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Conheça Lagrila – O mestre dos mestres

O carnaval é a maior manifestação cultural do planeta, e sua existência, crescimento e resistência permanecem devido as presenças de figuras históricas, que no decorrer do tempo doaram suas vidas representando os pavilhões e tradições carnavalescas do samba. Dentre tantos baluartes que construíram uma trajetória significativa no carnaval, um deles se destacou por suas contribuições que atingiram inúmeras escolas de samba em seus mais variados setores.

Laudelino Francisco de Oliveira Filho, mais conhecido como Mestre Lagrila, foi fundamental para a história de tradicionais escolas de samba paulistanas, assim como, extremamente importante para a evolução do carnaval de São Paulo. Por muitos esquecido e por muitos lembrado, de personalidade forte e vitorioso, poucas e sábias palavras, foi um foi um personagem ímpar.

Palavras-chave: Mestre. Samba. Bateria. Carnaval. Lagrila.

Abstract

Carnival is the biggest cultural manifestation on the planet, and its existence, growth and resistance remain due to the presence of historical figures, who over time donated their lives representing the samba pavilions and carnival traditions. Among so many bastions that built a significant trajectory in the carnival, one of them stood out for its contributions that reached innumerable samba schools in its most varied sectors. Laudelino Francisco de Oliveira Filho, better known as Mestre Lagrila, was fundamental to the history of traditional São Paulo samba schools, as well as, extremely important for the evolution of São Paulo’s carnival. For many forgotten and for many remembered, with a strong and victorious personality, few and wise words, he was a unique character.

Keywords: Master. Samba. Drums. Carnival. Lagrila.

Introdução

O samba é maior expressão cultural do mundo e tem em suas origens heranças de matrizes africanas.

Originalmente criado pela população negra do Brasil, o samba ganhou notoriedade mundial e hoje é praticado em quase todos os países do mundo por uma diversidade de pessoas independentemente de seu gênero, religião posição social ou identidade étnica.

A base fundamental do samba é constituída por sua personalidade rítmica, o batuque. Ritmo este que encontra inúmeros estilos que se desenvolveram através dos tempos.

O gênero de proporção mundial e que se tornou uma marca registrada da cultura popular brasileira é o que se refere ao carnaval. O batuque de escola de samba ou ritmo de samba enredo é o que rege os ensaios e desfiles de escolas de samba.

No carnaval, muito fala-se da emoção que uma bateria transmite aos componentes das escolas de samba e seus telespectadores. Mas, pouco são lembrados aqueles que tiveram o mérito de todo desenvolvimento e evolução do ritmo que alucina multidões.

Hoje em dia, devido a era virtual, facilmente podemos constatar a execução de entrevistas, documentários e transmissões ao vivo, com ritmistas, diretores e mestres de bateria da atualidade, entre outros setores que compõe uma escola de samba. Mas, é pouco visto referências aos ícones que construíram a história do carnaval paulistano e consequentemente do Brasil.

Se hoje o carnaval paulistano é patrimônio imaterial do estado de São Paulo, é graças a estes grandes e esquecidos sambistas, que dedicaram suas vidas a esta cultura popular.

E se as escolas de samba paulistanas estão consolidadas com grande qualidade e reconhecimento é devido a influência de grandes sambistas de outrora.

Dentre tantos baluartes que contribuíram para o carnaval de São Paulo, e não tem seus nomes citados em jornais, rádios, programas de televisão, redes sociais e sites especializados, está Laudelino Francisco de Oliveira Filho (Mestre Lagrila), o mestre do século.

Fica aqui aos dirigentes do samba paulistano que o box onde a bateria entra na passarela para a escola passar poderia ter o nome do maior mestre de bateria do carnaval de São Paulo de todos os tempos (Praxedes, 2009).

Apresentação

A história de um povo é constituída por meio da construção e desenvolvimento cultural de uma sociedade, através das artes, patrimônios, tradições, fatos e feitos.

Nada disso é possível sem o empenho e coragem de seus personagens para serem percursores, inovadores ou transformadores da história.

O carnaval de São Paulo em sua longa existência, perpetuou um enorme período de preconceito e descrença, e grandes sambistas não esmoreceram na difícil missão de consolidar a terra da garoa como grande polo carnavalesco do Brasil.

Desde seu surgimento a folia paulistana atravessou algumas décadas com apresentações de inesquecíveis blocos carnavalescos, passando por uma grande fase de transformação com o surgimento das primeiras escolas de samba.

Este divisor de águas não seria possível sem importantes figuras do samba da época, e entre eles destacou-se um homem que doou sua vida inteira ao samba.

Laudelino Francisco de Oliveira Filho, foi um sambista de berço nascido em 1944, por coincidência no dia 20 de novembro, futura data da consciência negra Brasil.

Sua mãe foi baiana da escola de samba Brasil de Santos e seu pai músico violonista. Mudaram-se de sua cidade natal Santos para São Paulo, onde instalaram-se no bairro rural de Itaquera, onde cresceu em meio as ruas de terra, casas de pau a pique, chácaras e fazendas existentes na região.

Em busca de dias melhores a família migrou para São Paulo, indo morar na distante zona leste, na ainda deserta e pacata Itaquera, com suas chácaras, campos de várzea e muitas hortas. Negros e japoneses dividiam o espaço e viviam em harmonia relatava o mestre (Praxedes, 2009).

Ainda jovem e sem ser conhecido teve a oportunidade de frequentar e familiarizar-se com muitas escolas de samba, galgando uma trajetória que foi de um simples ritmista a mestre de bateria muito rápido. Não somente escreveu seu nome na história do carnaval paulistano, mas tornou-se uma lenda viva. Pois, mesmo antes de seu falecimento, quando sofreu um atropelamento e não resistiu, já era considerado o mestre dos mestres.

O dia 12 de dezembro de 2009, amanheceu cinzento e triste. A noite não foi diferente a chuva na Paulicéia tornou-se intermitente e fria…

Parecia que o firmamento chorava a partida de um mestre do samba, o mestre Laudelino Francisco de Oliveira Filho, o nosso mestre Lagrila (Britto, 2009).

Foto: Mestre Lagrila – Acervo Pessoal (SRZD)

Trajetória

Sua saga como mestre de bateria começou no início da década de 60 na escola de samba Folha Azul dos Marujos, já extinta, mas tradicional escola de samba da zona leste na época.

Comandar uma bateria naqueles tempos não era tarefa fácil para qualquer um. Apresentado por amigos ao mestre de bateria da Nenê de Vila Matilde, logo em seguida suas qualidades chamaram atenção do cacique do samba, um dos mais conceituados sambistas de todos os tempos.

Seu nenê como era conhecido o falecido presidente da escola de samba da Vila Matilde, na qual leva seu nome até hoje, viu naquele jovem um mestre de bateria promissor, e não pensou duas vezes em nomeá-lo como mestre de bateria de sua agremiação.

Em 1965 Mestre Lagrila assumiu o posto de mestre de bateria da Águia Guerreira. E em seu primeiro ano na escola conquistou seu primeiro título.

Nós tínhamos o culugundum (mistura de percussão de escola de samba’ com maracatu que a Nenê de Vila Matilde usou de 1950 a 1970), era uma batida que ninguém jamais tinha visto, nós inventamos lá na Penha, na Vila Matilde, e fazíamos brincando com o mestre Lagrila. Era um sucesso e, quando a gente vinha lá de longe, o pessoal já sabia; lá vem a Nenê”. (Trecho Retirado do Livro Memórias do Seo Nenê de Vila Matilde Ana Braia” (SRZD, 2018).

Naquele período carnavalesco as baterias tinham fundamental importância nos resultados finais dos concursos, e Mestre Lagrila permaneceu apenas dois anos sem conquistar títulos.

No final dos anos 60, consagrou-se conquistando uma sequência de três títulos ainda sob o pavilhão da Nenê de Vila Matilde. Foi campeão em 1968, 1969 e 1970, quando a azul e branco superou as expectativas e desbancou a favorita Unidos Peruche. Isso, despertou as atenções de outros presidentes de escolas de samba que já almejavam seus talentos, e obviamente ficou difícil manter o mestre na zona leste.

Dizem por aí nas rodas de bambas, nas noites madrigais e nas ruelas das quebradas do mundaréu, que até o poeta Vinícius de Moraes se rendeu ao talento dos ritmistas da Nenê de Vila Matilde sob a tutela de Lagrila: “Uma escolinha mixuruca e uma bateria fora de série, resultado: sucesso”, teria dito Vinícius (SRZD, 2018).

