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Aquele que está atento às coisas do mundo

Eu queria um impulso para esse bate papo com um amigo querido, o fundador da banda Julgamento um dos grupos mais importantes da cena do Rap de BH, o meu querido Roger Deff. Aí, fiz uma coisa que o Paulinho da Viola me ensinou: “As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender” O Roger está construindo um trabalho, realizado no processo de financiamento coletivo (veja mais informações sobre o financiamento, recompensas nesse link aqui). Nesse bate papo rápido, conversamos sobre sua forma de notar o novo trabalho, mas também sobre atual conjuntura. Bom, é melhor ler um pouco dessa etnografia.

Roger, parece óbvio… Qual a sua leitura para o título de seu projeto novo!!

O disco se chama “Etnografia Suburbana”.   A palavra “Etnografia” é o estudo das etnias, de suas características antropológicas e sociais.  A “etnografia” da qual o disco fala é um registro da construção cultural da população negra. Sobre as várias “grafias” (registros) deste sujeito negro que teve que se reinventar para além do continente africano, então eu falo essencialmente do negro daqui, da diáspora.  Esse sujeito que segue ocupando este lugar que é, ao mesmo tempo, um “não lugar”. Falo também de uma cartografia, de um mapa/ região por onde perpassa este sujeito que é essencialmente periférico, suburbano. Porque a cartografia negra é periférica. Enfim, essa é a idéia do disco. E fala sobre temas ligados à nossa existência e resistência. As referências musicais por onde ele passa também estão relacionadas ao tema central, são os ritmos negros/ suburbanos que dão o tom, então passamos pelo funk, pelo samba, maracatu e a narrativa é essencialmente do rap.

Você já tinha um trabalho solo, o single “Segue o Fluxo”. Qual a sua expectativa para esse trabalho novo?

Foram dois singles que produzi com o Daniel Saavedra, “Pro Combate” e “Segue o Fluxo”. Primeiras experiências num trabalho solo. O disco traz outra proposta, diferente de tudo o que já fiz, até mesmo do pensarmos nos três discos do Julgamento. Minha expectativa é trazer um trabalho do qual me orgulhe ao mundo. Tenho muito orgulho dos trabalhos feitos anteriormente, porque sempre fiz aquilo em que acreditei. E é importante fazer isso. Para quem é artista independente como eu então não há porque fazer concessões.

Quando eu conheci o trabalho de vocês, numa festa na Ocupação Dandara, por sinal um show emblemático, com a tropa de choque no meio do público e tudo mais, eu sempre notei essa necessidade de vocês falarem em sintonia com a cidade. Essa face vai aparecer nesse trabalho solo?

Sim, é inevitável. A arte é sempre um produto do tempo em que ela nasce, e o rap é, além disso, um reflexo direto do espaço urbano, das ruas. Há muito do meu olhar sobre a cidade e sobre o nosso contexto atual neste trabalho.

Como fundador do Julgamento, quem te acompanha acaba vinculando sua imagem com o trabalho do coletivo. Em que medida os trabalhos se encontram e quando são coisas completamente diferentes?

O Julgamento é um trabalho desenvolvido artisticamente por sete pessoas. Neste trabalho “solo” há muito do coletivo, mas traz uma visão mais particular, dos temas, das abordagens.

As diferenças estão também nas abordagens. De uma forma geral, o Julgamento traz nas músicas algo de contexto mais amplo, no meu trabalho eu me refiro a coisas mais pessoais, biográficas , de certa forma. Tem a musicalidade também:  o Julgamento está mais para o rap clássico, dos anos 90. No Etnografia o rap é o carro chefe, mas há muito da música brasileira, da música preta de uma forma geral.

 

Registro de Flávio Charchar

 

Lembro de uma conversa com você pelas ruas de BH sobre o último álbum do Julgamento, você falava sobre o atual cenário político da nossa cidade, de Minas e do país. Essa pegada está presente no álbum?

Sim. O Etnografia inevitavelmente traz muito sobre esse momento. Quando eu falo sobre o massacre da juventude negra, estou falando também sobre esse momento de retrocesso e de como o racismo se escancara ainda mais.

Quais as influências desse novo trabalho? Não somente na música, mas em outras áreas que vejo você super envolvido…

Na música o que influencia este trabalho são os ritmos negros, a música periférica.De certa forma, o jornalismo também influencia muito na minha produção, o cinema, a literatura, os quadrinhos, tudo isso acaba se transformando em base para o trabalho.

E essa coisa de uma produção financiada pelo público? Você acha que essa abordagem pode ser interessante pra música independente do país? Qual o motivo para a escolha do financiamento coletivo?

É uma forma de compartilhar o processo com as pessoas, de trazê-las para a produção do disco. E, nestes tempos em que o financiamento público para a cultura está ameaçado, é importante que encontremos outras formas. No final das contas o grande financiador da cultura sempre foi o público. O financiamento coletivo reduz essa distância.

Deixa o seu recado final para o pessoal do Jornal Empoderado!

É um momento difícil, a gente não pode se iludir quanto a isso. Mas é algo que vai passar, só que nenhum movimento é “natural” é preciso outra construção para que avancemos, uma construção que é diária e que vá na contramão deste obscurantismo que querem estabelecer como “norma”. Avante que há muito o que desconstruir.

 

Registro de Flávio Charchar

Vejam o endereço para o financiamento coletivo de Roger Deff aqui!

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

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