A Faculdade Zumbi dos Palmares, região central de São Paulo, recebeu o evento de lançamento de mais uma iniciativa da Mauricio de Sousa Produções e dessa vez quem recebe uma repaginada é o personagem Jeremias.
A escolha do Jeremias veio para tocar em um tema que ainda causa incômodo, mas precisa ser debatido, falado: o racismo institucional. Trabalharam nessa revista o roteirista Rafael Calça e o desenhista Jefferson Costa.
A nona arte, como são chamados os Quadrinhos(HQ), mais uma vez contribuiu para debater temas sensíveis a população negra. Assim como já o fez “Orixás”, de Alex Mir, Heroi, de Regis e mais recentemente o filme “Pantera Negra”, baseado também em HQs.
A Graphic Novel vem colocar novamente o dedo em uma ferida aberta. Trata-se de um jovem negro aprendendo desde cedo a conviver com a indiferença, preconceito e invisibilidade.
Mauricio de Sousa mostra por que é um gênio a frente do seu próprio tempo. Senão bastasse outras obras como Monica – Força, Bidu – Juntos, Chico Bento -Arvorada, Papa-capim. Noite Branca – Volume 1, Astronauta – Assimetria, Capitão Feio – Identidade, Penadinho – Vida: 7, Turma da Mônica – Lições: 8, Turma da Mônica – Lembranças , Turma da Mônica – Laços: 1 e agora ele faz sua equipe dialogar e desconstruir o papel secundário do Jeremias. Mais de 50 anos depois da sua “estreia” ele se torna o personagem principal em uma revista solo,
Sim, Jeremias nunca teve sua própria revista. Mas sua estreia chuta a porta deste Brasil hipócrita. Foi magistral!
Se Pantera Negra mostra que podemos e juntos somos mais fortes, Jeremias-Pele mostra como ser jovem negro(a) no Brasil.
E como bem lembrou Sidney Gusmam diferente do Bairro do Limoeiro onde todos são amigos (as) e tudo funciona muito bem, na vida real as pessoas negras sofrem e muito. Seja pelo cabelo que usam, nariz que possuem ou até a forma de falar são motivos de discriminação e piadas.
A HQ mostra que mesmo sendo fortes e, devemos ser, não estamos imunes ao mundo preconceituoso que nos cerca.
Um fato que marcou a vida do Jefferson Costa (escritor) foi quando em uma atividade escolar a professora para facilitar escolheu pelos alunos qual profissão eles representariam. Para alunos brancos a professora escolheu Medicina, Direito ou Engenharia. Para ele, o menino negro, PEDREIRO.
O que estava naquela simbologia é que o jovem negro deveria saber desde cedo seu lugar na sociedade. Sendo assim a população negra hoje toma as rédeas das próprias vidas e viram autores de Graphic Novels, juízes, professores e até constroem JORNAL.
Os dois autores se analisam num divã chamado “Jeremias – Pele”. Eles se acertam com o passado e desconstroem o preconceito de hoje para um amanhã melhor.
As belas páginas desta HQ incomodam e isso é muito bom. Pois se temos obras como essas é porque elas são importantes e necessárias.
A editora deu voz a dois jovens negros e mostra assim, mais uma vez , que tanto Sidney Gusmam, quanto Mauricio de Sousa são visionários, entendem e querem dialogar com o meio que os cercam.
Sidney confidenciou que em breve a turminha do bairro do Limoeiro terá na vizinhança uma família toda preta.
Se ainda não leu corra e compre Jeremias-Pele, pois é mais que quadrinhos é a Nona Arte contribuindo para diminuir a desigualdade que ainda reina no Brasil Escravocrata.
Bora ler mais essa grande obra que de infantil não tem nada!