A Mocidade Alegre que por sua vez deixou de ser o bloco Peg-Pag, passou a integrar o grupo de elite do carnaval de São Paulo e não perdeu tempo levando o Mestre Lagrila para o bairro do Limão.

Juarez da Cruz como presidente da agremiação da zona norte, percebeu que seria um grande erro entrar em seu primeiro ano de disputa no principal grupo do carnaval sem ter o exímio mestre Lagrila conduzindo a bateria de sua escola.

Ali Lagrila implantou sua batida, tradicionalmente uma levada carioca de caixa que a escola nunca mudou. Fez os tamborins tocarem de maneira sequencial e fez a bateria zigzaguear na Avenida São João – taí pra quem acha que coreografia de bateria é coisa nova (Praxedes, 2009).

Em meio a sua passagem pela Mocidade Alegre, Mestre Lagrila já trouxe novidades e implantou um trabalho com crianças da escola, formando a primeira bateria mirim da história, atividade que também introduziu mais tarde no Camisa Verde e Branco e depois em outras agremiações que passou.

Também criou movimentos na bateria, zig zag, caracol, formou as letras M.A. (iniciais do nome da escola). O que chamam hoje de coreografia ele já executava com extrema facilidade naqueles tempos.

Dirigindo a bateria como sempre a sua maneira, sozinho, Mestre Lagrila surpreendeu mais uma vez o mundo do samba. Conquistou junto a Mocidade Alegre outro grande feito, repetindo um vitorioso tricampeonato por uma mesma escola de samba. Sagrou-se o mais vitorioso sambista da história, acumulando seis títulos consecutivos, sendo campeão nos anos de 1971, 1972 e 1973.

Se você me ver dirigindo a bateria sou eu, e só, eu sozinho. Eu sou o responsável, se estiver boa sou eu, se estiver péssima sou eu e se estiver mais ou menos sou eu também. Não tem três caras, um aqui, um lá no meio, na beirada, na ponta, pra mim não, isso aí é invenção (SRZD, 2015).

Quando todos pensavam não ser possível ser mais vitorioso que isso, iniciou-se uma disputa pela batuta do Mestre Lagrila, estavam nessa corrida a Nenê de Vila Matilde que tinha interesse em resgatá-lo ao reduto azul e branco, e a rival da Mocidade Alegre e também escola de samba oriunda do bairro do Limão, Unidos Peruche.

Inocêncio Tobias, presidente do Camisa Verde e Branco, sentindo a necessidade de reestruturar sua bateria que ainda tinha resquícios de personalidade de quando era cordão, resolveu ir em busca deste sambista que claramente fazia a diferença por onde passava.

Então, como o Camisa Verde e Branco estava adentrando no grupo das grandes, não mediu esforços e levou o mestre pé quente para a Barra funda.

Mestre Lagrila com toda sua sapiência investiu em modificações na formação da bateria, deixando novamente uma marca diferenciada.

O resultado não poderia ser diferente e o Camisa Verde e Branco foi sublime em suas conquistas juntamente com o inigualável Mestre Lagrila.

Desta vez, o ápice da conquista não foi simplesmente o tricampeonato. Juntando os títulos de 1974, 1975, 1976 e 1977, o Camisa Verde e Branco angariou um tetracampeonato ao seu hall de troféus, e Mestre Lagrila mostrou ser um sambista único, detentor de 10 títulos sequentes no carnaval do Brasil.

Não menos valoroso, pulando somente um ano, em 1979 Mestre Lagrila conquistou mais um carnaval atuando pelo Camisa Verde e Branco. Totalizando doze títulos conquistados em um período de quinze anos de perfeita maestria.

…por pouco em 78 não repetiu a dose. Em 1979 deu Camisa Verde novamente onde a bateria fez uma apresentação exemplar com breques e desenhos em cima da melodia do samba “Almondegas de Ouro (Praxedes, 2009).

Foto: Mestre Lagrila – Acervo Pessoal (Revista Sampa)

Mestre dos Mestres

Após uma trajetória meteórica no samba, causando uma avalanche de títulos por onde passou, Mestre Lagrila continuou plantando suas sementes pelos terreiros de sambas da cidade de São Paulo.

