Publicado originalmente no blog: História, Política e blablabla:
O medo do comunismo existe no Brasil desde os anos 1930. Até hoje a justificativa para os golpes políticos tem como alvo uma suposta revolução comunista que nunca aconteceu e, tão pouco, acontecerá. Esse medo se deve, principalmente ao fato de que ao longo da história brasileira, apenas uma plutocracia teve acesso a direitos básicos como terra, saúde e educação de qualidade. Esse medo, revivido pelas elites mundiais pós Revolução Francesa, teve o seu ápice durante a Revolução Russa de 1917 que, diferentemente do teor burguês da revolução na França, foi marcado pela ascensão do proletariado ao poder.
No Brasil, as ideias Socialistas chegaram através dos imigrantes italianos, que com o início do Século XX com a consolidação das cidades como meios urbanos em detrimento a vida rural, passaram a ocupar cargos nas grandes fábricas, gerando um contingente de trabalhadores assalariados. Estes trabalhadores não possuíam direitos básicos, como Seguro Desemprego e Auxílio Acidente, fora a inexistência de uma Salário Mínimo, o que permitia a exploração absoluta da mais valia. Nesse contexto os sindicatos começaram a ganhar força e para domina-los, pacificando as relações, Getúlio Vargas, durante o Estado Novo (Ditadura Vargas) criou os Direitos Trabalhistas.
A questão do direito a terra (propriedade), também merece ênfase pois apesar de ser um direito básico, inclusive defendido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, poucos brasileiros gozam deste benefício vital. O direito as terras nunca foi implantado verdadeiramente no Brasil, fortalecendo o campesinato e gerando movimentos como o Cangaço, as Ligas Camponesas até chegar ao MST (Movimento dos Sem Terras). A posse de terras foi um dos fatores determinantes para a consolidação do poder brasileiro pós monarquia, onde os grandes latifundiários dominam desde os tempos de República Velha e da insossa Política das Oligarquias.
O medo que o proletariado reivindica-se os seus direitos básicos, juntamente como as demais minorias excluídas do processo “democrático burguês” foi fundamental para moldar no imaginário brasileiro o constante “perigo vermelho” que, de fato, nunca existiu. A começar pelo fato que não existe “a Esquerda”, como bloco hegemônico cujos objetivos se assemelhem, o que sempre existiu no Brasil foram “as Esquerdas”, discrepantes, fragmentadas e extremamente vaidosa, cuja luta, em muitos momentos mais se assemelha a busca incessante por adeptos do que a uma Revolução real. A Esquerda brasileira, diferentemente de sua contra-parte, a Direita, nunca foi unida o que explica, em grande parte, sua baixa adesão entre as classes menos favorecidas, onde o conservadorismo impera. Por todas as razões expostas acima, tanto em 1937 como em 1964, não havia possibilidade alguma de uma ” Revolução Comunista” já que tratavam-se de pequenos grupos, sem apoio ou base para tal ato. Diferente do modelo Cubano, ou do modelo Chinês, onde os revolucionários contaram com forte adesão popular, principalmente do campesinato, no Brasil isto nunca aconteceu, principalmente pela falta de consciência de classe, oriunda dos péssimos serviços educacionais brasileiros, aliados a histórica formação cristã da maioria da população brasileira que serviu como sepultador de revoluções moldando o caráter do cidadão conforme os interesses da classe dominante em um contexto semelhante ao utilizado pela Igreja Católica durante a Idade Média. Todos estes fatores, contribuíram para impedir o sucesso de qualquer revolução socialista pelo Brasil.
É de se estranhar que, findada Guerra Fria em 1991 com o colapso da União Soviética, alguns setores da sociedade brasileira, em pleno século XXI, ainda insistam em manter a bipolarização ativa e, pior, angariando apoio e justificando ações fascistas por parte de veículos Estatais como a Polícia Militar para combater um inimigo imaginário. Por profunda ignorância, quaisquer medidas sociais adotadas por governos progressistas, como a política de Cotas Raciais, o combate ao desemprego, a valorização das culturas africanas ou indígenas, hoje, são acusadas erroneamente, inclusive por veículos tendenciosos da mídia como “politicas comunistas”. Oras, observem que o próprio PT, que gerou lucros incomensuráveis para empreiteiros e banqueiros, que trouxe para o país uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, que mais gerou lucros a iniciativa privada e que onerou os cofres públicos, consequentemente prejudicando as minorias sociais, que perderam propriedades e viram-se reféns de um novo processo de “higienização social” como o caso da comunidade do Maracanã, no Rio de Janeiro e as milhares de famílias que foram retiradas de suas casas para a construção dos entornos da Arena Corinthians, passou a ser chamado de comunista por seus inimigos, principalmente na grande mídia. Que partido comunista é este, que gerou lucros aos patrões ao invés de mobilizar as classes trabalhadoras?
Uma Revolução comunista nunca esteve perto de ocorrer no Brasil e, convém lembrar que não existe Revolução sem Consciência de Classe que atualmente, é o grande mal que padece o povo brasileiro. O que presenciamos, e a história tem provado, ano após ano é que existe uma manipulação em andamento, orquestrada por setores da sociedade brasileira que não aceitam conceitos básicos como justiça social e que pensam apenas na manutenção de seus privilégios, tornando o Brasil um país de serviçais, ao invés de um país “de senhores”. Enquanto conceitos furados como o famigerado “marxismo cultural” vão ganhando adeptos, encantados por filósofos que não residem no país, assim como o ilusório Escola Sem Partido (que merecerá um post em momento oportuno), o brasileiro vai seguindo a sua vida, emocionado por uma vitória do Corinthians, votando no eliminado da semana do BBB mas completamente inerte à iminente perda de alguns direitos trabalhistas que esta em curso com o novo “governo” brasileiro.
Viva a Revolução, que nunca chegou e, tão pouco chegará!!!
Cronologia do infundado medo Comunista no Brasil: