O projeto Awerê tem como objetivo proporcionar o contato consciente entre as culturas africanas e sua influência sobre à cultura brasileira, para que os visitantes tenham essa proximidade de conhecimento entre as duas culturas.
Awerê nome Iorubá que quer dizer Benção. Os iorubás são um povo do sudoeste da Nigéria, uma parte do Benin e do Togo, é o idioma proveniente do oeste africano com mais de 50 milhões de falantes, que vai além do idioma, é um modo vida, de cultura, conhecimento e sapiência.
Os idealizadores são Anderson Quaak, Pedro Oliveira, Fabíola Machado e Arifan Júnior. Esses dois últimos são compositores e cantores – Anderson Quaak é cineasta e produtor e Pedro Oliveira é produtor audiovisual.
O projeto Awerê além de propiciar oportunidades ao povo preto através do empreendedorismo, busca também conscientizar a periferia sobre suas origens, e acima de tudo se orgulharem dessa origem. Nesses eventos pode-se ouvir boa música, degustar bons alimentos, conversar com novas pessoas, comprar objetos, livros, roupas, adereços, enfeites entre outras coisas.
O produtor e colaborador Marco Antônio, produtor e parceiro na execução do projeto Awerê em São Paulo, nos relatou sobre o evento que acontece na vila Guilherme, zona norte, ele se uniu aos quatro amigos do Rio de janeiro para promover esse evento em São Paulo.
“Na concepção do que eu faço e do que eu acredito do projeto aqui em São Paulo, a gente consegue não só unir a nossa gente, unir o povo preto, consegue criar uma oportunidade para quem empreende, empreender. Para todo mundo defender a grana da sua família, aqui a gente tem, às vezes, 14 à 15 empreendedores e isso é muito gratificante para gente, evento familiar, uma comunhão.”
E foi em um evento realizado no dia 21/04/2022 que a Benedita da Benedita’s Acessórios e o Educador Wil respondeu ao JE.
JE – Benedita nos conte sobre sua história?
Benedita’s Acessórios – A nossa história começou quando perdemos a matriarca da família minha vó Dona Benedita mulher, negra e baiana, minha mãe para preencher o tempo voltou a fazer crochê atividade que aprendeu na escola.
Essa foi a maneira que encontramos de mantê-la sempre conosco e também de homenageá-la e assim nasceu as Benedita’s Acessórios.
Começamos fazendo o básico toucas, cachecóis, golas e ponchos adultos e infantis, em seguida ampliamos para acessórios: brincos, colares, biquínis, croppeds, tiaras, bolsas. Além de brincos em MDF revestido em tecido.
JE – Qual a importância do projeto Awurê e como você a vê em relação a periferia?
Benedita’s Acessórios – Enxergamos como uma oportunidade para expor os nossos produtos que é um trabalho artesanal e diferenciado, e que atende a todos os públicos sem qualquer distinção de cor, raça ou gênero.
Para nós é muito importante pois é em eventos como esse que falamos de cultura, religião e ancestralidade que conseguimos trazer representatividade através dos nossos produtos, ajudamos elevar a autoestima de quem consome os nossos produtos, e ainda compartilhamos como a técnica do crochê é versátil quando utilizada com criatividade.
JE – Quais seu sonhos e desejos futuros? você pensa que esse modelo de exposições te ajuda a alcança-lo?
Benedita’s Acessórios – Sim esses eventos contribuem para ampliar a divulgação dos nossos produtos e com isso conseguimos transmitir para mais pessoas a representatividade e autenticidade das nossas peças.
JE – nos conte sobre sua história?
Wil Educador Social Escritor: WIL OLIVEIRA , pai do Ayo, ator , arte educador, contador de histórias, diretor de teatro, idealizador do projeto Ateliê Afro Cultural (espaço educativo de criação reflexão e valorização da cultura e memória afro brasileira). Filho da dona Célia, mulher negra guerreira rainha, que com muita garra criou seus 3 filhos. Wil cresceu na periferia da Cidade Ademar, zona sul de São Paulo, em um lar simples mas repleto de carinho e respeito. Desde pequeno recorda das músicas que ouvia em uma vitrola velha, Agepê, Roberta Miranda, Leandro e Leonardo, dona Célia cantava alto enquanto fazia os afazeres de casa. Wil foi crescendo e observando o ambiente ao seu redor, afinal periferia sabe como é né? Muita coisa boa e outras nem tão boas assim. Já na adolescência lembro de quem o rap chegou em minha vida. Thaíde DJ Hum, Rzo, Expressão Ativa, Sabotage, Racionais Mc’s. Grande referência, identidade preta. Achava engraçado como aquelas músicas mexia comigo positivamente.
A arte sempre esteve presente em mim, através das poesias que eu escrevia na adolescência, nos batuques nas mesas da escola até que tive oportunidade de estudar canto lírico na escola municipal de música de São Paulo. Fiquei um tempo estudando música, depois fui fazer aulas de teatro e me apaixonei por aquela arte, mesmo tendo um “professor” que dizia que aquilo não era pra mim – dizia que eu era muito alto, muito forte, tinha uma voz muito grave, em outras palavras, a arte não é pra você”, “não tenho personagens pra você – eu quase desisti, foi difícil superar. Até que me deparei com a palavra ” RESILIÊNCIA”, e quando eu entendi a essência e potência dessa palavra, dei a volta por cima e ergui minha cabeça e minha alma. Hoje em dia tenho meu próprio projeto e dou protagonista das histórias e peças que eu mesmo criei. Axé.
JE – Qual a importância do projeto Awurê e como você a vê em relação a periferia?
Wil Educador Social Escritor: A exposição é muito importante e significativa, uma vez que de um modo geral historicamente ficamos muito tempo sem termos referências positivas sobre nosso povo preto. Crescemos ouvindo que o nosso cabelo é ruim, que nossas religiões são do mal, que nossa cor presta, que somos feios e fedidos, enfim … Agora somos protagonistas de nossas próprias histórias, de modo a dar o devido valor a cada coisa e situação que achamos importante. Quanto a periferia, infelizmente ainda somos a maioria, mas vejo um despertar, uma inquietude que almeja algo maior e melhor, isso é de extrema importância. A casa grande surta quando a senzala aprende a ler, escrever e consequentemente começa exigir seus direitos.
JE – Quais seu sonhos e desejos futuros? você pensa que esse modelo de exposições te ajuda a alcança-lo?
Wil Educador Social Escritor: Em relação ao futuro, prefiro ficar no hoje, seguindo minha missão de vida, que é fazer, propagar, valorizar e divulgar a cultura afro brasileira principalmente através da arte. Sem perder a essência, pois afinal. ” O rio quando esquece aonde ele nasce, ele seca e ele morre “.
Seguimos… Axé.
Então se quiserem experimentar algo novo e extraordinário vão até o evento Awerê e vivam essa experiência espetacular.