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Recentemente o jornal El País Brasil publicou uma reportagem sobre como os gurus digitais do Vale do Silício criam seus filhos sem telas. A reportagem destaca que no Vale do Silício proliferam escolas sem tablets nem computadores e jardins de infância nos quais o celular é terminantemente proibido por contrato. Em algumas das escolas as telas só entram quando os alunos chegam ao ensino médio. Um dos pais gurus faz uma declaração forte ao jornal: “se você coloca uma tela diante de uma criança pequena, você limita suas habilidades motoras, sua tendência a se expandir, sua capacidade de concentração” (Pierre Laurent, pai de três filhos, engenheiro de computação na Microsoft, na Intel e em várias startups, atualmente presidente do conselho da escola)”.

No mínimo devemos nos perguntar: por que os pais que mais entendem desse tipo de tecnologia mantêm seus filhos o mais longe dela possível? Eles mesmos respondem: os benefícios para as crianças são limitados, o risco de dependência é alto e “o ritmo vertiginoso em que se transforma dificulta a reflexão e o estudo (pesquisa da Common Sense Media, organização dedicada a ajudar as crianças a se desenvolverem em um mundo de mídia e tecnologia)”.

Steve Jobs, criador da Apple, também proibia os filhos de usar o iPad e limitava o acesso de seus filhos às tecnologias de comunicação e informação. Bill Gates, criador da Microsoft, idem; seus filhos só ganharam celulares quando completaram 14 anos – e nada de celulares na mesa de refeições. Enquanto nossos filhos são criados com telas nas mãos, os filhos dos gurus das tecnologias de comunicação e informação digitais criam seus filhos entre brinquedos educativos de madeira, lousas e hortas.

Mas e quando os pais descobrem que seus filhos, que acessam livremente as redes e espaços digitais viram algo que não deveriam ver?

Recentemente um pânico se instalou entre os pais brasileiros. Mensagens violentas e a ameaça da volta de um desafio que surgiu ano passado estavam invadindo vídeos do Youtube Kids. Talita Figueiredo, pesquisadora do grupo Escritos, jornalista e mestranda em Ciência da Informação, escreveu sobre o assunto e entrevistou Rodrigo Nejm, diretor de Educação do Safernet, associação civil de direito privado que atua na promoção da defesa dos Direitos Humanos na Internet no Brasil para o site.

Pelo WhatsApp, espalhou-se a notícia sobre o aparecimento de imagens de Momo propagando mensagens violentas nos vídeos infantis. “O caso ganhou repercussão com a revelação de uma mãe a uma revista, mas primeiras informações a respeito do chamado Desafio Momo sugiram no ano passado em um viral que se espalhou para diversos países. À época, por meio de perfis no WhatsApp, a personagem ameaçava usuários, estimulava a automutilação e até o suicídio. Com a volta da ameaça virtual, pais se desesperaram em trocas de mensagens nos grupos de escola, gerando aumento exponencial de buscas pelo assunto e ampliando a propagação do tema, que figurou nos trending topics do Google”, explica Talita.

Em entrevista a Talita, Rodrigo Nejm alerta que “as buscas dos pais aumentam a chance de as crianças se depararem com a imagem de Momo”. O especialista também questiona: “se a criança não vai à escola sozinha, não brinca na pracinha desacompanhada, por que ela teria acesso à rede sozinha?”

Nejm esclarece que a Safernet não recebeu nenhuma denúncia de alguém que, de fato, tenha visto a imagem. O que aconteceu foi uma histeria e pânico geral, que acabou propagando o problema pelo WhatsApp, expondo inclusive as crianças. Na entrevista, o especialista explica o fenômeno de pânico, desinformação e propagação. “Criou-se um problema verdadeiro onde havia um problema não verificado”.

A grande questão é a supervisão e filtragem que os pais devem fazer nos conteúdos aos quais seus filhos estão expostos. As crianças não possuem discernimento crítico para filtrarem o que lhes aparece nas mãos e diante dos olhos. Repensando a relação das crianças com as telas e o mundo digital e assumindo a responsabilidade da intermediação, os pais estarão preparando melhor seus filhos para essa realidade. Conversar e mostrar limites é tomar conta de seu filho na pracinha virtual. Mas da mesma forma que na vida, o zelo que alardeia ou paralisa não é a solução. Ensinar limite, crítica e autonomia ainda é o melhor caminho.

Para ler a entrevista na íntegra siga o link: http://escritos.ibict.br/desafio-momo-alerta-para-os-perigos-na-maior-praca-publica-do-mundo/
E para a reportagem do El País: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/20/actualidad/1553105010_527764.html

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