem escalados menos o nosso.
Resumindo, ser mulher negra é estar em constante busca por espaço e por respeito.
Como educar o homem machista? Bom, eu acredito que o machismo assim como o racismo é estrutural. É necessário desconstruir a mentalidade de superioridade que está tão enraizado nos homens. Os homens devem aprender a ver a mulher com igualdade. Tudo que um homem faz a mulher também faz, o que diferencia são as oportunidades.
Silvia Alves de Sousa,Profissão: Atriz e moradora da região do Sacomã/Zona Sul
Ser mulher negra do Brasil é muito complicado pois temos uma dupla jornada de trabalho, pois seja no trabalho com a família e no convívio social temos que estar a todo o momento provando que nos somos seres humanos e desejamos que nos valorizem.
No meu caso atualmente sou atriz mas antes trabalhei no setor publico onde trabalhava na área administrativa.E para quem era de fora eu era considerada apenas uma funcionário na área de serviços gerais (como faxineira). Não que seja uma profissão indigna, mas o que outros pensam da gente devido ao nosso fenótipo. Para eles nunca temos a capacidade de cursar uma faculdade realizar cursos extracurriculares, mestrado doutorado então para um negro é motivo de ironia.
Ter uma casa de bairro um pouco mais sofisticado e passa na portaria para (eles) você é um serviçal e não uma moradora.
Quando entrei na Faculdade chegava na portaria e era considerada apenas um serviçal e nunca uma aluna na faculdade onde cursei Administração de Empresa onde era bolsista pela Educafro e agradeço pela oportunidade sendo a única mulher negra dentre uns 28 alunos na classe.
No teatro sou a única negra dentre as dezoito do elenco sendo que diretor selecionou negros na peça mas enfim são tantos os problemas que acontecem com o negros e somos impossibilitados a continuar, seja problema no trabalho, doenças e assim em diante.
Ser negra num País preconceituoso não é nada fácil .Ficamos a cada dia doentes pois as nossas preocupação são diferentes das outras mulheres brancas. Adoecemos muito devido a carga mental que a sociedade brasileira nos empoem e faz com que abaixemos a cabeça e falemos amem para eles mas nos negros temos que saber a todo momento levantar a cabeça e (dar a volta por cima).A atenção a mulher negra em todas as questões principalmente na área da saúde teria que ser diferenciada pois o nosso sofrimento é a cada dia sofrido pois adquirimos doença psicossomática que não deveríamos ter pois infelizmente a saúde da mulher negra nos meios da área esta a cada dia depravada .As consultas medicas são rápidas os remédios são os mais fortes e o atendimentos e nas maternidades a taxa de esterilização são mais altas em comparação as mulheres brancas.
“Vou para por aqui pois a vida das mulheres negras se torna um texto em vez de um linha”.
Mariana Aparecida da Silva Santos. Profissão: Assistente Social. Região de moradia: Extremo da zona sul da Cidade de São Paulo(Grajaú)
Nilza Camillo funcionária pública,gestora de pessoas,empreendedora social,líder de coletivo partidário FFB,Moro em Guarulhos/ Cumbica
54% da população brasileira é negra.Deste 51% da população que mora em favelas são de MULHERES negras,chefiam seus lares e possuí a renda menor que uma mulher branca e menor que o homem. Resumindo acabam tendo que se virar para levar o sustento de seus filhos se destacando como maiores empreendedoras. Além disso ocupa o maior número de cadeiras nas universidades públicas e particulares através do programa de cotas.
A democracia só será plena com maior número de participação das Mulheres em todas as esferas e cargos de Poder.Para diminuir com machismo o homem deve ter maior participação da vida ativa da mulher,a legislação tbm deve ser revista,tem que ter o mesmo nível de RESPEITO,o machismo NÃO vitimiza só a mulher,a mulher pode ser o que ela quiser e aí sim liberdade de escolha.
Eu sou Elaine Souza, formada e pós-graduada em Direito, enamorada desde sempre pelas panelas, então a dois anos troquei os livros pela batedeira e ao invés de me tornar uma doce advogada virei uma boleira justiceira. Minha empresa é a Batuque na Cozinha e faço eventos corporativos. Faço parte da marcha mundial das mulheres e também da Associação de mulheres da economia solidária, e nas horas vagas eu durmo. Moradora da Vila Prudente/Zona Leste de SP.
Ser mulher negra no Brasil, é saber que quando o sol levanta temos que estar prontas para correr.É saber que se o homem tem que matar um leão por dia o negro tem que matar dois e nós temos que matar três.É saber que mesmo nas adversidades temos que ser fortes, mesmo doente, triste ou fracas temos que colocar um sorriso no rosto pra dizer ao mundo que está tudo bem quando estamos morrendo por dentro. É ver nosso homens negros nos trocando por mulheres brancas e ter que ouvir que amor não escolhe cor mesmo sabendo que o amor é antes de tudo uma escolha de vida por uma companheira que entenda como é ser negro num País que nos nega tudo e que temos que fazer valer nossa presença em todo e qualquer local. Ser mulher negra no Brasil é encarar cara espantada quando você fala que é pós graduada e entende de leis, Ser mulher negra no Brasil é saber que as oportunidades nunca nos serão dadas e que teremos que lutar pelo que queremos e nos irmanar umas com as outras.
Como educar o homem machista? Sendo uma mãe feminista. Como diz minha mãe pau que nasce torto, morre torto ou (eu acho) se endireita sozinho no balanço do vento. Os homens são criados por mulheres somos nós que queremos o mundo menos machista mas nos esquecemos que começa em casa…o filho brinca a filha lava a louça o filho estuda a filha estuda e limpa a casa, o filho sai com os amigos a filha tem que se preservar. Sabe a musica como nossos pais? Pois é nada mudou até agora. Muitos homens estão percebendo que não ganham nada sendo machistas, mas a maioria ainda acha que a mulher nasceu para servir.
Para estes eu não entendo que precisem ser educados, pelo menos não por mim, porque machismo não se cria em mulheres fortes que sabem seu valor. Sou uma dessas, eu ralo pra ter tudo o que conquistei e o que pretendo conquistar então não abaixaria a crista para um homem que se achasse no direito de levantar que fosse a voz que dirá a mão para mim….Sei que muitas mulheres talvez me recriminem por esta resposta, mas é notório a mulher que apanha é a mesma que cria o filho pra ser o machão da casa, como querer mudança se ela não começa na base que é o lar?
Kátia Cristina da Silva Neves, Cirurgiã- Dentista moradora do Bairro do Tatuapé
Ser mulher negra é enfrentar e combater o racismo no Brasil duplamente. É saber que a mulher no Brasil a anos ocupa a maioria das profissões antes no passado preenchidas somente por homens. E mesmo assim, receber bem menos do que os homens imaginam ser Mulher e Negra .
Uma das melhores formas de educar o homem machista é através de conscientização desde a infância e nas escolas promovendo a igualdade de gênero e também de etnia.