Residente no bairro de Itaquera no extremo leste de São Paulo, Mestre Lagrila ajudou na fundação de duas escolas do bairro.

Primeiro o Falcão do Morro Itaquerense, escola fundada em 1970, onde contribuiu com enredos, sambas e foi mestre de bateria por algumas vezes.

Em 1981, Mestre Lala como era carinhosamente chamado por alguns ritmistas mais próximos, foi compartilhar seus conhecimentos assumindo a bateria da Sociedade Rosas de Ouro, na Brasilândia, zona norte da cidade, onde permaneceu por dois anos e deixou a bateria sob o comando de Mestre Zuca.

E depois na Leandro de Itaquera em 1982, onde esporadicamente foi mestre de bateria, contribuiu na fundação e no crescimento da escola também atuando com enredista e compositor.

Em seguida voltou a Nenê de Vila Matilde em 1983, com breve passagem na escola de samba na zona leste, onde obteve as primeiras de suas inúmeras conquistas.

Já em 1984, dando sequência a sua peregrinação, aportou novamente no bairro do Limão, mas desta vez vestiu a camisa da Unidos do Peruche, permanecendo a frente da bateria até 1987.

Nesse ano a Unidos do Peruche através do Mestre Lagrila é convidada para participar do “Troféu Quartel General de Bamba” na quadra da Mangueira e foi ali que a bateria do Peruche ganhou o nome de “Bateria Grau 10 (Praxedes, 2009).

Seguindo pelos anos 80, ele foi extremamente ativo no fortalecimento interno de várias agremiações de diferentes grupos e diferentes regiões.

Em 1988, respirando ares da zona leste, comandou a bateria da Flor de Vila Dalila no grupo de elite do carnaval, com um belo samba muito atual até os dias de hoje (Nova República – Me engana que eu gosto).

No ano seguinte 1989, dirigiu a bateria da estreante Leandro de Itaquera na elite carnavalesca, onde atuou até 1992.

Em 1992, com o enredo “Sou Leandro, sou feliz, sou batuque, sou a força da raiz”, a Leandro de Itaquera teve problemas com as fantasias da bateria. Mais da metade dos batuqueiros ficaram sem fantasia ou apenas com parte dela. Escola armada na boca da avenida e na bateria apenas 47 batuqueiros completamente fantasiados. Lagríla puxou a bateria para dentro da avenida e caminhou por ela uns 50 ou 60 metros sem tocar, na certa aguardando mais algum integrante que se ajeitasse. Quando percebeu que não podia mais protelar, diante da monumental, Lagrila soltou o bicho. Aqueles poucos batuqueiros levantaram todo mundo, a escola, a arquibancada, o samba, também as três notas 10 e o estandarte de ouro do ano. Sabia muito o Lagríla. Será para sempre lembrado (Germano, 2009).

Permanecendo ainda na zona leste, em 1993 ascendeu a Unidos de São Miguel do grupo de acesso para o primeiro grupo, e concomitantemente dirigiu a bateria dos Acadêmicos do Tucuruvi da zona norte desfilando no grupo da elite carnavalesca.

Com forte reconhecimento sobre o trabalho realizado na Leandro de Itaquera, mais uma vez foi convidado para ficar à frente da bateria da vermelho e branco da zona leste, onde formou incontáveis ritmistas que fomentaram entidades de toda a cidade.

Nessa última passagem atuou em 1998 e 1999, quando nesse último ano conquistou a primeira edição do Troféu Nota 10, deixando a Leandro de Itaquera em terceiro lugar, melhor colocação alcançada pela agremiação no grupo especial.

Nesse mesmo ano de 1999 foi intitulado pela Folha de São Paulo como o Mestre do Século, lembrando que já havia ganho diversas vezes o Prêmio Apito de Ouro.

No ano seguinte atravessou a cidade para apitar a frente da bateria verde e rosa da Barroca Zona Sul, junto de um de seu discípulo (Bagulé), que já havia sido seu ritmista no Camisa Verde e branco em anos anteriores, onde mais uma vez alcançou as notas máximas.

Para Lagrila o seu auge maior eram suas notas, porém, se a sua bateria não transmitisse a mesma emoção às arquibancadas, isto não era samba, não era sua essência, não era Lagrila (SRZD, 2018).

