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Rosa Maria de Anacleto Presidente Estadual da Unegro

O Jornal Empoderado conversou com Rosa Anacleto, presidente da “Unegro – União de Negras e Negros Pela Igualdade” e integrante da “Marcha das Mulheres Negras de São Paulo”. Conheçam um pouco dessa incrível mulher negra e sua luta e trabalho. Boa Leitura e #fiquemecasa !
 
 
 
 
 

 

 

JORNAL EMPODERADO: Quem é a Rosa? Nasceu em qual cidade? Qual sua formação?
Rosa Maria Anacleto, sou  Presidente Estadual da Unegro, União de Negras e Negros pela Igualdade, Trabalho no Metro, sou sindicalista, atualmente estou como diretora da Fenametro _  Federação Nacional dos Metroferroviários, nascida na cidade de Campinas/SP.  Formada em Administração de Empresas, Direção Estadual do PCdoB.

JE: As bonecas negras são símbolos de luta negra?

Sim, representam a identidade  e resistência,onde as crianças passaram a ter nas bonecas negras a identidade que era negada pela sociedade racista. Além do resgate das bonecas, a  Abayomi passou a ser : Símbolo de Resistência, Tradição e Poder Feminino.

JE: Qual sua opinião sobre colorismo(discriminação pela cor da pele) e lugar de fala?

Ser negro de pele clara não e ser menos negro, mas é saber que o racismo nos atinge,  e de forma diferenciada, com mais violência aos negros de pele escura ou retintos. Aos negros e negras de pele clara no seu lugar de fala cabe denunciar e ter ações de desconstruir quando o colorismo ocorrer. Temos que conversar muito entre nós sobre o colorismo para não cair na  armadilha do racismo que nos separa.

Afinal, avançamos nas políticas anti racistas quando juntamos os negros de pele clara e negros de pele escura no combate ao racismo, o que nos permitiu na formulação do IBGE sermos 54% da população brasileira, formando assim a maioria.

JE:Em que momento a Rosa se descobriu  como militante?

Fui admitida no Metrô,  em outubro de 1988 ,participei da greve no sistema ,o que ocasionou minha demissão . Nessa greve foram demitidos 354 metroviários, minha demissão estava na última listagem e por isso cancelada, após várias   negociações que ocorreram para retorno ao trabalho com garantia de emprego.

De forma intuitiva ,fui bastante atuante no apoio aos demitidos nas arrecadação  e campanhas realizadas pelo sindicato.

Quando fomos reconstruir nossa atuação sindical e posteriormente disputar a direção do sindicato, fui convidada a integrar  a chapa representando a área administrativa. Acredito que foi nesse momento pela política sindical, que despertei para militância.

JE: Como surgiu sua ligação com o PCdoB a e UNEGRO ?

A atuação no sindicato me aproximou de militantes do PCdoB ,que atuavam na categoria , assim conheci a construção política  do partido, houve uma identificação imediata com o programa , foi quando houve o convite pelo militante comunista Wagner Fajardo para que eu  ingressasse no PCdoB.

O convite foi aceito em 1989 e permaneço, até os dias de hoje ,como dirigente estadual do PCdoB.

Conheci a Unegro em 1990, quando estava na militância sindical e partidária, através de militantes comunistas que Militam na entidade ,  a Unegro foi importante para na minha conscientização de mulher negra e sindicalista. O aprendizado da Unegro levei para o sindicato e contribuiu na elaboração de cláusulas  na pauta de reivindicações específicas para as mulheres, na luta anti racista na empresa e nas campanhas salariais. Além da minha atuação no movimento negro.

 JE: Nós imaginamos a dificuldade de colocar a Marcha na rua, principalmente no atual cenário em  que o Brasil vive,você acredita que a marcha das mulheres negras ,tornou-se um símbolo de luta da cidade?

A importância da marcha das mulheres negras de 2015 se originou com  a reunião de 50 mil mulheres em Brasília ,em torno de bandeiras construídas nos últimos 30 anos ,no movimento de mulheres negras ,condensados  nas propostas de combate ao Racismo,Machismo e pelo bem viver. Num momento conturbado da política ,onde estava sendo criado o golpe.

Durante a caminhada ,fomos intimidadas por manifestantes fascistas, seguimos em frente  e terminamos nossa marcha com muita resistência . Também entregamos para a presidenta Dilma nossas reivindicações. O golpe consumou-se em 2016 ,onde foi retirada do poder emanado pelo voto,a primeira presidenta do Brasil que interceptou nosso diálogo.

No ano de 2016, 2017,2018 e 2019, continuamos a construção da marcha com as propostas que originaram a marcha contra o Racismo , Machismo, e pelo bem viver, contra a Lesbofobia e levamos na marcha os temas que impactam  a vida das mulheres negras na sociedade.

 A marcha  reúne-se durante todo ano, e intensifica -se  no mês de julho ,para a construção do Julho das pretas ,onde realizamos atividades que mobilizam-se  para o dia 25 de julho, quando vamos pra rua.

Não e fácil colocar a marcha nas ruas todos os anos, com a preparação que citei acima, tem a questão burocrática, porque embora estejamos em estado democrático de direito que assegura a livre manifestação, contamos com as restrições das autorizações  para colocar a marcha nas ruas.

 JE: Rosa como é militar em tempos do Covid 19?

Tem sido um desafio a militância com o isolamento social imposto a todas e todos. As plataformas tem auxiliado a realização de  reuniões que tornou possível , discussões e consensuar ações para construção de ações junto à população.

 Compreendendo que a crise política e económica que  vivemos no Brasil acirrou com o golpe de 2016 e aprofundou se  com a eleição de Jair Bolsonaro. 

O seu comportamento nessa crise do coronavírus que se contrapõe ao isolamento social, com o argumento de salvar a economia para nao ter desemprego que antes da crise ja era de 13 milhões de desempregados em detrimento da vida. 

A pouca vontade política de seu governo para  concretizar as medidas que foi uma luta dos movimentos sociais e congresso com a aprovação  Renda Mínima e Apoio financeiro às pequenas e médias empresas . Nos coloca o desafio de praticar a solidariedade buscando doações para levar alimentos e kit de limpeza  a nossa população das favelas e periferias para o combate ao coronavírus. 

Mas o que não perdemos de vista  e que cabe ao governo cumprir o seu papel e construir políticas públicas de proteção para população negra das favelas e periferia.

JE: Como você enxerga a pandemia atual e seu impacto para a população negra?

Causa grande preocupação a Pandemia do Novo Coronavírus. Porque o racismo estrutural naturalizou as desigualdades e tornou a nossa população negra vulnerável. As habitações insalubres e sem nenhuma estrutura do estado como o acesso a água e esgoto e densamente povoadas, impedem que o isolamento social seja praticado por essa população e assim salvar vidas negras.

O acesso limitado a saúde com o desmonte do SUS, desde o golpe de 2016, onde a população negra e a principal usuária, causa apreensão uma vez que a pandemia pode colapsar o sistema de saúde pública. Outro fator de risco que nos fará utilizar o sistema de saúde são as comorbidades, por causa de doenças crônicas causadas pela alimentação ruim que nossa população tem acesso.  

Portanto o racismo estrutural sempre limitou a população negra a ter acesso a bens e serviços. E a pandemia do covid 19 escancara essas desigualdades. Hoje sabemos que o Covid 19 chegou às favelas e periferias e se não houver uma política pública com medidas objetivas acontecerá um genocídio. Bem, a nossa luta é pela vida e reafirmamos que Vidas Negras Importam.

 
 

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