Com realização da Companhia Alvorada, Projeto Samba de Terreiro de Mauá e produção do Núcleo Coletivo das Artes e direção de Leonardo Karasek, espetáculo será encenado em São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul
Por Pedro Sant’Anna
Após duas temporadas de sucesso de crítica e público no Teatro Oficina, em São Paulo, o musical “É Samba na Veia, é Candeia” chega aos teatros do Grande ABC em novembro, mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra (20/11). Com texto de Eduardo Rieche, direção geral de Leonardo Karasek, produção executiva e artística de Rita Teles, o espetáculo conta a trajetória de Antônio Candeia Filho (1935/1978), mais conhecido como Candeia, um popular sambista portelense cuja morte acaba de completar 40 anos. As apresentações em São Caetano do Sul (17/11) e São Bernardo do Campo (18/11) contarão com uma participação especial: a da sambista e intérprete Adriana Moreira, que completa 20 anos de carreira e subirá ao palco homenageando Clara Nunes.
Encenado no entorno de uma roda de samba ambientada na trajetória do artista entre as décadas de 1960 e 1970, o musical foi encenado pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 2008. As duas montagens evidenciam a genialidade do compositor carioca, bem como destaca a contemporaneidade de suas letras e de seu pensamento.
A montagem paulista recebeu uma enorme aceitação do público, que lotou todas as apresentações. Atriz e produtora executiva do espetáculo, Rita Teles acredita que, além da questão do tema e dos cuidados com a montagem, a peça se fortaleceu muito por evidenciar o protagonismo da cena cultural independente, bem como pela representatividade de um elenco e de músicos majoritariamente oriundos do samba, das artes e de movimentos sociais afirmativos, sobretudo do movimento negro.
Para o diretor, Leonardo Karasek, o espetáculo defende o protagonismo de artistas negros que são a parcela majoritária na formação do elenco. Para ele, “É Samba na Veia, É Candeia” ultrapassa as definições de um musical e se encaixa, perfeitamente, como uma peça biográfica. “O cenário reforça todo o simbolismo da trajetória de Candeia como homem negro e crítico social. A estruturação da montagem reforça o sentido da imersão do público no universo do compositor. E, nesse caminho, fazemos um convite para a releitura do mundo nos olhos de Candeia, com todas suas facetas e vivências como corpo e voz de movimento e atuação política por meio do samba”, diz.
O ator Marcelo Dalourzi interpreta Candeia com maestria e paixão. Os aspectos cotidianos da vida do músico, a utilização do samba como instrumento de resistência cultural da população negra do subúrbio carioca e a sua maneira singular de compor sobre os amores, as vicissitudes da vida e seu estilo musical sem perder a possibilidade de contestar males sociais como o racismo e apropriação cultural ganham destaque na encenação.
A direção musical é de Edinho Carvalho, compositor, pesquisador e responsável pela direção harmônica e melódica do Projeto Samba de Terreiro de Mauá, que faz todo o acompanhamento musical do espetáculo. A trilha sonora tem arranjos e também direção do músico Abel Luiz.
“Pintura sem arte”, “Testamento de Partideiro” e de “De Qualquer Maneira” são alguns dos sambas que compõem a vasta discografia de Candeia e integram o espetáculo. A trilha também conta com canções que, exaltadas na voz de outros célebres sambistas, como “Preciso me Encontrar”, consagrada por Cartola, ícone da Estação Primeira de Mangueira; “O Mar Serenou”, eternizada pela cantora e madrinha da Velha Guarda Musical da Portela, Clara Nunes e “Dia de Graça”, defendida pela voz de Elza Soares, interpretada por Josi Souza.
Outros temas do espetáculo são composições dos habituais parceiros de Candeia, como “Riquezas do Brasil”, de Waldir 59; “Me Alucina”, de Wilson Moreira; “Falsas Juras”, de Casquinha; e “Coisas Banais”, de Paulinho da Viola. O espetáculo conta, ainda, com a coreografia do ator e dançarino Jefferson Brito e participação da cantora Sueli Vargas.
