As ocupações, que o senso comum medíocre e desinformado chama de ‘invasões’, é resultado do descaso total do poder público para com o problema habitacional.
Morar é um direito fundamental e reconhecido como constitucional. Ou seja, todo contingente populacional que não tem onde morar está sendo lesado.
A propriedade deve cumprir sua função social. Isso também é constitucional. Há centenas de imóveis vazios e abandonados espalhados pelo centro da cidade fruto da omissão do poder público. E se essas duas coisas não se concretizam como deveriam só resta uma alternativa: ocupar e resistir. É nojento culpar a vítima pelo erro que é do poder público.
E acho mais nojento ainda, quem tá acomodado no confortinho de sua sala, vomitar uma indignação burra, diante de tragédias como essa, sem ter o mínimo de empatia e conhecimento sobre o que está falando. Até por que, nada impede que amanhã seja você a pessoa que não tenha um teto para morar.
Acha impossível? Então você é mais alienado do que parece. O culpado por essa tragédia está “ocupando” um cargo público sem cumprir com sua obrigação de garantia de direitos aos mais pobres e vulneráveis. Esses são direitos fundamentais reconhecidos pela nossa Constituição Federal. A situação de falta de moradia mostra que esse governo ilegítimo que ai está não tem algum comprometimento com as causas sociais.
Já mostraram isso quando tentaram forçar a reforma da Previdência assim como a reforma trabalhista que só prejudica os mais pobres. O mais duro é ver que quem deveria estender a mão joga pedra, quem deveria ser a solução aponta dedos e cria outros culpados. Foi assim que fez o atual governador de São Paulo, o senhor Márcio França.
Isto exemplifica o que tem sido timidamente discutido no Brasil: a política de drogas como criminalização da população preta e pobre. França tenta insinuar que ali no prédio que desabara era quase uma dissidência da Cracolândia. Além de afirmar que o local era usado também para prostituição.
Ideia também do seu “amigo de partido”, João Dória, o mesmo que invadiu e usurpou um terreno público anexo ao seu já milionário terreno.
O estado de São Paulo está entregue a um (novo) governador que usa dos artificio de sempre: culpar as vítimas pelo descaso da sua classe política. Ou seja, usa de argumentos preconceituosos, misóginos e racistas pra justificar a incompetência e descaso do governo tucano que ficou décadas no poder e nada fez de efetivo.
Na mentalidade dessa gente que sempre rogou por privilégio e que “ocupa” o poder público, se tem “drogado” e “prostituta” pode queimar…
Qual é a cor dos drogados? Qual é o gênero das prostitutas? É por isso que quando falamos em [desigualdades] precisamos falar em estruturas sociais históricas e mais do que nunca, a gente precisa entender que o maior problema do nosso país não é exatamente a corrupção e sim a desumanização e coisificação de pessoas, bem como a banalização das tragédias sociais, como não ter onde morar, por exemplo.
Quando morar é um privilégio, ocupar é um direito.
SAIBAM QUE:
- Quanto oportunismo da imprensa e do governador em tentar desviar a atenção da tragédia culpando as vítimas pelas suas condições irregulares de moradia. Ora, a ausência de uma política estadual de Habitação, a opção por fazer sorteio e fila com o direito à moradia e a priorização ao atendimento de servidores públicos em políticas habitacionais são as marcas do governo do Estado quando se trata de moradia digna.
- A FLM não cobra “aluguel” em suas ocupações.
Os moradores de ocupações coordenadas pela FLM são orientados a realizar assembleia para definição de taxa de contribuição para manutenção do prédio. Inclusive, para despesas com segurança, como: extintores, mangueiras e manutenção elétrica são realizados com estes recursos. Colocar isso em pauta, neste momento, é de uma baixaria e sensacionalismo imensuráveis. Canalhas!
- Da luta não nos retiraremos e do povo não nos separaremos. Nunca passamos por situação de tragédia semelhante. E, por isso, neste momento defendemos a importância de valorização das organizações populares. Não sabemos de tudo, não podemos resolver tudo, mas a experiência coletiva deve contar no apontamento das direções a serem seguidas.
- Por fim, não acredito na versão de briga de casal que tenha sido responsável pelo início do incêndio. Devemos todos cobrar o laudo final. E, na ausência deste, não hesitar em afirmar que trata- se de uma ação criminosa com objetivos claros de intensificação da política de higienização do centro da cidade. Toda solidariedade aos moradores da ocupação!