Griô do Samba

Depois de tantas andanças por grandes escolas, resolveu caminhar por agremiações menores que necessitavam de um respaldo para se fortalecerem e estruturarem no carnaval da cidade de São Paulo, tornou-se um fomentador carnavalesco, pois tanto conhecimento não poderia deixar de ser compartilhado.

A está altura Mestre Lagrila já se tornara um cigano do samba, era um formador e por isso, muito requisitado por todos. Era inevitável dividir-se em várias funções, pois seu conhecimento não era somente sobre ritmo de escola de samba.

Maria Aparecida Urbano, Historiadora e primeira Carnavalesca em São Paulo relembra do velho amigo: Lagrila tinha um gênio forte e convivência difícil, mas era também um bom amigo um conselheiro e orientador, quando se tratava de assuntos a respeito do samba (Isidoro, 2018).

Toda sua experiência através do tempo o transformou em uma espécie de griô do samba. Presidentes o solicitavam para organização e direção de carnaval das escolas, diretores de harmonia tinham necessidade de palestras ou o convidavam para coordenação de setores, oficinas e workshops para ritmistas e mestres de bateria, além de também ministrar cursos para formação de jurados.

No período em que estava à frente de grandes baterias também ajudava escolas do acesso passou também pela Águia de Ouro, Imperador do Ipiranga, Acadêmicos do Tatuapé, Morro da Casa Verde, Tom Maior, X9 Paulistana, Acadêmicos do Ipiranga entre outras … Foi diretor de carnaval do Flor de Liz, da Águia de Ouro, Nenê de Vila Matilde e por último no Brinco da Marquesa… E ainda fundou o Bloco Imperiais Unidos que fez grandes carnavais na UESP (Praxedes, 2009).

Mestre Lagrila foi também um grande descobridor de talentos e muitos nomes do samba surgiram através de seu intermédio. Revelou muitos ritmistas que futuramente tornaram-se músicos, diretores e mestres de bateria. Alguns como:

Mocidade Alegre: Neno/ Kit/ Ipujucan/ Coelho/ Chaleira/ Hugo Santana

Nenê: Divino/ Albano/ Claudemir/ Pascoal/ Pelegrino/ Dartagnan/ Mi

Camisa Verde: Telha/ Rubinho/ Bagulé

Leandro: Dinei/ Dirceu/ Kincas/ Pelé

Peruche – Maguí/ Calutti

(Praxedes, 2009)

Coluna dedicada aos antigos ritmistas que ajudaram a trilhar os passos do mestre: Champlin, Doce, Hernani, Mário, Ninhão, Patinho, Serjão (considerado por ele o maior surdo de terceira de nosso Carnaval) e tiba (SRZD, 2018).

São inúmeras as histórias contadas sobre este singular personagem do samba de São Paulo. Pois, obteve grande vivência e transmitiu seus conhecimentos a diversos sambistas de diferentes gerações durante seis décadas.

Esse premiado sambista de personalidade fortíssima, conquistou todos os títulos que alguém possa almejar no carnaval, mas isso não o fez parar.

Durante sua carreira atuou e participou em alguns programas de rádio voltados para o mundo do samba.

            Foi o segundo sambista a ser condecorado Cidadão Samba no carnaval de São Paulo, antes dele somente Oswaldinho da Cuíca criador da Embaixada do Samba.

            Compositor de sambas enredo para diversas escolas, produtor de inúmeros LP’s do carnaval de São Paulo nas décadas de 80 e 90.

Lançou seus próprios discos, Mestre Lagrila e sua bateria envolvente, e Mestre Lagrila 105 no Samba.

Considerou-se privilegiado por ter conhecido e convivido com mestres os quais admirava, como Mestre Waldomiro da Mangueira, Mestre André da Padre Miguel e Mestre Marçal da Portela.

Foi sob seu comando que em uma visita de Mestre Marçal na Barra Funda que a bateria ganhou o apelido de furiosa (Praxedes, 2009).

