» Post

Cracolândia e a limpeza étnica no centro de SP

Por: Fotógrafo Sato

A Cracolândia amanheceu vazia. A imagem do território onde o fluxo de usuários ficava, completamente vazia, trouxe dúvidas e perguntas. Enquanto trabalhadores da saúde, psicólogos, coletivos, ativistas e moradores procuram saber o destino dessas pessoas, o Governo do Estado e a Prefeitura de SP celebram vitória sobre o crack. Uma mentira deslavada sobre um dos pontos cruciais de entendimento da ocupação da cidade.

A região conhecida como Cracolândia existe desde o fim da década de 80 e começo da década de 90. A desativação da Estação Rodoviária da Luz e o abandono do Estado na região transformaram esse território num espaço aberto para a abertura de um fluxo de usuários entre as ruas Cleveland, Barão de Piracicaba, Helvetia e Dino Bueno.

Nenhum Governo conseguiu estabelecer um plano decente para que esse caso fosse resolvido. Nenhum projeto ou ação que incluísse saúde, apoio psicológico, acompanhamento social, frentes de trabalho, moradia. Apenas tiro e bomba. Não deu certo.

Lembro de uma pixação num portão lá pelos anos de 2014, quando a @casadalapa participou do projeto De Braços Abertos, a primeira tentativa de um trabalho de redução de danos na região: “A CRACOLÂNDIA ANDA”. Ela anda, não desaparece. E enquanto um projeto gigante que inclua saúde, educação, serviço social, psicologia, trabalho e moradia não seja iniciado e desenvolvido, a Cracolândia permanecerá.

Então, a pergunta continua: onde está o fluxo de usuários? Uma pequena pesquisa e escuta já nos dá o caminho para algumas respostas e perguntas que devem ser feitas ao poder público.

  • Aumento de fluxo de usuários em cidades vizinhas como Santos e Guarulhos;
  • Testemunho de moradores sobre carros da prefeitura e do Governo do Estado deixando pessoas em bairros distantes como Sacomã e Cidade Tira-dentes;
  • Assistentes sociais de Jundiaí, afirmam que muitos moradores de rua e usuários procuraram a cidade, por causa de informações mentirosas de que ali, eles conseguiriam dinheiro de passagens de trens e de ônibus para voltarem para suas cidades;
  • A violência policial da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar também aumentou consideravelmente, desde agressões gratuitas a pessoas dormindo, como a tática de tortura de fazer as pessoas andarem por horas e horas, sem poder descansar, beber água ou se alimentar.

Essa guerra tomou o centro da cidade. O Governo do Estado mudará sua sede e de suas secretarias para a Praça Princesa Isabel e cercanias. As empresas que patrocinaram o projeto Nova Luz, implantado pela prefeitura do Kassab, em 2007, deram um ultimato para que o bairro seja gentrificado de uma vez por todas.

Pessoas desapareceram, podem estar estar mortas ou presas, sem acompanhamento de seus tratamentos de saúde ou psicológico. Ninguém sabe ao certo tudo que envolve essa guerra. Mas é claro que a especulação imobiliária e a mudança de sede do governo mostram que é um caminho sem volta. O que acontece na Craco, na Favela do Moinho e até nesses ridículos estacionamentos embaixo do Minhocão faz parte de uma limpeza étnica no centro de SP. Pobres e pretos não tem lugar nesse novo território que o Governo do Estado e a Prefeitura querem implantar. Mas esqueceram de uma coisa: “A CRACOLÂNDIA ANDA”.

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

» Parceiros

» Posts Recentes

Categorias

Você também pode gostar

plugins premium WordPress

Utilizamos seus dados para analisar e personalizar nossos conteúdos e anúncios durante a sua navegação em nossos sites, em serviços de terceiros e parceiros. Ao navegar pelo site, você autoriza o Jornal Empoderado a coletar tais informações e utiliza-las para estas finalidades. Em caso de dúvidas, acesse nossa Política de Privacidade