Conversamos com o professor e educador físico Fábio Tadeu Reina sobre Educação, Esporte e Formação de Atletas e de que maneira eles se encaixam para o crescimento do ser humano. Nesse bate papo, também falamos sobre a importância da manutenção Educação Física dentro do currículo e do espaço escolar e de que maneira ela pode incluir o aluno de baixa renda.
O professor e educador físico Fábio Tadeu Reina é um caso raro tanto na educação quanto no esporte. Primeiro, por ter ser doutorado depois de 16 anos lecionando no Ensino Fundamental e Médio na Rede Pública e depois, principalmente, por ter continuado a lecionar nessa etapa do ensino mesmo já sendo professor universitário e coordenar um Mestrado na Unesp de Araraquara.
Fábio também escreveu dois livros bastante interessantes: Pés Trocados – a violência simbólica em bailarinos e jogadoras de futebol e Cabeça, Tronco e Membros – a construção da Hexis Corporal de Professores de Educação Física. Pés trocados fala da desigualdade de gênero e do sexismo que atingem a prática da dança e do futebol, cada um com suas determinações históricas e lugares de atuação de um e outro sexo.
Reina demonstra neste primeiro, o quanto as mulheres têm no futebol não só um espaço a conquistar, mas também uma nova maneira de construir sentidos sobre si mesmas e sobre o seus lugares na sociedade. Assim também tem o bailarino no balé. Já o segundo título, é um livro para a formação de professores de Educação Física.
Para o professor “A Educação Física pode ser um instrumento de inserção social e cultural do aluno de baixa renda na escola, pois ela se aproxima da realidade que o aluno vivencia”. E ele
continua: “por ser a área do conhecimento mais aceita entre os alunos, a Educação Física contribui para que esse aluno permaneça no ambiente escolar. Ela se transforma em uma disciplina humana onde o movimento é visto como parte de uma reflexão”.
Neste sentido, é essa disciplina que será o lugar de medida do fracasso e do sucesso escolar ao dialogar com todas as outras áreas do conhecimento. Por acreditar nisso, Fábio Tadeu Reina não abandonou o Ensino Básico, mesmo já sendo docente universitário: “Eu gosto muito de estar na sala de aula” diz ele, enquanto arruma seus diários para entrar mais uma vez na sala de aula do Ensino Fundamental.
E essa paixão traduziu-se em pesquisa e estudo da prática da sala de aula atuando na formação de professores. A construção de materiais didáticos, jogos e análise do livro didático também serão seus objetos de análise em prol da educação.
Sobre o caráter formativo e educativo dos esportes, o professor garante que para estes terem esse aspecto na vida da criança, não basta ensinar um movimento correto, mas pensar essa criança como sujeito histórico. “O cognitivo, o motor e o afetivo andam juntos” afirma.
Para Reina “O esporte ensina a criança a ocupar os espaços sociais e da uma nova dimensão para a educação”. Em relação ao esporte dentro da escola, o professor entende que o objetivo da mesma não é a formação de atletas, mas sim a formação humana ampla. Contudo, mesmo dentro da escola, podem-se ter horários de treino e esse aluno participar de competições.
Essa criança, ao participar de competições, levando o uniforme da escola, acaba por criar uma identidade maior com a instituição. Ela veste literalmente a camisa com o nome de seu colégio.
“Todo treinador de esportes deve olhar para a criança como um sujeito que tem uma história, uma representatividade social antes de um movimento” reitera o professor da Unesp que não abandonou o Ensino Básico.
Sobre professores e alunos de hoje, Fábio Reina considera que a formação do professor da rede básica está defasada e sua carga horária monstruosa contribuem para que o mesmo não venha refletir e aprimorar a sua prática.
Já com os alunos, há uma mudança muito grande no perfil “ os alunos de hoje tem muito pouco capital cultural e social do que o aluno de 20 anos atrás” reitera Reina. “São corpos muitos indisciplinados que vão para a escola por uma obrigatoriedade jurídica” afirma.
Reina acredita que o esporte como temática escolar pode trazer afetividade, valores, solidariedade e a superação diária para o aluno de sua condição. A certeza que pode superar os seus próprios limites.
Já a formação do atleta de alto rendimento, segundo o professor, é feita apenas na perspectiva de mercado, na qual o atleta passa a ser um número na busca de resultados. Ele perde a sua identidade social.
Em relação ao atleta operário do mercado (sonho de milhares de meninos) e o futebol, o professor continua: “A mídia é perversa, pois propaga o Ronaldinho e Neymar como símbolos de uma transformação econômica”.” “ O jogador vai ser apenas aquele que chuta a bola”.
Para uma efetiva mudança em todos os campos e principalmente no esporte, Fábio conclui:
“O que precisamos é de políticas públicas que façam a escola se aproximar da vida”
A escola se aproximar da vida. Poético mas não utópico para quem viveu a vida pela Educação. Necessário e urgente a escola integrada com ela, não pelo futuro, mas pela sobrevivência do nosso presente. Através da escola, podemos reconstruir quem somos e ressignificar um país.
Foto: Adrienne Kátia Savazoni Morelato