Foto: Acervo Pessoal

Discografia – Sambas Enredo

 Música Compositor(es)  Ano  Disco  Tipo Intérpretes
Água Cristalina (Unidos do Peruche – Samba-enredo 1985) Ideval / Mestre Lagrila 1986 FOGUEIRA DE NÃO SE APAGAR LP Eliana de Lima
Água Cristalina (Unidos do Peruche – Samba-enredo 1985) Ideval / Mestre Lagrila 1984 SAMBAS DE ENREDO DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO I – CARNAVAL 1985 – SÃO PAULO LP Eliana de Lima
Água Cristalina (Unidos do Peruche – Samba-enredo 1985) Ideval / Mestre Lagrila 1994 ROYCE DO CAVACO LP/CD Royce do Cavaco
Carnaval Alegria do Povo Olha Aí a Comunidade (Leandro de Itaquera – Samba-enredo 1993) Pezão / Luisinho de Itaquera / Márcio / Mestre Lagrila / Marquinho João de Barro / Kabello / Ronaldinho / Betto Muniz / Café da Leandro 1993 SAMBAS DE ENREDO DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO ESPECIAL E GRUPO 1 – CARNAVAL 1993 – SÃO PAULO LP Eliana de Lima
Noite Para Uma Rainha Negra (Samba Imperador do Ipiranga – Samba-enredo 1986) Mestre Lagrila / Ideval 1986 SAMBAS DE ENREDO DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO 1 – CARNAVAL 1986 – SÃO PAULO LP Márcia Inayá
O Rei do Picadeiro (Unidos do Peruche – Samba-enredo 1986) Ideval / Mestre Lagrila / Carlinhos 1986 SAMBAS DE ENREDO DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO 1 – CARNAVAL 1986 – SÃO PAULO LP Eliana de Lima
Querem Acabar Comigo (Leandro de Itaquera – Samba-enredo 1991) Luisinho de Itaquera / Café da Leandro / Kabello / Tiago Lee / Mestre Lagrila 1990 SAMBAS DE ENREDO DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO 1A – CARNAVAL 1991 – SÃO PAULO LP Ainda Sem Intérprete
Salve Piná Don Richard / Mestre Lagrila ABOLISAMBA LP Grupo Abolisamba
Tentar Te Esquecer Mestre Lagrila / Kavas / Laerte 1993 DRINK DO AMOR LP/CD Eliana de Lima

Fonte: Instituto Memória Musical Brasileira (IMMuB).

Estes são alguns dos sambas mais marcantes compostos em sua carreia, gravados por escolas dos grupos principais. Existem muitos outros que não tem registros discográficos.

 

Considerações

            De origem humilde e família simples, Laudelino Francisco de Oliveira Filho, foi um jovem apaixonado pelo carnaval, esta herança deixada pelos pais, sempre esteve em evidência em sua vida.

Vindo da cidade de Santos, onde o carnaval era de forte expressão, mesmo muito novo, trouxe em sua bagagem grandes objetivos. Sua rotina estava vinculada aos eventos de escolas de samba, e rodava pela cidade para batucar e adquirir experiências de ritmo.

Mais rápido do que esperava já estava à frente de uma bateria, onde sua desenvoltura chamou a atenção de dirigentes de uma grande escola de samba.

Seu talento logo foi reconhecido e nesse momento deixou de ser Laudelino e passou a ser o conhecido Mestre Lagrila da Nenê de Vila Matilde.

Mestre Lagrila foi um personagem polêmico do carnaval de São Paulo, sujeito de personalidade ímpar, bom malandro, fala mansa e contundente nas palavras.

Seu jeito de ser, sem papas na língua e discurso direto o trouxe respeito entre todos os ritmistas que o conheciam. E da mesma forma que era sincero e objetivo, até com um certo ar de prepotência, era acolhedor, agregador e solidário.

A mesma sede que teve em beber de conhecimentos sambísticos, tinha em compartilhar tudo que aprendeu ao longo dos anos.

Metade de sua trajetória no carnaval, dedicou-se ensinando crianças, tinha enorme prazer em ensinar os mais jovens. Pois, dizia ele ser mais fácil por não terem vícios rítmicos.

Suas conquistas são tão fantásticas e incomparáveis, que ao mesmo tempo que estes feitos o colocaram na história, consolidaram aquelas agremiações que partilharam seus títulos a um outro nível em relação as demais.

