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Virada Cultural: A Festa do Povo que a Direita Quer Usar, Mas Sempre Tentou Destruir


Por Solano – Jornal Empoderado

São Paulo viveu mais uma edição da Virada Cultural, um dos momentos mais simbólicos e democráticos do calendário da cidade. Shows gratuitos em diversas regiões, acesso à arte, cultura, lazer, com nomes potentes da música brasileira como Dead Fish, MC Hariel, Liniker, entre tantos outros. Tudo isso financiado com dinheiro público, organizado pela Prefeitura de São Paulo, que hoje é comandada por Ricardo Nunes (MDB) — um político conservador, sem histórico de envolvimento ou valorização das expressões culturais da periferia, e que governa de mãos dadas com o bolsonarismo e com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), braço fiel da extrema-direita no Estado.

A hipocrisia bate no peito da gestão. Como pode um governo que apoia a repressão às batalhas de rima, é favorável à Lei Oruam (que autoriza PM agredir MC e prender DJ por “perturbação”), que persegue o funk, o rap, as artes urbanas, de repente “abraçar” o Hariel, a Liniker, o Dead Fish? Como pode um governo que se recusa a dialogar com a cultura popular se vestir de representatividade no palco, só pra fingir que está do lado do povo?

Não é apoio. É estratégia. É marketing político. É manipulação. Quem financia cultura quando não é época de eleição? Ninguém da direita. Vamos aos fatos. De acordo com o Portal da Transparência da Prefeitura, em 2024, menos de 1% do orçamento foi destinado à Secretaria Municipal de Cultura. Em comparação, só os repasses para a Guarda Civil Metropolitana (GCM) cresceram mais de 45% desde 2020. A prioridade está clara: segurança armada, repressão, contenção — não cultura.

Enquanto isso, artistas independentes da periferia não conseguem sobreviver. Menos de 3% dos editais da cultura são vencidos por coletivos de quebrada. O acesso continua restrito, burocrático, excludente.

Prefeito Ricardo Nunes e a Contradição Escancarada

Ricardo Nunes foi favorável à aplicação da Lei Oruam, uma aberração legislativa vinda do Rio de Janeiro que criminaliza bailes funk e batalhas de rima, dando autorização pra PM agir com violência nas periferias sob o argumento de “perturbação do sossego”.

O mesmo prefeito que rejeitou incluir a cultura de matriz africana como patrimônio imaterial da cidade em 2022.
O mesmo prefeito que nunca destinou verbas específicas para cultura LGBTQIA+, mas agora coloca Liniker no palco. Liniker, uma mulher trans preta que representa exatamente tudo o que a direita combate: liberdade de existir, de amar, de ser arte e corpo político.

O Funk e a Direita: Repressão e Fingimento

Em 2023, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou medidas para restringir festas de rua com som alto — na prática, um ataque direto aos fluxos, batalhas de rima e bailes funk. E adivinha quem votou a favor?
Milton Leite (União Brasil) – Presidente da Câmara. Defensor da criminalização do funk.
Rute Costa (PL) – Votou contra políticas de incentivo cultural na quebrada.
Fernando Holiday (PL) – Já declarou em entrevistas que “funk não é cultura”.
Rubinho Nunes (União Brasil) – Defensor do Escola Sem Partido, já se posicionou contra a “ideologização cultural” em eventos públicos.

Todos esses políticos agora aparecem de paletó na Virada Cultural, tirando foto com artistas que eles não defenderam nem quando precisaram de cesta básica na pandemia.

A Cultura LGBTQIA+ na Mira da Direita

A presença de Liniker na programação da Virada é um grito de resistência. Mas é também uma denúncia.
Segundo levantamento da ABGLT, mais de 60 projetos de lei tramitam nas câmaras municipais e assembleias legislativas pelo país com foco em proibir discussões de gênero em escolas, restringir direitos de pessoas trans e criminalizar a chamada “ideologia de gênero”.

Em São Paulo, o PL 504/2020 tentou proibir a veiculação de publicidade com pessoas LGBTQIA+. Tarcísio de Freitas e o Republicanos apoiaram. E agora colocam Liniker no palco?

Dead Fish falando de Reforma Agrária: Isso é Cultura, Isso é Conflito

O vocalista da banda Dead Fish usou o palco para falar sobre reforma agrária, MST, desigualdade de terra. A mesma pauta que os políticos de direita rotulam de “terrorismo”, “baderna”, “coisa de vagabundo”.
Dead Fish levou a luta ao palco. Mas quem os contratou odeia essa luta. É como colocar Marighella pra fazer a campanha do Bolsonaro.

A Direita Não Tem Cultura — Se Alimenta da Nossa

Essa é a verdade nua e crua. A direita não produz cultura, não financia cultura, não valoriza cultura. Mas se alimenta da nossa arte na hora da eleição. Rouba nossos ritmos, nossos símbolos, nossos artistas, nossas gírias. Fingem ser parte da favela, mas votam contra o Vale-Cultura, contra o passe-livre, contra a merenda, contra a arte urbana. Usam nossos MCs pra pedir voto, mas querem a polícia dentro do nosso baile.

Cultura é Resistência — Mas Não Pode Ser Isca Eleitoral

É importante que a Virada Cultural exista. Que o povo ocupe a cidade. Mas é mais importante ainda que a gente entenda: isso não é carinho da direita, é armadilha. A elite fascista finge nos amar por 24 horas, mas nos persegue o ano inteiro.
Por isso, o nosso compromisso é não deixar que transformem nossa arte em vitrine de mentira.
A cultura da quebrada é política. É resistência. É denúncia. É memória. É arma.
E se a gente tiver que subir no palco, que seja pra cantar a verdade.
E a verdade é que essa cidade não vai mudar com show de fim de semana. Vai mudar com voto consciente, com artista politizado, com quebrada informada.
Não vamos cair no golpe do som alto e voto baixo.

Jornal Empoderado
A voz dos invisíveis.
A quebrada não é figurante. É protagonista.

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