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AYRTON SENNA: PRECISAMOS DE UM ESTRANGEIRO PARA LEMBRAR DO NOSSO MAIOR ÍDOLO?

Ayrton Senna: O ùltimo herói nacional que o Brasil ainda aplaude

Recentemente, Lewis Hamilton, em um tributo inesquecível, pilotou a lendária McLaren de Ayrton Senna no GP de São Paulo. Hamilton, um multicampeão da Fórmula 1 e ícone global, trouxe um misto de orgulho e nostalgia ao lembrar Senna, o último ídolo brasileiro que foi capaz de unir o país.

Ayrton não era apenas um piloto vencedor; ele era o símbolo de um Brasil resiliente e otimista, capaz de superar desafios e se destacar no mundo com carisma e habilidade. Mais do que um esportista, Senna foi o representante de uma geração que acordava cedo aos domingos para vibrar, chorar e celebrar junto ao ídolo, um fenômeno cultural que unia trabalhadores e burgueses, pobres e ricos, em torno de um só propósito: torcer pelo campeão brasileiro.

O ícone das Pistas

Senna estreou na Fórmula 1 em 1984 e logo ficou conhecido por suas habilidades em pistas molhadas, como no GP de Mônaco daquele ano, quando quase venceu com um carro modesto, um feito que já mostrava ao mundo sua qualidade como piloto. Mas foi em 1988, 1990 e 1991, ao conquistar três campeonatos mundiais pela McLaren, que Senna entrou para a eternidade do automobilismo. Com 41 vitórias e 65 poles positions, ele estabeleceu recordes que ainda reverberam como inspiração para novos pilotos, mas, acima de tudo, ele se tornou sinônimo de garra e paixão pelo Brasil.

Seu estilo era inigualável: em corridas como o GP do Japão de 1989, ele mostrou que não desistiria nunca, mesmo em batalhas acirradas com o então rival Alain Prost. E talvez nada simbolize mais o espírito de Senna do que o GP do Brasil de 1991, onde ele venceu mesmo com a transmissão do carro danificada, levando a bandeira brasileira para a linha de chegada em meio às lágrimas e ao orgulho nacional.

Um símbolo nacional em tempos de polarização

O que tornava Ayrton Senna um verdadeiro ídolo era a sua capacidade de unir diferentes classes e tribos políticas e sociais. Era um homem branco que, por mérito e autenticidade, conseguiu quebrar barreiras que muitas vezes dividem o Brasil, seja de raça, credo ou classe social. Senna fez isso na Fórmula 1, um esporte amplamente elitizado, onde o acesso era restrito e as barreiras culturais e econômicas separavam a população. Ele, no entanto, conseguiu fazer com que o país inteiro se conectasse, celebrando não apenas suas vitórias, mas também a possibilidade de sonhar com o sucesso. 

A diferença dos ídolos (na verdade famosos) modernos e uma conexão inexistente

Os ídolos atuais não gozam da mesma aura ou conexão profunda com o povo. Mesmo os pilotos brasileiros que tiveram destaque no cenário da Fórmula 1 após Senna, como Rubens Barrichello e Felipe Massa, não alcançaram o mesmo status de herói popular. Em parte, essa desconexão pode ser atribuída ao cenário globalizado, onde o marketing e as redes sociais transformaram ídolos em marcas, mas também à falta de envolvimento genuíno com o povo. Pilotos brasileiros, muitas vezes, vestem o “macacão da burguesia”, mantendo uma distância do público, em vez de adotarem o papel de figuras inspiradoras, como fez Senna.

O gesto de Hamilton desperta uma reflexão amarga: por que é preciso um ícone estrangeiro para nos lembrar do que Senna representou? A atitude de Hamilton, um piloto negro que também luta por igualdade, desperta ainda mais reverência ao nosso herói nacional, fazendo-nos questionar se não somos nós, os brasileiros, que deixamos de lado a reverência ao nosso próprio legado. Senna era mais que um atleta: ele era o símbolo de uma luta por reconhecimento, de uma vontade de vencer e de uma esperança que, embora pareça ter enfraquecido, ainda pode ser revivida.

O legado inesquecível e a saudade de um ídolo real

Senna permanece na memória e no coração dos brasileiros como um herói insubstituível, alguém que soube conquistar com autenticidade e trazer esperança em um país cheio de desafios. Ele não era apenas “o” piloto: era o brasileiro. Sua bandeira no carro, sua humildade e paixão serviam como um reflexo das ambições e sonhos de um Brasil que, apesar das dificuldades, ainda tinha esperança e orgulho de si mesmo.

Em um país que tem escassez de heróis genuínos, a figura de Senna emerge como a lembrança do que é ser um verdadeiro ídolo nacional, alguém que, mesmo décadas após sua partida, continua sendo o sonho de um país unido, capaz de acreditar em suas próprias possibilidades.

Texto: @jonatassolano

Revisão e edição: Tatiana Oliveira Botosso

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