JE: As bonecas negras são símbolos de luta negra?
Sim, representam a identidade e resistência,onde as crianças passaram a ter nas bonecas negras a identidade que era negada pela sociedade racista. Além do resgate das bonecas, a Abayomi passou a ser : Símbolo de Resistência, Tradição e Poder Feminino.
JE: Qual sua opinião sobre colorismo(discriminação pela cor da pele) e lugar de fala?
Ser negro de pele clara não e ser menos negro, mas é saber que o racismo nos atinge, e de forma diferenciada, com mais violência aos negros de pele escura ou retintos. Aos negros e negras de pele clara no seu lugar de fala cabe denunciar e ter ações de desconstruir quando o colorismo ocorrer. Temos que conversar muito entre nós sobre o colorismo para não cair na armadilha do racismo que nos separa.
Afinal, avançamos nas políticas anti racistas quando juntamos os negros de pele clara e negros de pele escura no combate ao racismo, o que nos permitiu na formulação do IBGE sermos 54% da população brasileira, formando assim a maioria.
JE:Em que momento a Rosa se descobriu como militante?
Fui admitida no Metrô, em outubro de 1988 ,participei da greve no sistema ,o que ocasionou minha demissão . Nessa greve foram demitidos 354 metroviários, minha demissão estava na última listagem e por isso cancelada, após várias negociações que ocorreram para retorno ao trabalho com garantia de emprego.
De forma intuitiva ,fui bastante atuante no apoio aos demitidos nas arrecadação e campanhas realizadas pelo sindicato.
Quando fomos reconstruir nossa atuação sindical e posteriormente disputar a direção do sindicato, fui convidada a integrar a chapa representando a área administrativa. Acredito que foi nesse momento pela política sindical, que despertei para militância.
JE: Como surgiu sua ligação com o PCdoB a e UNEGRO ?
A atuação no sindicato me aproximou de militantes do PCdoB ,que atuavam na categoria , assim conheci a construção política do partido, houve uma identificação imediata com o programa , foi quando houve o convite pelo militante comunista Wagner Fajardo para que eu ingressasse no PCdoB.
O convite foi aceito em 1989 e permaneço, até os dias de hoje ,como dirigente estadual do PCdoB.
Conheci a Unegro em 1990, quando estava na militância sindical e partidária, através de militantes comunistas que Militam na entidade , a Unegro foi importante para na minha conscientização de mulher negra e sindicalista. O aprendizado da Unegro levei para o sindicato e contribuiu na elaboração de cláusulas na pauta de reivindicações específicas para as mulheres, na luta anti racista na empresa e nas campanhas salariais. Além da minha atuação no movimento negro.
JE: Nós imaginamos a dificuldade de colocar a Marcha na rua, principalmente no atual cenário em que o Brasil vive,você acredita que a marcha das mulheres negras ,tornou-se um símbolo de luta da cidade?
A importância da marcha das mulheres negras de 2015 se originou com a reunião de 50 mil mulheres em Brasília ,em torno de bandeiras construídas nos últimos 30 anos ,no movimento de mulheres negras ,condensados nas propostas de combate ao Racismo,Machismo e pelo bem viver. Num momento conturbado da política ,onde estava sendo criado o golpe.
Durante a caminhada ,fomos intimidadas por manifestantes fascistas, seguimos em frente e terminamos nossa marcha com muita resistência . Também entregamos para a presidenta Dilma nossas reivindicações. O golpe consumou-se em 2016 ,onde foi retirada do poder emanado pelo voto,a primeira presidenta do Brasil que interceptou nosso diálogo.
No ano de 2016, 2017,2018 e 2019, continuamos a construção da marcha com as propostas que originaram a marcha contra o Racismo , Machismo, e pelo bem viver, contra a Lesbofobia e levamos na marcha os temas que impactam a vida das mulheres negras na sociedade.
A marcha reúne-se durante todo ano, e intensifica -se no mês de julho ,para a construção do Julho das pretas ,onde realizamos atividades que mobilizam-se para o dia 25 de julho, quando vamos pra rua.
Não e fácil colocar a marcha nas ruas todos os anos, com a preparação que citei acima, tem a questão burocrática, porque embora estejamos em estado democrático de direito que assegura a livre manifestação, contamos com as restrições das autorizações para colocar a marcha nas ruas.
JE: Rosa como é militar em tempos do Covid 19?
Tem sido um desafio a militância com o isolamento social imposto a todas e todos. As plataformas tem auxiliado a realização de reuniões que tornou possível , discussões e consensuar ações para construção de ações junto à população.
Compreendendo que a crise política e económica que vivemos no Brasil acirrou com o golpe de 2016 e aprofundou se com a eleição de Jair Bolsonaro.
O seu comportamento nessa crise do coronavírus que se contrapõe ao isolamento social, com o argumento de salvar a economia para nao ter desemprego que antes da crise ja era de 13 milhões de desempregados em detrimento da vida.
A pouca vontade política de seu governo para concretizar as medidas que foi uma luta dos movimentos sociais e congresso com a aprovação Renda Mínima e Apoio financeiro às pequenas e médias empresas . Nos coloca o desafio de praticar a solidariedade buscando doações para levar alimentos e kit de limpeza a nossa população das favelas e periferias para o combate ao coronavírus.
Mas o que não perdemos de vista e que cabe ao governo cumprir o seu papel e construir políticas públicas de proteção para população negra das favelas e periferia.
JE: Como você enxerga a pandemia atual e seu impacto para a população negra?
Causa grande preocupação a Pandemia do Novo Coronavírus. Porque o racismo estrutural naturalizou as desigualdades e tornou a nossa população negra vulnerável. As habitações insalubres e sem nenhuma estrutura do estado como o acesso a água e esgoto e densamente povoadas, impedem que o isolamento social seja praticado por essa população e assim salvar vidas negras.
O acesso limitado a saúde com o desmonte do SUS, desde o golpe de 2016, onde a população negra e a principal usuária, causa apreensão uma vez que a pandemia pode colapsar o sistema de saúde pública. Outro fator de risco que nos fará utilizar o sistema de saúde são as comorbidades, por causa de doenças crônicas causadas pela alimentação ruim que nossa população tem acesso.
Portanto o racismo estrutural sempre limitou a população negra a ter acesso a bens e serviços. E a pandemia do covid 19 escancara essas desigualdades. Hoje sabemos que o Covid 19 chegou às favelas e periferias e se não houver uma política pública com medidas objetivas acontecerá um genocídio. Bem, a nossa luta é pela vida e reafirmamos que Vidas Negras Importam.
Nos siga nas nossas redes sociais e fique por dentro do que acontece nos eventos do movimento negro e seus direitos , cultura HipHop, Esporte do interior, Politica Social, , e tudo que envolve a população invisível.
Facebook: https://www.facebook.com/jornalempoderado/
INSTAGRAM: jornalempoderado
Twitter: @Jornalempodera2