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OPINIÃO: Sobre o racismo, o mau-caratismo e a hipocrisia da classe policial nossa de cada dia

Por Paloma Amorim

Antes de iniciar, eu gostaria de comentar que sou jornalista de formação, estudiosa de questões de raça, classe e gênero e preciso alertar para as tantas camadas da videorreportagem da Ponte Jornalismo, do último dia 12, que flagrou um homem armado ameaçando um jovem negro na Estação Carandiru do Metrô, na zona norte da capital paulista. O vídeo flagrou o rapaz perseguido pedindo ajuda a uma policial fardada e sendo afastado com chute na barriga.

Link para vídeo da Ponte Jornalismo clicando aqui!

Agora vamos lá: nas imagens vemos um homem branco apontando arma para um jovem negro em plena luz do dia, na frente da Estação Carandiru do metrô (nome do extinto presídio responsável pelo massacre de 111 pessoas no ano de 1992, majoritariamente pardas e pretas), com uma mulher asiática (esposa do homem armado) se pondo desesperadamente na frente do jovem negro protegendo-o e tentando evitar o pior e, mesmo assim, o agressor continuava apontando a arma na cara da própria esposa. Menina chorando desesperadamente (filha do agressor) implorando para ir para casa, visivelmente abalada.

Enquanto isso, uma policial, também branca e fardada, não “faz nada” para impedir o ocorrido e, ao ser questionada, alega estar de “folga”. Quando o rapaz negro que está sendo ameaçado se aproxima da mesma para pedir ajuda, ela o afasta, chutando-o. E não para por aí: quando o jornalista que filmou toda a cena se indigna com o descaso e inação da policial, ela sai automaticamente da suposta “folga” e diz que irá prendê-lo por desacato.

A meu ver, esse é o possível pensamento de uma policial branca ao presenciar um homem branco armado ameaçando tirar a vida de um homem negro em plena luz do dia: “Fod@-se essepretinho/bandidinho. Estou de folga! Não estou nem aí!”. Já quando se trata da imprensa questionando a falta de ação/prevaricação* dela, a agente automaticamente recorda-se da sua função e começa a discutir com o jornalista, exaltando-se rapidamente diante da cobrança assertiva dele e dizendo coisas do tipo: “Se o senhor falar comigo desse jeito, eu vou te prender”; “Você é da imprensa? Eu sou da polícia, você me respeita!”; “Quem não presta é você, eu estou de folga”; “Você não me cobra”… gritando e apontando o dedo na cara dele e chegando ao ponto de bater na câmera e – pelo que dá a entender no vídeo – partir para cima de fato do jornalista, interrompendo a gravação, em um claro exemplo de abuso de autoridade.

Eu tenho profundo aversão e nojo do mau caratismo, hipocrisia e racismo impregnados na classe policial como um todo. Vamos colocar a imaginação um pouco em prática… E se fosse o contrário: um jovem negro ameaçando atirar em um homem branco em perna luz do dia com um policial por perto?

Muito provavelmente o policial agiria assim que tivesse conhecimento do ocorrido… e de forma desproporcional, como é o padrão do sistema em relação ao tratamento e abordagem de jovens negros. Talvez um “mata leão” até o rapaz desacordar ou morrer? Agressão desenfreada beirando o espancamento? Três tiros nas costas de “advertência”? E a gravidade da infração de direitos humanos aumentaria ao quadrado, no mínimo, no caso de agente de segurança do gênero masculino.

E não há como evitar de pensar, né? É praticamente certo que tanto o agressor branco, quanto a policial branca apertaram 17 com força nas últimas eleições. Podemos ter vencido “aquele que não deve ser nomeado” nas últimas eleições presidenciais, mas suas ideias reacionárias permanecem em seus apoiadores eleitos e seguidores e são um verdadeiro câncer na sociedade brasileira. Ainda mais no estado de SP, infelizmente governado por uma cria do bolsonarismo implantada. Minha profunda vergonha, revolta e indignação diante desse caso. Que essa agente policial seja punida pelo crime de prevaricação, que o agressor branco responda criminalmente pelos seus atos e que sua esposa seja capaz de romper com esse relacionamento muito provavelmente violento e abusivo, afim de garantir a proteção e bem-estar dela mesma e de seus filhos. Esse caso deplorável não poderá ficar impune.

E, por fim, todo o meu apoio ao colega jornalista que filmou o ocorrido (de quem não sei o nome – se alguém souber, não hesite em me dizer, por gentileza) e não se acovardou diante das ameaças e abuso de autoridade da policial. Nós, jornalistas periféricos, devemos estar sempre vigilantes diante das injustiças sociais que presenciamos, para cumprirmos com aquilo que, a meu ver, é dever de todo jornalista que preze pela profissão e por sua função social: ser porta-voz da sociedade e intermediário da informação com consciência e reflexão social. Esse é o trabalho de um verdadeiro jornalista e o de veículos como esse pelo qual eu vos escrevo. Parabéns, irmão! Estamos juntos na luta. Seguimos em frente e firmes.

*Prevaricação: É um crime praticado por funcionário público, que consiste em retardar ou deixar de praticar, indevidamente, o seu trabalho, para satisfazer interesse ou crenças pessoais. Acontece quando um funcionário, exercendo suas funções, não faz algo que deveria fazer. Ou seja, deixa de cumprir com sua obrigação com base em crenças/interesses pessoais.

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