Para Rita Teles, “É Candeia, É Samba na Veia” exerce papel fundamental na releitura do compositor como crítico dos mecanismos de apropriação cultural dos valores e processos históricos de identidade negra. “Candeia, quando funda o Grêmio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba Quilombo com Wilson Moreira e Paulinho Viola e outros sambistas, posiciona-se para além da música. Ele não somente se coloca contrário ao processo de industrialização cultural do samba, como o enxerga como uma ilha de resistência de valores identitários negros diante desse processo. E, no palco, este lado do poeta Candeia, idealista e ativista se faz presente”, conta.
Serviço São Caetano do Sul
É SAMBA NA VEIA, É CANDEIA
Quando: 17/11
Horário: 20h
Duração: 2h30 (aproximadamente)
Classificação etária: 12 anos
Onde: Teatro Paulo Machado de Carvalho
Endereço: Rua Conde de Porto Alegre, 840 – Santa Maria – São Caetano do Sul Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (professores, estudantes, idosos e classe artística)
Venda online: www.sympla.com.br
Serviço Bernardo do Campo
É SAMBA NA VEIA, É CANDEIA
Quando: 18/11
Horário: 19h
Duração: 2h30 (aproximadamente)
Classificação etária: 12 anos
Onde: Teatro Lauro Gomes
Endereço: Rua Helena Jacquey, 171 – Rudge Ramos, São Bernardo do Campo Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (professores, estudantes, idosos e classe artística)
Venda online: www.sympla.com.br
Ficha técnica
Direção: Leonardo Karasek
Assistente de Direção: Augusto Vieira
Texto: Eduardo Rieche
Direção Musical: Edinho Carvalho
Participação: Adriana Moreira (homenageando Clara Nunes)
Arranjos: Abel Luiz
Preparação Vocal: Daisy Cordeiro
Coreografia: Jefferson Brito
Produção: Núcleo Coletivo das Artes Produções
Figurino: Gabriela Rocha
Cenário: Raifah Monteiro
Ilustração: Bruno Will
Criação Gráfica: Zeca Dâmaso
Iluminação: Luana Della Crist
Técnico de som: Pedro Romão
Fotos: Osmar Moura
Elenco: Danilo Ramos, Denise Aires, Jair de Oliveira, Jefferson Brito, Josi Souza, Jose Nelson Junior, Leo Dias, Marcelo Dalourzi, Sueli Vargas, Rita Teles, Taís de Paula, Viviane Clara e Wallace Andrade.
Músicos: Brito Oliveira, Danilo Ramos, David Silveira, Didi Carvalho, Eder Ventura, Edinho Carvalho, Hosana Meira, Jader Morelo, Jefferson Motta, Leo Dias, Marcelo Glick, Marlene Oliveira, Ocimar Dias e Ronaldo Nunes.
Performance: Dan Rodrigo
SOBRE EDUARDO RIECHE (AUTOR)
Ator, autor, tradutor e produtor, Eduardo Rieche recebeu o Prêmio Shell 2009 de Melhor Autor pelo texto “Oui, Oui… a França é Aqui!”, escrito em parceria com Gustavo Gasparani. Prêmio Coca-Cola 1996 de Melhor Ator, estreou profissionalmente em 1990, no espetáculo “As Testemunhas da Criação”, com texto e direção de Domingos Oliveira. Ao longo de 28 anos de carreira, participou de quase 30 espetáculos profissionais, tendo trabalhado com diretores como Moacyr Góes, João Fonseca, Vinicius Arneiro, Ary Fontoura, Enrique Diaz, Regina Miranda, Sílvia Monte, Wolf Maya e Márcio Vianna. Além do prêmio que recebeu, foi indicado a outros quatro em teatro como Melhor Ator. Foi vencedor do concurso nacional de dramaturgia Brasil em Cena, promovido pelo CCBB-RJ em 2007, com o texto do musical “É Samba na Veia, é Candeia”. A montagem, encenada pelo diretor André Paes Leme, rendeu-lhe uma indicação ao Prêmio Shell como Melhor Autor de 2008. Adaptou, produziu e encenou o monólogo filosófico “Inquieto Coração”, baseado na obra de Santo Agostinho, e “Não Sobre Rouxinóis”, texto de Tennessee Williams até então inédito no Brasil. É autor do musical “As Mimosas da Praça Tiradentes” (nova parceria com Gustavo Gasparani, indicado ao Prêmio APTR 2012 de Melhor Texto) e “Chagall – O Poeta com Asas de Pintor” (considerado um dos 10 Melhores Espetáculos em Cartaz pela revista Veja Rio). Em 2018, chegarão aos palcos do Rio de Janeiro mais dois musicais de sua autoria: a adaptação (também com Gustavo Gasparani) de “Romeu e Julieta”, sob direção de Guilherme Leme Garcia, embalada ao som de Marisa Monte; e “Clube da Esquina – Os Sonhos não Envelhecem”, com direção de Dennis Carvalho. Eduardo assinou, ainda, a biografia da atriz Yara Amaral (1936-1988), publicação indicada aos Prêmios Cesgranrio e APTR 2016 e finalista do 59º Prêmio Jabuti de Literatura.
