foto : @raiztanaka Modelo: @calianemor@mar_moreno.9
Gostaria de dizer que são quase 20 anos de desfiles nacionais, risos… no auge dos meus 39 anos amando a moda, não tenho 20 anos de desfiles nacionais ou internacionais, mas limito-me em dizer que tudo é uma questão de coerência com o momento. E, acima de tudo, sou otimista, não economizo sorrisos e declaro meu amor, em meio a mulheres negras criando roupas, acessórios e conceitos. Embriaga-me de emoção ao apreciar a força e a garra de nós, mulheres negras, modelos, estilistas, modelistas e costureiras.
No cantinho da imprensa, encontro um ou dois jornalistas e fotógrafos negros na platéia e na mesma, duas ou quatro expectadoras negras apreciando a BOROGODÓ, nova coleção da estilista Kel Ferey, uma mulher negra, estilista e empreendedora.
Kel Ferey
Sempre tento captar algo novo nos desfiles, ás vezes o algo novo ora está na escolha do casting, outrora na maneira como é apresentado ou no cenário para fugir do sabor de déjà vu. Observo o conjunto e depois os detalhes. Tem desfile onde repenso a moda e me emociono. Às vezes assisto um desfile que não tem nada, não tem uma mega estrutura e o lugar não tem nenhum adorno, mas a roupa fala sozinha e fico hipnotizada pela roupa, pela maneira com que são apresentadas. Entristeço-me na maioria deles ao ver que a mulher que usa acima do manequim 44, não esta sendo contemplada, o corpo de boa parte das brasileiras.
No fundo me deixo envolver pela música, namoro o look, o sapato quando aparente, o cabelo, a make, enfim, um raio-x. Sinto falta de um leve passo para a inclusão de corpos fora do padrão da passarela. Sempre espero encontrar pluralidade na passarela como modelos negras, trans, mais velhas e com curvas um pouco mais acentuadas do que as comumente vistas em desfiles. O resultado seria esplendido, mulheres de diferentes biotipos e histórico de vida.
Tivemos bons exemplos de representatividade nas passarelas, Naomi Campbell, Alek Wek e Tyra Banks, desde os anos 90. No lançamento da coleção Borogodó o casting trouxe modelos negras como a : @calianemor e @katycarolla, mesmo como os corpos dentro dos padrões de passarela, mas negras. Muitas são as barreiras de preconceito a serem quebradas, desde os ateliês e desfiles, até as revistas e marcas de roupas que falham na pesquisa sobre referências africanas.
Na sexta feira, 05 , 8ªFashion Meeting SP, recebeu a glamourosa da coleção BOROGODÓ por @loja_kelferey e @rosangela9172 no @fashio, Produção: @fashionmeeting Beleza: @danilodonadeli by @makeupforeverofficial Modelos: @oxygenmodels@daphnemodel @ Styling: @paul_rikes Ateliê : @rosangela9172Acessórios:@store.nati Sapatos: @paulatorresbrand Vídeo filme: @ffelipers, a @melissaoficial esteve presente na composição dos looks maravilhosos com a Coleção Family S/S19, fotografia: @gabrielrenne e direção de Arte e Stylist: @paul_rikes .
Kel Ferey apresentou a coleção “Borogodó” com inspiração nas mulheres brasileiras que tem garra e força das mulheres brasileiras que se tornaram ícones de nossa cultura, sendo elas reais ou fictícias: Chica da Silva, Anita Garibaldi, Maria Bonita, Tiêta e Gabriela foram mulheres que influenciaram o imaginário da sua geração, através da literatura e da televisão. Inspirou-se nas mulheres de sua família cuja ancestralidade é de matriz africana e indígena.
Tais personalidade aguerridas de nossa história possuem uma sensualidade sutil, característica de sua feminilidade. O design marcante, junto com a modelagem fluída, os tecidos leves e tons pastéis, representam essa ambivalência entre a luta e o charme de nossas divas. A escolha das cores “da terra” também foi de influência à Caatinga, Cerrado, Litoral e Pampas – palco das grandes disputas e batalhas dessas mulheres, prevalecendo os tons endêmico desses biomas.
Tal qual nossas heroínas, que enfrentaram as injustiças sociais, Kel Ferey propos fazer a coleção com material 30% autossustentável (batalhando para chegar a 100%). Os tecidos são de algodão e coro reutilizáveis e poliéster reciclável, o tingimento natural. A mão-de-obra é regional, de Arraial d’ Ajuda – Bahia, com a intenção de gerar renda neste local e incentivar a educaçaõ. Arraial, pois, é a terra natal da Kel Ferey, da qual tem muito orgulho, onde as costureiras lhe ensinaram seu ofício e as leva sempre no coração e pensamento enquanto traça seu estilo.
Fotografia: @raiztanaka Modelo: @calianemor
Na tentativa de fazer uma leitura do desfile, recorro ao desafio da Esfinge de Tebas: “Decifra-me ou te devoro”. Onde eliminava (estrangulava) aqueles que se mostrassem incapazes de responder a um enigma: “Que criatura tem quatro pés de manhã, dois ao meio-dia e três à tarde?”. Édipo acertou: “É o ser humano! Engatinha quando bebê, anda sobre dois pés quando adulto e recorre a uma bengala na velhice”.
Uma boa metáfora para um dos principais desafios, a moda. Onde a crescente exigência do consumidor exige das marcas planejamento e investimento na multicanalidade para chegar e encantar. Buscamos (nós, consumidores negros) inspirações que de fato traduzam o que procuramos e que não nos tirem nossa identidade.
Cada consumidor precisa ser decifrado.
Respostas de 2
Fabiana
Q materia gostosa de ser consumida. Q trabalha lindo dessa profissional estilista.
Sonho com desfile nas periferias tb
Este tipo de profissional, com esse tipo de contribuição passa pelo meu imaginário,
Parabéns prla matéria
Obrigado e continue nos acompanhando Ivone!