Silvia Cristina Vitorino (41), relatou ao Jornal Empoderado (JE) que sofreu vários episódios de racismo no supermercado Nikkey, que fica na avenida Cupecê, em São Paulo. Sendo que a última vez que foi perseguida por um segurança no local ela chamou a polícia com a intensão de dar um basta nessa situação vexatória. Ela frequenta o supermercado desde a infância.
Casada e mãe de uma menina de 5 anos, Silvia mora na da Cidade Ademar, Zona Sul de São Paulo e disse que acompanhou, ao longo dos anos, o crescimento do estabelecimento, ou como ela diz: “era um mercadinho pequeno, que aos poucos foi crescendo, hoje tem até um sistema de câmeras e seguranças.”
A vítima afirmou que, ultimamente, quando entra no supermercado Nikkey para fazer compras, tem um segurança que empre a segue. “Nos últimos tempos notei que todas vez que entrava no mercado o segurança moreno baixinho, ficava me perseguindo por todos os corredores, e isso começou a me causar um constrangimento.”
Silvia detalhou as duas últimas situações de constrangimento que passou no mercado Nikkey:
“No último dia 08/07 estávamos eu, meu esposo e minha filha ele [o segurança] agiu da mesma forma, nos perseguindo por todos os corredores enquanto fazíamos nossas compras e até comentei com meu esposo, mas resolvi não questioná-lo, pagamos e viemos embora.
No dia 13/07, um sábado, por volta das 13h30, eu fui com minha filha ao mercado e notei novamente que ele estava me perseguindo por todos os corredores, fiz as minhas compras, paguei e quando estava saindo do mercado ele veio me acompanhando.
Foi quando resolvi questioná-lo do porque ele estava tendo aquela atitude comigo, haja visto que não era a primeira vez e o mercado tinham câmeras, ele bem rispidamente me respondeu que o problema era meu, eu respondi que o problema não era meu porque racismo é crime e que iria acionar a polícia, ele deu de costas e saiu com um tom de sarcasmo, ciente da impunidade, duvidando de minhas palavras, liguei para o 190 e relatei que estava sofrendo um ato de racismo.
Ele permaneceu no mercado e eu chamei meu esposo para ficar comigo até a chegada da polícia.
Quando os policiais chegaram eu contei o fato e o policial me pediu para ficar do lado de fora do mercado que tem apenas uma entrada e saída.
Me senti coagida, haja visto que todos os policiais eram brancos e me olhavam como se eu não tivesse o direito de reclamar por ter sofrido racismo.
O policial entrou no mercado e os demais ficaram do lado de fora junto comigo.
Quando resolvi fazer um vídeo para expor o que estava acontecendo a policial me abordou e de forma rude e disse que queria ver o vídeo porque eu não tinha o direito de filmá-la.
Eu respondi que sabia como as coisa funcionam neste país e tinha feito apenas o vídeo com a minha imagem e a imagem do mercado, mostrei o vídeo para ela ter a certeza que continha somente a minha imagem.
Uma cena terrível pois tive certeza que eles não estavam ali para me ajudar e sim para me coagir a não seguir com a minha reclamação.
Enfim, o policial saiu do mercado e veio conversar comigo, ele disse que não localizou o segurança, eu questionei que ele estava sim lá dentro, porque estávamos a todo tempo na única porta de entrada e saída, ele respondeu que ele tinha saído e conversou com outro funcionário que disse que foi um mal entendido, eu respondi que racismo agora era interpretado como mal entendido, eu questionei se ele poderia ver as imagens das câmeras de segurança e comprovar tudo o que eu estava relatando, policial me disse que somente com ordem judicial, me orientou que eu fosse até uma delegacia e perguntou se eu tinha um advogada para me ajudar, era esse o caminho que eu deveria seguir para continuar com minha reclamação, neste momento entendi que além de todo o constrangimento que eu tinha passado a polícia não ia me ajudar.
Peguei minhas compras e vim embora eu chorei muito porque é uma dor imensurável, pelo simples fato de ser uma mulher negra eu não tenho o direito de ir ao supermercado fazer compras, desde de então tenho crises de insônia,choro a todo momento quando me recordo de toda a situação,marquei até uma consulta com o psicólogo para me ajudar a lidar com toda essa situação.
Porque fazer justiça é um caminho árduo de muitos obstáculos, como sou uma mulher preta que não tenho condições de contratar um advogado para me apresentar, tenho ciência que apenas o BO não é suficiente para que a justiça seja feita.”
Silvia não tem assistência jurídica e, mesmo devastada pelas violências que sofreu, está determinada à proseguir com a denúncia. “Eu quero justiça, pois racismo é um crime, que fere, que mexeu com a minha integridade e auto-estima.”
No Brasil o racismo é considerado um crime hediondo! O Conselho do Ministério Público descreve o que é crime hediondo. “Em Direito Penal, é um adjetivo que qualifica o crime que, por sua natureza, causa repulsa. O crime hediondo é inafiançável e insuscetível de graça, indulto ou anistia, fiança e liberdade provisória.”
Outro Lado
Ligamos várias vezes e não conseguimos falar com responsáveis do Supermercado, até o fechamento da matéria.
Imagem de capa: divulgação.
Revisão e edição: Tatiana Oliveira Botosso