Lá venho eu por aqui lembrar do que incomoda, mas entendam que é necessário, afinal, se quem pode assumir abertamente um posicionamento se omitir, as coisas não mudam.
E reclamar de dentro de casa é gastar palavras em vão.
Estamos vivendo há mais de um mês, quase chegando a dois meses, um distanciamento social em virtude de um vírus que tem se mostrado cada dia mais letal e que assusta grande parte da população.
“Fiquem em casa”, eles dizem, mas, que casa?
Estive refletindo sobre o que essa frase significa.
Pra mim ficar em casa é torturante, gosto de passear, trabalhar fora, ter minha liberdade intacta, mas quando paro para pensar sobre me isolar em casa, penso numa casa com quintal, acesso à internet, água potável, esgoto sanitário, uma cama confortável, diferentes cômodos para usufruir, canais diversos de TV, computador, celular e por aí vai.
Daí me lembro de outros, aqueles que não têm acesso a tudo isso, aqueles que moram num único cômodo com várias pessoas em locais onde os serviços básicos não chegam e pra quem a população jamais se importou em olhar antes, mas que agora viraram a justificativa da classe média alta:
– “Como vamos comer se não trabalharmos?”
– “E os pobres vão viver como?”
– “A população não vai morrer do vírus, vai morrer de fome!”
O isolamento periférico e a cota das cotas
É, então, que me pergunto onde esses seres, tão preocupados com a humanidade menos favorecida socialmente ou mesmo racialmente, visto que a população negra é o maior número em situação de vulnerabilidade, se encontrava antes.
Pois das bocas que vejo esse tipo de frase sair, já ouvi também que somos todos iguais, que cotas são injustas, que as pessoas se vitimizam e que todos têm o direito de melhorar de vida.
Será?
O ENEM vem aí, o filho do rico está se preparando desde o primeiro ano do Ensino Médio, mas e o filho da periferia, que mal tem dias letivos?
“Usem livros e computadores”, eles dizem, isso para o filho do rico é fácil, mas e para os filhos da periferia?
Eu digo: ADIEM O ENEM!
A educação é direito de todos, mas a situação atual é excludente e não há cota no mundo que repare essa situação.
Pois se já os veem como cota apenas por existir, imaginem a cota que assumem por não ter recursos para fazer valer o básico direito à educação de qualidade.
O vírus veio para lembrar que existem coisas que ultrapassam as esferas sociais, mas como li em algum lugar, “estamos todos enfrentando a mesma tempestade em alto mar, só que alguns a enfrentam em barco a vela, outros em navios luxuosos.”
Então, nessa dinâmica, quem você acha que sairá sobrevivente?