Resume-se o mês da Consciência Negra, a “Semana da Memória”, para muitos a uma data: 20 de Novembro. Para mim, assim como muitos outros, um exercício de emancipação. Nunca uma comemoração convencional, estática e retórica, que propõem unicamente a evocação de fatos, datas e nomes do passado. Trazendo o evento Kizomba em Palmares como um quilombo virtual, falando de ideias e ideais, referência à cultura, à identidade e a histórias ancestrais.
No imaginário popular é muito comum a associação dos quilombos a algo restrito ao passado, que teria desaparecido do país com o fim da escravidão. Os quilombos são o resultado da ousadia, da perspicácia de um povo que não se curvou diante das dificuldades e das barreiras que pareciam intransponíveis.
O mais emblemático dos quilombos formado no período colonial foi o Quilombo dos Palmares, que resistiu por mais de um século, transformou-se em símbolo de resistência, um marco para além do lugar ou de uma data comemorativa. O quilombo torna-se, então, símbolo de resistência do passado e do presente.
Abdias do Nascimento, político, ativista social, artista plástico, ator, escritor, poeta e dramaturgo, articulou diversas áreas do conhecimento para construir sua teoria sobre o quilombo. “Quilombo não significa escravo fugido. Quilombo quer dizer reunião fraterna e livre, solidariedade, convivência, comunhão existencial”.
O dia 20 de novembro é símbolo das conquistas dos movimentos negros que fazem uma contraposição direta ao 13 de maio, data em que a história oficial tentou, durante décadas, instituir como sendo um momento de liberdade para os escravizados. Porém não reflete uma experiência real de libertação ou liberdade, a luta passa a ser pela sobrevivência, pelas tentativas de integração social, econômica e cultural, pelo direito de existir.
Repensando os atravessamentos, diversidades e pluralidades sobre aquilo que se compreende por ser negro, a produtora cultural e musical DJEMBÊ (@djembeproducoes), desafia o olhar e apresenta uma edição especial do projeto KIZOMBA EM PALMARES.
SILVA&SILVA LULUZINHA BOUTIQUE
DJEMBÊ PRODUÇÕES E ENTRETENIMENTO
Nesta pandemia pelo Covid 19, temos vivido diversos fins do mundo que resultam no apagamento da nossa cultura, o genocídio e o silenciamento. Diante disto a produtora DJEMBÊ propõe uma experiência coletiva, onde tomamos a voz do discurso e requeremos a imagem do quilombo e de Zumbi para nós. Chega o momento do grito.
Grito, que nos leva a formação de mais um quilombo, sua casa, um quilombo que não se define por tamanho e nem número de membros, mas por experiências vividas e versões compartilhadas. Mantendo nossa rebeldia de manter o negro como protagonista, onde não cabe meio-termo.
Como diz Jurema Werneck, feminista negra, médica, autora e doutora em Comunicação e Cultura: “Nossos passos vêm de longe” e é chegada a hora de aquilombar-se, soltar as amarras. Aquilombar-se é, para nós negros, um jeito de ser e estar no mundo. Mas quais são os espaços culturais da cidade de São Paulo, que se autodenominam “quilombos urbanos”, aproximam-se da ideia de “quilombismo”.
Maria Beatriz do Nascimento, pesquisadora, escritora e militante do movimento negro brasileiro, aponta que o “quilombo (kilombo), que representou na história do nosso povo um marco na sua capacidade de resistência e organização” é uma tecnologia africana bantu, seu nome vem de Angola e denomina “acampamento de guerreiros na floresta, administrado por chefes rituais de guerra”.
O sarau “Aquilombar-se”, está presente na programação da Fábrica de Cultura Vila Nova Cachoeirinha, organizado e produzido pelo produtor Fábio Luiz Aleixo, e assume o ato de unir pessoas negras para o diálogo, a valorização da cultura e da memória negra, tornando sua casa um quilombo ressignificado de resistência, através de uma costura entre música, poesia e moda.
As intervenções artísticas tomam corpo nas vozes das cantoras Fernanda Santos (@fernandasantos.cantora), Yabba Tutti (@yabbatutti) e Mana Bella (@manabellassa) e do poeta Júlio César. O projeto Silva & Silva Luluzinha Boutique (@fabianasilva9536) idealizado e sob minha curadoria e da design de moda, Maricleia Cassiano (@soull_negrytta) , traz a moda através do projeto AFRICANIDADE.
No projeto AFRICANIDADE, a confluência entre corpo e roupa se faz presente, através da amalgama entre os tecidos e os corpos, corpos que dão vida as roupas e roupas que se tornam identidade, manifesto, um grito de resistência. Falamos do pertencimento do corpo negro, ancestralidade, memórias coletivas e culturais, da diáspora étnica e da matriz africana, fazendo da moda a mola propulsora como ferramenta de identidade.
As marcas convidadas, além de serem comandadas por afroempreendedoras, utilizam em suas peças tecidos importados de países africanos. Oferecem e criam vínculo de identidade étnica com seus consumidores. As duas marcas elencadas, FEMI (@femi.store2 ), proprietária Fabiana Cássia Silva de Almeida e a MAKIDA (@makidamoda ), proprietária Ignez Bacelar, associam suas produções aos discursos de cultura, descendências e origens. Uma forte vinculação com a etnicidade afro-brasileira é estabelecida através do mito de origem, por consumidores, principalmente jovens, que sustentam a importância da auto-afirmação da estética negra no combate ao racismo.
Mais do que partilharem a mesma matéria prima, essas afroempreendedoras almejam, através da moda, empoderar suas clientes e reforçar a importância de cultura ancestral africana na sociedade brasileira. E de uma maneira não-verbal de enviam a mensagem de orgulho sobre a etnicidade.
Parceria: produtora DJEMBÊ (@djembeproducoes ) e o espaço do CCN- Centro de Culturas Negras – Mãe Sylvia de Oxalá
Corpos Negros (modelos): Marta Souza, Alisson Mesquita, Andréa Cristina, Mana Bella, Luzia Rosa, Ana Claúdia, Valéria Araújo, Leda Januário, Bruna Oliveira e Yabba Tutti.
Sarau AQUILOMBAR-SE, traz essa costura perfeita em um contexto que utiliza a música, poesia e a moda para fazer uma amálgama da cultura africana. Exibição do desfile AFRICANIDADE no dia: 20/11/2020 as 17:00hs, pelo faceboock da Fábrica (https://www.facebook.com/fabricasdecultura/?ti=as ) e o sarau AQUILOMBAR-SE no dia 20/11/20 as 19:00hs, pelo Canal do youtube da Fábrica de Cultura (https://www.youtube.com/c/fabricasdeculturavideos ) .
Em 2021, o projeto Kizomba em Palmares pretende acontecer na íntegra, trazendo a feira afroempreendedora, moda, poesia, música e roda de conversa. Esta última, com o conceito alterado, onde o “debate” abre espaço a “troca”. Para sua realização criou-se a vakinha solidária (contribuição a partir de 25,00 reais), sua contribuição é necessária para elucidar a grandiosidade desse projeto. Um espaço de liberdade e respeito pelos negros, por sua cultura, história e memória, um projeto que coloca o quilombo.
Contribua: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/kizomba-em-palmares-ii-sarau-aquilombar-se