Muitos amigos acompanham carnaval o ano inteiro, dos primeiros preparativos ao Dia D. Outros só vêem o desfile. Vale a pena uma retrospectiva de como a Estação Primeira venceu com sobras o carnaval 2019.
Venceu por ter um gênio chamado Leandro Vieira como carnavalesco. Enreredista, figurinista, artista completo como poucos na história do carnaval do Rio de Janeiro, botou a Mangueira como postulante ao título assim que anunciou o enredo e a sua incrível sinopse que inspiraria a Ala de Compositores da escola para a disputa de samba-enredo.
Venceu por ter em sua Ala de Compositores o talento de gente como o Deivid Domênico e seus parceiros que compuseram uma obra-prima com a vocação para a eternidade.
Venceu por ter entre seus compositores os supercampeões na escola da parceria de Lequinho, Junior Fionda e cia, que ganhando ou perdendo, elevam o nível da disputa e são Mangueira acima de qualquer outra coisa. Lequinho, prontamente após o anúncio do resultado, pegou a letra do “seu” novo samba e foi para o microfone cantar com o mesmo amor e garra dos vencedores e de todos os mangueirenses.
Venceu na apresentação dos protótipos das fantasias, pois o mangueirense sabe que a reprodução em larga escala será fiel ao projeto do seu carnavalesco e sabe que, com dinheiro ou sem dinheiro, Leandro faz acontecer e a Mangueira brinca.
A Mangueira venceu porquê reconheceu seus erros e fez reparos pontuais em quesitos que não vinha conseguindo a nota máxima, por exemplo, bateria e comissão de frente. Foi buscar no mercado o competente casal de coreógrafos Rodrigo Mota e Priscilla e mais uma vez arrumou uma solução caseira, no Morro, para a sua bateria com o Mestre Wesley.
Venceu porquê o Mestre de Bateria anterior, Rodrigo Explosão, é Mangueira acima de qualquer posto e com humildade e amor voltou a tocar o seu surdo com a mesma dedicação e suor.
Venceu por ter Squel e Matheus como guardiões de seu pavilhão. Casal com sangue e raiz, com sangue do eterno diretor de harmonia Xangô.
Venceu por ter percebido a necessidade de ajustes no seu carro de som e reconduziu ao posto de diretor musical o Alemão do Cavaco. Por ter contratado um intérprete de timbre grave que o mangueirense imediatamente associa o tipo de som àquele que foi o maior de todos os intérpretes, ainda que não caiba comparação entre os dois. Venceu por ter sido dado ao seu novo intérprete Marquinho Art Samba todo o suporte necessário para o resultado magnífico do carro de som na Sapucaí.
Venceu por ter gente competente em sua direção como a Guanayra Firmino, o Aramis, seus ex-presidentes Elmo e Alvinho, sem poder ser esquecido quem iniciou o trabalho lá atrás e reestruturou a escola, o ex-presidente Chiquinho.
Venceu por ter Evelyn Bastos como sua Rainha legítima: da comunidade, lindíssima e que tem conteúdo e o que dizer.
Venceu por não ter se esquecido em seu desfile dos seus mestres Cartola e Jamelāo. Por trazer Leci e Nelson Sargento em seus tronos; por trazer Alcione como Dandara; por trazer Tia Suluca, irmã de Delegado, como sua matriarca. Quem sabe de onde veio, sabe pra onde vai.
Venceu por ser árvore que dá novos frutos para garantir o seu futuro, como a encantadora Cacá Nascimento. A menina que canta, dança e interpreta, deu show na gravação do samba-enredo e deu show na Comissão de Frente.
Venceu por ter o chão fortíssimo de uma comunidade apaixonada, engajada e consciente do seu compromisso com a escola. O canto da Mangueira ecoou na Sapucaí e ecoará eternamente.
Venceu novamente porquê Mangueira é mãe. Aquela que acolhe com o mesmo amor a quem está perto ou longe, seja ele do morro ou do asfalto, basta um coração verde e rosa; a que acalenta nos dias difíceis da vida e nos dá fôlego para prosseguir. Transforma seus filhos em reis e rainhas por alguns dias, mesmo que tudo o mais nos faça chorar.