A companhia aérea Latam Linhas Aéreas, que anteriormente foi TAM Linhas Aéreas, já esteve envolvida em casos de racismo. Em 2020 um passageiro negro estava em um voo, de Natal para São Paulo, e foi informado pela comissária de bordo que não poderia portar equipamentos de mãos (tablet) naquele assento especial denominado Conforto*. Porém, como necessitava usar o seu equipamento eletrônico, mudou para uma poltrona convencional. Sua indignação aconteceu quando ao olhar para os assentos especiais que tinha acabado de sair viu um casal usando tablet sem serem incomodados. Houveram outras situações no mesmo voo.
*O passageiro pagou um valor adicional para esta nesse assento
Depois da viagem terminada, o passageiro, que se sentiu ofendido entrou em contato com a empresa aérea que respondeu de forma genérica e não deu a devida atenção ao caso.
O juizado Especial Civil da Comarca de Boituva além de condenar a LATAM a indenizar a vitima em R$ 10.000,00 (dez mil reais), ainda citou em seu despacho o professor e jurista Silvio Almeida e seu livro “Racismo Estrutural“, para justificar a abordagem como racista. Ainda cabe recurso o caso.
Processo nº 1003699-03.2018.8.26.0082 e clique aqui e obtenha a SENTENÇA completa no site para download.
Após 4 anos mais uma derrota da LATAM
José Roberto dos Santos, trabalhava como operador de cargas no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, prestando serviço para a LATAM, antiga TAM Airlines Brasil, foi vítima de atitudes racistas em duas ocasiões. Roberto é casado, tem dois filhos e mora na região leste de São Paulo.
Sendo a primeira em 2012 quando foi chamado de “macaco” na frente de vários funcionários enquanto trabalhava. Ninguém interviu. E pior, os funcionários ali presentes riram do acontecido. Roberto não prestou queixa por medo de perder o emprego ou ser perseguido depois, na empresa.
Já em abril de 2015, José Roberto foi xingado de “preto safado, sem vergonha” por um motorista de caminhão. Que chegou a repetir ofensas posteriormente.
O José Roberto comunicou o acontecido (as ofensas) para seu superior. O que resultou em uma reunião na sala do gerente, com a presença do supervisor, do líder da equipe, do José Roberto, do agressor e uma funcionária do RH, que veio às pressas, conforme informou Roberto. O Funcionário que xingou Roberto foi perguntado pela funcionária do RH que punição gostaria de receber? O racista sugeriu que deveria ser “advertido” já que a esposa estava grávida e não poderia ser mandada embora. E foi o que aconteceu.
Após ser demitido, Roberto tomou coragem e levou o caso até “Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena, do Estado de São Paulo*“. Porém, antes já tinha ocorrido uma denúncia no Ministério do Trabalho (que na época tinha lançado uma campanha contra assédio moral) e até uma ação trabalhista enquanto estava na empresa.
*A Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena, do Estado de São Paulo tem como uma de suas funções combater discriminações étnico-raciais e religiosas, por meio da formulação de políticas públicas que oportunizem o acesso, o desenvolvimento das potencialidades sócio econômico e cultural, bem como a garantia de direitos, valorizando as iniciativas que promovam o respeito às diferenças.
O caso que teve na época teve grande repercussão, após matéria da agência de jornalismo Alma Preta e republicada pelo portal da CEERT.
Passados quatro anos da denúncia feita na Secretaria de Igualdade Racial da População Negra e Indígena o caso teve resultado exitoso e José Roberto obteve uma vitória. A empresa aérea teve que indenizar Roberto em R$14.000 e R$28.000 por se omitir e não tomar as devidas providências na época do ocorrido. Caso vencido pela comissão jurídica da Coordenadoria ligada aos Direitos Humanos do Governo do Estado. Ainda não se sabe como e quando será paga a indenização.
Casos de racismo deixam horríveis marcas emocionais na vida da vítima e normalmente terminam como dizem popularmente em “pizza”, ou seja, não acontecendo nada. Porém neste caso foi diferente e justiça foi feita. E que sirva de exemplo para que outras empresas e funcionários quando cometerem atitudes racistas.
Falamos com o José Roberto sobre o caso
Jornal Empoderado – Como você sente após a decisão final do caso?
Me senti muito aliviado porque era um processo que já durava quatro anos e nesse tempo fui juntando várias provas inclusive acabei conhecendo pessoas que tbm foram vítimas da latam tanto passageiros como empregados
Jornal Empoderado – E qual impacto teve na sua vida e dá sua família esse caso de racismo?
Esse caso teve um impacto muito grande na hora de uma recolocação, criei uma conta no LinkedIn pra tentar uma recolocação na área e fazendo 2 entrevistas percebi que já sabiam do meu caso, muitas delas falam em diversidades e inclusão mas na prática é diferente.
Jornal Empoderado – Deixe aqui um desabafo sobre esse caso tão sério e que ainda acontece muito nas vidas da população negra
Apesar da demissão por ter denunciado fiz o que era certo e a empresa quis tratar o caso como fato isolado e a melhor maneira de mudarmos isso é não se intimidar e principalmente procurar apoio dos órgãos competentes.
Jornal Empoderado – Você está empregado ou te prejudicou em alguma medida esse caso?
Na área da aviação não e até criei uma conta no likend e como estava desempregado mandei vários “direct”* para pessoas da aviação, diretores , pessoas do marketing mas nenhuma delas me deu atenção. Fiz uma entrevista em uma grande empresa da área de logística, mesma função da latam e lá tbm percebi que já sabiam do meu caso, a mesma situação do Ângelo Assunção e goleiro Aranha que sofreram racismo e tiveram portas fechadas. Muitas empresas falam em diversidade e inclusão mas não estão preparadas para lidar na prática com um caso como o meu.
*mensagem direta
Com a palavra a LATAM
Respostas de 2
Graças a veículos de informação como este jornal, podemos ficar cientes dos acontecimentos e tomar atitudes corretas em casos de racismo.
Obrigada por sua existencia.
Obrigado, Maria Teresinha. E continue nos acompanhando!