13/04/2018 – Por Celso Oliveira Jr – em colaboração, direto de Joanesburgo
Na África do Sul, na última quarta-feira, 11/04, ocorreu uma grande homenagem à Winnie Madikizela-Mandela, ex-militante de grande destaque durante as lutas contra o apartheid e pelos direitos das mulheres.
O evento ocorreu no Orlando Stadium, em SOWETO e foi organizado pelo governo da África do Sul, com todas as honrarias destinadas à um chefe de Estado.
Foi montado um grandioso palco onde estaria o campo de futebol, com dois grandes telões ao lado, além de telões espalhados pela arena. Durante o evento, diversos líderes políticos e religiosos e artistas prestaram homenagens à ex-ativista, que foi condecorada enquanto a nova heroína nacional.
A Liga das Mulheres, setor interno do Partido (CNA) formado por mulheres, teve grande participação. Centenas de senhoras com seus uniformes nas cores preto, verde e amarelo, sentaram-se bem à frente do grande palco. É sempre bom frisar que há, sempre, muito respeito das pessoas mais novas para com as pessoas mais velhas. Ao menos, nos espaços públicos.
Em certos momentos da cerimônia, durante alguns intervalos, o público se levantava e cantava sem parar algumas músicas que mencionam “Mama Winnie”.
Nesses momentos, na arena construída para sediar alguns jogos da Copa do Mundo de 2010, embora não estivesse completamente cheia, fazia um som ensurdecedor. As pessoas cantavam e batiam o pé no chão, fazendo o estádio estremecer.
O estádio não estava cheio por completo. Segundo os organizadores, o público só não foi maior pois ocorreu durante a semana, quando grande parte das pessoas estão cuidando de suas atividades corriqueiras.
Conversei com algumas pessoas no estádio e eles tiveram a mesma impressão. Um ativista do CNA (Congresso Nacional Africano) disse que houveram vários memoriais espalhados pelo país, e isso teria contribuído para a desconcentração de público. Mas, que para sábado, dia do sepultamento da ex-militante, ele tem certeza que a quantidade de pessoas será muito maior.
Desentendimentos
Próximo ao final do evento, ocorreram alguns desentendimentos entre alguns ativistas do CNA e do EFF, mas que rapidamente foi desfeita a confusão.
EFF (Economic Freedom Fighters) é um grupo liderado pelo Deputado Julius Malema, ex-ativista do CNA, expulso por ter tido um posicionamento considerado “mais extremista” e crítico à linha do CNA.
Malema tem origem no estado de Limpopo, um dos estados com maior população negra no país, e é um dos líderes da campanha pela retomada das grandes porções de terras, tomadas e concentradas durante os períodos de colonização africâner, britânica e, posteriormente, no período do Apartheid.
As novas gerações
Outra cena que chamou a atenção foi a grande quantidade de crianças com uniformes de escolas. Conversei com algumas delas e com suas professoras. Elas estudam nas proximidades do Estádio, em alguns bairros da grande SOWETO. Elas se mostravam bastante orgulhosas do que estava ocorrendo. O punho cerrado parecia ser um símbolo naturalizado entre elas.
Algumas professoras observaram que era importante a participação dessas crianças no evento, pois, embora elas não vivenciaram o período de segregação oficial, elas compõem as gerações de continuidade das lutas por melhorias das condições de vida das populações negras.
Para sábado (14/04), os militantes do CNA esperam milhares de pessoas vindas de várias partes do país.
*Celso Oliveira jr é estudante/pesquisador em Geografia pela Universidade de São Paulo.