Salve minha gente e o samba este ano completou 100 anos e haja homenagens.
Assim como no Rio de Janeiro nesse percurso teve vários destaques no samba, São Paulo também teve os seus.
Sambistas como Donga, Ismael Silva, Cartola, Zé Ketti e outros mais deixaram suas marcas no Rio de Janeiro e até no Brasil.
Noel Rosa o poeta da Vila e considerado por muitos o maior poeta de samba de todos os tempos, mas não citam que muitas das suas composições foram em parceria com o paulista Osvaldo Gogliano conhecido como Vadico, regente arranjador, pianista e compositor nascido no Brás e que com ele compôs Feitio de oração, Feitiço da Vila e Conversa de Botequim, só para citar algumas.
Outro nome de destaque em São Paulo se não o maior é de Adoniram Barbosa que nos deu excelentes sambas principalmente nas décadas 60/70 onde o Conjunto Demônios da Garoa também se consagrou gravando os sambas dele.
Trem das Onze, Tiro ao Álvaro, Saudosa maloca, Iracema, são obras imortais que Adoniram deixou como legado.
Poderia aqui enumerar tantos outros sambistas paulistas ou paulistanos que tiveram grandes destaques no âmbito de São Paulo e até além.
“TRADIÇÃO ( VAI NO BEXIGA PRA VER)”
Quem nunca viu o samba amanhecer
Vai no Bixiga pra ver
O samba não levanta mais poeira
Asfalto cobriu nosso chão
Lembrança eu tenho de Saracura
Saudades tenho do nosso Cordão.
Bixiga hoje é só arranha céu
E não se vê mais a luz da lua
Mas o Vai Vai
Está firme no pedaço
É tradição e o samba continua.
( Autoria: Geraldo Filme)
Sim vou falar de Geraldo Filme compositor genial e que compôs este samba de quadra como teste para ingressar na Ala dos Compositores da Escola de Samba Vai Vai.
Aprovado com louvor, seu samba virou hino da escola de samba.
Outro samba marcante na trajetória de Geraldo Filme foi:
“SILENCIO NO BEXIGA.”
Silencio o sambista está dormindo
Ele foi, mas foi sorrindo.
A noticia chegou quando anoiteceu.
Escolas, eu peço silencio de um minuto.
O Bixiga está de luto.
O apito de Pato N’agua emudeceu
Partiu não tem placa de bronze
Não fica na historia
Sambista de rua morre sem gloria
Depois de tanta alegria que ele nos deu
Assim, um fato repete de novo
Sambista de rua artista do povo
E é mais um que se foi sem dizer adeus.
GERALDO FILME
Vejam neste samba que linda homenagem ele faz para o diretor de bateria da Vai Vai assassinado pelo esquadrão da morte.
Esses dois sambas descritos estão imortalizados na voz de Beth Carvalho.
Em 1927 em São Paulo nascia Geraldo Filme..
Ao longo de sua vida tornou-se um dos maiores nomes da militância negra.
Sua historia começa com sob a influencia de seu avô com o qual aprendeu os cantos de escravo.
Em sua época de juventude as manifestações culturais da população afro descendentes eram sempre reprimidas, mas Geraldo Filme como sugere um dos seus sambas estava sempre no pedaço.
‘“CANTO DOS ESCRAVOS”.
O enda auê a. a
Ucubi o enda auê a
O enda auê a. a
Ucumbi o enda auê na calunga …
HISTORIA DE ANGOLA
Oilala oilele
Meu avô me chamava
Vem cá meu filho
Aprenda capoeira pra se defender
Meu avô preto de Angola
Sentado na sua esteira
Cantava pra criançada
Historia da capoeira…
GERALDO FILME desta maneira aprendeu com seu avô.
GAROTO DE POBRE
Garoto de pobre
Só pode estudar
Em escola de samba
Ou ficar pelas ruas
Jogados ao léu
Implorando a bondade dos homens
Aguardando a justiça do céu
Seu lápis é sua baqueta
Que bate seu tamborim
Ninguém olha este coitado
Senhor qual será o seu fim…
GERALDO FILME nesta musica relata a historia de menino negro sem esperança.
Ele segue com a temática afro descendente em tantas musicas como Batuque de Pirapora, Reencarnação, Eu vou pra lá e além de outras.
Esse excelente compositor que desde criança já participava das rodas de capoeiras e das rodas de samba, contribuiu muito para a historia das escolas de samba de São Paulo.
Em 1969 foi vencedor na disputa de samba enredo na Unidos do Peruche onde também foi fundador.
O tema deste ano foi História da Casa Verde.
Nesta escola foi vencedor também em 1972 com o Enredo Chamado dos heróis da Independência.
Em 1974 venceu o samba enredo na Paulistana da Gloria cujo tema foi Tebas o escravo.
Em 1976 já na Vai Vai venceu a disputa e a escola desfilou com seu samba cujo tema foi Solano Trindade moleque de Recife.
A escola foi vice-campeã.
Geraldo filme não teve na mídia o espaço reservado aos sambistas cariocas como Cartola, Zé Ketti, Candeia ou mesmo Nelson Cavaquinho, se tivesse certamente estaria hoje sendo considerado um dos maiores sambistas brasileiros por tudo que construiu além de ser também um dos maiores divulgadores da cultura negra deste país onde é notório em suas composições o seu comprometimento com a causa negra.
Geraldo Filme faleceu no ano de 1995, mas deixou uma contribuição muito importante nestes 100 anos de samba e certamente no futuro seu nome já está garantido como alvo de pesquisa no universo da cultura negra e em particular do Samba.
Rio de Janeiro, 13 de dezembro de 2016.
Onesio Meirelles