colaboração de Jorge Monteiro
Hoje é um dia de alegria e vitória, lagrimas e de sorrir sem para como diz Nadjla, torcedora do Inter e integrante do Clube do Povo.
O Conselho Deliberativo do Internacional de Porto Alegre aprovou um plano popular de sócios, onde a arquibancada do inter terá torcedores de baixa renda, com ingressos a R$10,00. Alguns associados do inter rompem a barreira do futebol intocável do moderno, elitista e higienista, com ações que trazem o povo de volta ao estádio. Muito se luta para democratização da arquibancada. O Inter rompe a barreira elitista e mostra que no futebol “gourmet” cabe sim ideias sociais e responsáveis. (ai elencamos algumas atitudes progressistas ate chegar a de ontem que foi a grande Vitória).
Nas palavras do Latino, do “O Clube do Povo”, saberemos como o Inter se tornou modelo de gestão social, como se deu inicio a está luta contra a elitização no futebol, a inclusão do povo como associado do clube, quais principais conquistas da CHAPA 4 e o impacto para o futuro do futebol.
“Por isso sempre digo, a luta pela democratização precisa ser forte nos clubes. Ninguém pode se considerar sócio se não tiver direito a voto!” – Latino
Nota: Um detalhe: estudantes de escola pública ou membros do cadastro único do governo federal também poderão se associar.
“ O Inter foi um clube fundado para ser popular, aberto a todos, em contraposição ao outro clube da cidade. Os primeiros campos localizavam-se em bairros de ex-escravos, que passaram a acompanhar o colorado já nos seus primeiros passos. Na década de 40 o Inter ganha a hegemonia do futebol gaúcho, com o folclórico Rolo Compressor, equipe formada por jogadores negros oriundos da liga dos Canelas Pretas. Ainda na década de 40, o saudoso Vicente Rao, Rei Momo da cidade, leva os elementos do Carnaval para dentro das arquibancadas do antigo estádio dos Eucaliptos e muda a forma de torcer. Foguetes, serpentinas e batucada. Para os torcedores rivais era “coisa de negão”. Porém, o que acontecia era que começava ali a ideia de torcedor influenciar de fato na partida, do incentivo coletivo, da organização para incentivar os jogadores, ou seja, o protagonismo da torcida. A partir dali a adesão popular ao clube aumentou. O mascote passa a ser o saci, único negro entre todos os mascotes brasileiros, legítimo representante da torcida colorada. O clube assume institucionalmente o lema “O Clube do Povo”.
Nos anos 60 vem a construção do Beira-Rio, projetado com um imenso setor popular bem próximo ao gramado, carinhosamente chamado de Coreia do Beira-Rio. Nos anos 70 uma imensa faixa com os dizeres “O Povo Fez O Inter” era vista no estádio. Ou seja, foi a força popular que construiu a grandeza do clube. Todo esse histórico formou a identidade colorada. “A subversão” existe desde a fundação. A torcida se orgulha desta identidade.
Nos anos 2000, ainda bem antes da Copa do Mundo, o futebol brasileiro como um todo inicia um forte processo de elitização. O Inter massifica o seu quadro social, amplia consideravelmente as suas receitas e se estrutura enquanto clube abrindo caminho para um grande ciclo de conquistas. Todo esse processo causou euforia no torcedor, ao mesmo tempo que permitiu a elitizada sem grandes resistências num primeiro momento. A Coreia foi fechada sem protestos. Mas os títulos não foram suficiente pra deixar a torcida adormecida. Logo os torcedores passaram a estranhar a ausência do antigo torcedor, que fazia a alegria da arquibancada, mas que estava sendo expulso do estádio pelos auto preços dos ingressos. E foi exatamente uma das causas da elitização, a elevação do quadro social, também foi o remédio para combatê-la. Em 2012, colorados e coloradas da arquibancada, membros e ex-membros de torcidas organizadas, torcedores e torcedoras comuns, formam uma chapa para protestar nas eleições do Inter. A chapa foi genialmente batizada de Povo do Clube. O resultado daquela eleição foi insuficiente pra garantir representação no Conselho Deliberativo, mas encheu a torcida de esperança. Após a eleição, a chapa virou movimento político e social, que se desafiou a mobilizar e organizar a torcida para lutar pela valorização da identidade popular, pela volta do povo humilde ao Beira-Rio. Ali, ainda em 2012, nasceu o projeto sócio clube do povo, uma modalidade popular para torcedores de baixa renda, aprovada ontem pelo Conselho, 5 anos depois. Com organização e mobilização o movimento O Povo do Clube elegeu em 2014, 15 conselheiros e em 2016 mais 43, totalizando 58 conselheiros e se tornando o segundo maior movimento político do clube.
Neste ano, após longa discussão de um programa para o Inter, entramos para a gestão com a tarefa de trazer de volta a festa e o povo para o estádio. E assim caminhamos, com muita luta e mobilização constante, elevando o protagonismo da torcida. O Clube é do torcedor. O povo fez e faz o Inter. O futebol é do povo.”
O plano “Sócio Popular” terá uma mensalidade de 10 reais e a pessoa pagará o seu ingresso o mesmo valor para todo sempre, não podendo de forma alguma mudar, ele é ilimitado para a maioria dos jogos, somente os considerados “decisivos” é que a cota será de dois mil ingressos, o que não deixa de ser um ato de coragem e de dignidade, é uma atitude que pode até incomodar pessoas mais abastadas por ter que ceder espaço, mas será uma grande valia para a pessoa de baixa renda ver o seu time jogar.
Um segundo ponto informado pelo Latino: esperamos no curto prazo um Beira-Rio pintado de povo. Queremos elevar a média de público do nosso estádio, aumentando o apoio à equipe e levar o Inter de volta a série A, com a força do povo colorado. No médio prazo, esperamos derrotar a elitização do futebol como um todo , a partir do bom exemplo conquistado no Inter.
Por último: acho que a principal conquista do nosso movimento é o de recuperar o protagonismo da torcida na disputa de rumos do clube. Está acontecendo um processo de elevação de consciência. A torcida está entendendo que é ela a dona do espetáculo. Quem manda no clube é a torcida. Esta sem dúvida é a nossa principal conquista. Além disso, podemos destacar o desenvolvimento do futebol feminino, um projeto novo tocado por integrantes do povo do Clube dentro do Inter. Com escolinhas, categorias de base e equipe principal, trabalhamos pata desenvolver a modalidade e ganhar a torcida para apoiar a equipe carinhosamente chamada de “gurias coloradas”. Nossa próxima conquista será a criação de dois setores sem cadeiras no estádio, para contemplar os torcedores que preferem assistir os jogos em pé. Isso já está aprovado dentro da gestão e passando pelos diversos trâmites burocráticos, como bombeiros e MP.
Fica a aula de coletividade. Imaginamos que deve ter exigido muita energia e foco dos envolvidos(a). Deu muito trabalho. È uma vitoria, um gol de titulo, ou melhor, um gol de placa que mistura a nossa paixão com luta popular. Parabéns Inter de Porto Alegre e aos seus torcedores militantes.