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O TEMPO EM DANÇAS NEGRAS – Reflexões sobre o Filme Danças Negras exibido no CineSesc

Percebemos o tempo através das mudanças que nos cercam. Sentimos em nosso corpo conforme envelhecemos, pelo caminho do sol e da lua no céu, através das mudanças que cada estação trás. Desde os primórdios buscamos criar instrumentos para contá-lo, para marcar sua passagem. Nasceram os calendários, relógios de sol e ampulhetas, assim como a necessidade de contar aquilo que acontecia conforme as mudanças iam ocorrendo. Buscou-se então nomear as eras e indicar as grandes rupturas. Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea.

Como uma flecha a passagem do tempo foi representada. Afinal, como alguns dizem ele é inexorável, não há como voltar atrás. Aperfeiçoaram-se também as formas de contá-lo, de quantificá-lo, pois o tempo se tornou dinheiro no mundo das máquinas. A progressão indicada nos nomes das eras se materializou em um mundo que não para. Para alguns essa é a história do mundo contemporâneo, a eterna marcha rumo ao novo. Mas será mesmo?

Embora não seja o foco do documentário Danças Negras ele nos faz ver o óbvio. Todos nós percebemos a passagem do tempo, mas a forma como o concebemos, como lidamos com ele, organizamos as histórias que nele transcorrem e nomeamos as eras, são culturalmente determinados. Isso é óbvio? Como diria um professor meu, o óbvio é, muitas vezes, o elemento mais difícil de se perceber.

Ao colocar no centro do debate a contemporaneidade das danças negras, mas ao mesmo tempo lembrar – através de diversas vozes, gestos e sons – que ela é transpassada por uma ancestralidade, o documentário escancara o quanto nosso olhar para tempo, pautados na ideia de progresso e sucessão das eras é branco, ocidental e eurocentrado. Talvez seja por isso que ele gere tanto incômodo, pois nos lembra que há outras formas de ver, viver e se expressar no mundo contemporâneo, que este não precisa e não pode ser construído a partir dos escombros do passado e do silenciamento de outras narrativas.

Sabendo disso, o óbvio, o que faremos? Essa talvez seja a grande questão a ser debatida.

Lucas T. Marchezin, educador popular, professor, historiador e mestre pelo Instituto de Estudos Brasileiros – USP.

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