SOBRE LEONARDO KARASEK (DIRETOR)
Formou-se em Direção Teatral no Curso Superior de Artes Célia Helena em São Paulo. Realizou uma montagem inspirada em “O Jardim das Cerejeiras”, de Anton Tchekhov. É pós-graduado em Literatura Brasileira pela UFRGS, de Porto Alegre. Cursou cinema na Universidade Federal Fluminense e participou de cursos de roteiro em cinema com Luiz Carlos Maciel, na Fundição Progresso, e com Jackson Saboya. Com a experiência adquirida, roteirizou e dirigiu os vídeos “Da Vida Nada se Leva”, “O Castigo” e “Pai”. Como ator, participou de diversos cursos de teatro: Teatro Tablado, Casa da Gávea e Casa de Artes de Laranjeiras (RJ), Teatro Ágora e Grupo TAPA (SP); Estudou com professores renomados, como Moacir Góes, Silvia Soter, Rubens Correa, Gilberto Gawronsky, Maria Esmeralda, Ian Michalski, Maria Clara Machado, Louise Cardoso, Bernardo Jablonsky, Ricardo Kosovsky, Luís Carlos Tourinho, Bia Junqueira, Nara Kaiserman, Domingos de Oliveira, Celso Frateschi, Brian Penido. Morou dois anos em Nova York (EUA), onde cursou o Lee Strasberg Institute e o HB Studio. A experiência nos palcos vivenciou em montagens como “O Despertar da Primavera” – Teatro Tablado (RJ), “As Aventuras de Tom Sawyer” – Teatro Ziembinsky (RJ), “Twelfth Night” – Kensington Library – Londres, “Our Town” – Cumberland Regional High School – Nova Jersey – EUA. Na TV, participou de episódio de “Você Decide”, na Rede Globo.
SOBRE EDINHO CARVALHO (DIRETOR MUSICAL)
Edinho faz parte de uma família de músicos, na qual desenvolveu sua percepção musical, aprendeu a apreciar o samba de raiz e a tocar cavaquinho. Participou da bateria da Escola de Samba Leões de Ouro, de Mauá, na qual tocava tamborim. Integrou alguns conjuntos de samba da cidade até conhecer os músicos com quem veio a fundar, em 2002, o Terreiro de Mauá. Já tocou com sambistas de renome, como Monarco, Xangô da Mangueira e Jorginho do Império. Edinho também é pesquisador da história do samba de raiz e das formas como foi e é executado.
SOBRE ABEL LUIZ (ARRANJOS E DIREÇÃO MUSICAL)
É um dos fundadores do Samba do Trabalhador, participando como músico, arranjador e compositor do primeiro CD e DVD desta comunidade. Faz a coordenação musical do Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana e é o primeiro, no Brasil e no Mundo, a desenvolver ações de reunir cultura, carnaval, território e saúde mental ao longo de seus 16 anos de atividade. Atualmente, integra o Projeto Criolice, Roda de Samba e Feira Cultural, sediada na Arena Fernando Torres; compõe o Trio Choro Novo e o Duo Onze Cordas.