Doze títulos em quinze anos, dez deles consecutivos, nem o sambista mais ambicioso pode imaginar ganhar tantos títulos dessa forma.

Ser campeão é bom, ser bicampeão é ótimo, ser tricampeão é demais, ser tetracampeão é além das expectativas, agora ser verdadeiramente decacampeão não é para simples mortais.

Podemos assim, chamá-lo de sambista imortal, pois suas glórias inigualáveis ficarão gravadas pela eternidade. Quando qualquer sambista vir as estrelas no pavilhão daquelas escolas, saberão que três ou quatro delas, foram graças a ele.

A existência de Mestre Lagrila no mundo do samba, não foi repleta de conquistas somente para ele.

Toda sua carreira foi um presente ao carnaval paulistano, sua longa trajetória contribuiu e muito para a evolução das escolas de samba e formação de todos os sambistas que tiveram o privilégio de usufruir de seus conhecimentos direta ou indiretamente.

Foi admirado e considerado por seus ídolos, três dos maiores Mestres de Bateria da história do Carnaval do Rio de Janeiro, Mestre André, Mestre Waldomiro e Mestre Marçal, estes que eram sua referência maior.

Fazendo uma alusão a cultura afro, a qual somos descendentes e como também temos nossa cultura influenciada pelas raízes africanas, não seria incorreto nomeá-lo de Griô do carnaval depois de tanta sabedoria que espalhou em todos os terreiros de samba que passou.

Transmitia segurança aos seus comandados e dizia que o feijão com arroz bem feito era o melhor ritmo para a avenida, mas sempre dizia que era importante agradar ao público, pois a festa era feita pelo povo, para ao povo.

De uma forma ou de outra, Mestre Lagrila foi uma figura marcante na vida de quem o conheceu. Tocou, cantou, sambou, fez a sua história e ajudou a construir a história de muitos.

Não pode existir a história do carnaval de São Paulo sem existir a história do Mestre Lagrila. Sua vida foi o carnaval, o carnaval foi a sua vida, seis décadas de samba, batucando e fazendo a festa na avenida. O melhor de todos os tempos!

O mestre partiu no final de 2009, após ser atropelado e infelizmente não resistir. Seu enterro foi marcado pela tamanha ausência das escolas de samba e autoridades do carnaval de São Paulo. No cemitério da Cachoeirinha contei no máximo 30 pessoas, entre alguns sambistas como Robson de Oliveira, Penteado, Landão da Nenê, Candinho, Dona Maria Helena e Dicá que levemente cantarolava “Morreu malvadeza durão”, um samba de Grande Otelo (Praxedes, 2009).

 

Referências

GERMANO, Douglas – 15 de dezembro de 2009.

Mestre Lagrila.

http://douglas-germano.blogspot.com/2009/12/mestre-lagrila.html

BRITTO, Waldir – 19 de dezembro de 2009.

A morte de um sambista (Mestre Lagrila).

http://butiquimdodica.blogspot.com/2009/12/morte-de-um-sambista-mestre-lagrila_19.html

SALES, Luiz (Pesquisa e texto) – 13 de junho de 2014.

Censo 100 Anos do Samba Paulistano

https://issuu.com/marcelooreilly/docs/2014-censosambapaulistano

PRAXEDES, Thiago – 12 de dezembro de 2009.

Revista Sampa – O mestre dos mestres

https://www.revistasampa.com.br/colunas/o-mestre-dos-mestres/

BRASILEIRA, Instituto Memória Musical – 2017.

Mestre Lagrila – Artista.

https://immub.org/compositor/mestre-lagrila

SRZD, Redação – 24 de julho de 2018.

Mestre Lagrila, DNA de sambista, trajetória de vencedor.

https://www.srzd.com/carnaval/sao-paulo/mestre-lagrila-dna-sambista-vencedor/

ISIDORO, Diney – 20 de novembro de 2018.

Mestre Lagrila – Ao mestre com carinho.

https://medium.com/@dineysp/na-parede-da-mem%C3%B3ria-saudades-mestre-lagrila-df66138d6ed9

WEB, Gazeta – 22 de novembro de 2004

Oficina de Instrumentos do Mestre Lagrila

https://gazetaweb.globo.com/portal/noticia-old.php?c=3901&e=

Fotode capa: Mestre Lagrila.  –  Acervo

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