SOBRE RITA TELES (ATRIZ E PRODUTORA)
Atriz, arte educadora, dubladora, produtora, graduada em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas pela Universidade São Judas Tadeu. Iniciou o contato com o teatro em 2002 e cursou até 2008 o Curso Livre de Teatro ministrado pela Arte & Equilíbrio. Idealizadora do projeto “Oficinas de Vivência Teatral”, atuando como arte educadora de teatro em diversas instituições de ensino públicas e privadas. Fundadora da Cia. Colhendo Contos e Diáspora Negra ao lado de Jefferson Brito. Atualmente, é produtora e integra o elenco da peça “É Samba na Veia, É Candeia”. Com a peça narrativa “Contando África em Contos”, tem se apresentado em diversas unidades do Sesc e outras instituições. Pesquisadora de dança contemporânea, dança negra e simbologia dos orixás. Compõe o corpo de dança do Bloco Afro Afirmativo Ilú Inã e do Bloco Ilú Obá de Mim. Desde 2013 atua como arte educadora de teatro na Fundação Julita na zona sul de São Paulo. Atualmente, vem se dedicando à produção e execução de projetos que fomentam a ocupação de espaços públicos reunindo arte e cultura de matrizes africanas.
SOBRE A COMPANHIA ALVORADA
É uma companhia recém-criada pelo diretor Leonardo Karasek. Tem o objetivo de pesquisar o sentido literário e filosófico dos textos e das palavras. Trabalhar além das formas cênicas, priorizando o sentido das palavras e situações, voltar a valorizar a história, o mito, a reflexão sobre a condição humana. Seus grandes ídolos são os grandes produtores de saber intelectual no teatro e na literatura, como Stanislavsky, Tchekhov, Ibsen, Shakespeare, Brecht, Moliére, Balzac, Proust, Dostoievsky, Machado de Assis. O trabalho da companhia ainda inclui a pesquisa e inserção de temas brasileiros nas montagens, como o samba, o choro, o forró, o candomblé, o carnaval e as festas populares, além da defesa de pautas de direitos humanos, como o fim dos preconceitos de qualquer espécie e o combate à desigualdade social no Brasil.
SOBRE O NÚCLEO COLETIVO DE ARTES
Desde sua concepção, dedica-se à produção de eventos educacionais e acadêmicos. A partir de 2014, os proponentes passaram a se dedicar exclusivamente à área artística, oficializando suas novas atividades em 2017, após a mudança de seu objeto e atividade principal da empresa. Com foco em questões que envolvem a diáspora africana no Brasil, o coletivo produziu os seguintes trabalhos: Seminário Internacional “Fronteiras em Movimento” – CCBB (2012), Intolerância Solidariedade no Mundo Contemporâneo – CCBB (2004), Seminário “A Morte & A Vida em Debate” – CCBB (2006). Participou na produção de eventos com o Grupo de Articulação Política Preta (2016/2017), Mulheres Negras em Marcha (2017), Projeto “Oficinas de Vivência Teatral” – Fundação Julita (Desde 2014), Escola Nacional de Teatro (2015/2016), Secretaria Municipal da Cultura – SP (2017). Em termos de produções artísticas, as peças “Vênus de Aluguel” (2014), “Contando África em Contos” (desde 2016) e, atualmente, “É Samba na Veia, É Candeia”.
SOBRE O PROJETO SAMBA DE TERREIRO DE MAUÁ
Fundado em 2002, o conjunto é composto por 13 integrantes. Todos tocam, cantam, pesquisam e dirigem os eventos. Eles mantêm uma sede própria na cidade de Mauá, o Centro Cultural Dona Leonor, no qual promovem rodas de samba, saraus, formações e eventos culturais, além de ser sede do Bloco de Samba “Pega o lenço e Vai”, que tem como objetivo trazer a história do negro no Brasil por meio de sambas inéditos. Em geral, executam seus concertos de forma acústica, sem amplificadores, com o objetivo de se aproximar da forma tocada no passado.
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Foto: Osmar Moura