Por: Paula Kristina
Você provavelmente já leu ou escutou a seguinte frase, “Se você não assistiu… assista” frase de efeito usada para te convencer a assistir um filme, documentário ou uma série aclamada. Como uma apaixonada por séries, sempre recebo muitas indicações, mas como o tempo é curto e nossa vida não é somente de maratonas, justamente por esse motivo a principio não dei muita bola para a Atlanta. Assisti pela primeira vez nessas promoções de degustação de canal, mas para minha triste realidade, somente tinha o primeiro episódio, pois para continuar assistindo era preciso obter a assinatura. Desencanei, continuei com minhas séries de sempre, pois essas já consumiam uma boa parte de meu tempo livre.
Para minha feliz surpresa essa semana, Atlanta foi incluída no catalogo da Netflix, plataforma de streaming. Prometi que não faria mais maratonas de séries e que como um bom vinho a degustaria Len-ta-men-te, semana a semana, mas foi inevitável, assisti Atlanta em apenas 1 dia (promessa desfeita). Mas calma, para você que não tem tempo ou pressa de assistir de uma só vez, o lado bom é que Atlanta segue na mesma linha de Insecure (outra série de sucesso), com episódios de apenas 30min.
Atlanta conta a história de Earnest “Earn” Marks (Donald Glover), um jovem que abandonou a universidade de Princeton, para fazer sucesso na cena musical da cidade de Atlanta, ele começa a gerenciar a crescente carreira de seu primo Alfred, também conhecido como o rapper, Paper Boi (Brian Tyree Henry). Seus personagens trafegam na indústria da musica (especificamente no universo hip-hop) mostrando os “perrengues” para atingir um patamar de sucesso, fama e dinheiro a produção consegue se sobressair por abordar criticas sociais de uma maneira inteligente, dinâmica e às vezes não muito convencional, com uma excelente temporada ganhou muitos fãs e passaporte carimbado para segunda temporada em 2018.
A série além de ser genial tem um leve, ou se você preferir muito humor ácido. Seu humor é tão peculiar que quando você mal espera, está rindo de uma cena séria. Mas não pense que se trata de um riso escancarado das séries de comedia americana, seu riso sai meio solto e tímido, como se somente você entendesse a piada, pois é preciso ficar atento aos detalhes disfarçados de humor.
Nos Estados Unidos a série passa no canal a cabo FX dirigida, produzida, escrita e protagonizada pelo ator e músico, Donald Glover que foi indicado, a melhor ator de série de comedia, ganhando o Globo de Ouro de 2017, além do premio a série também teve inúmeras outras indicações, saindo vencedora na categoria melhor série de comedia no Emmy neste mesmo ano.
Com um elenco formado quase que exclusivamente por atores negros, Atlanta tem originalidade, seu criador, Donald Glover passou a ser o queridinho do momento, pois sua produção é vista como a melhor série de comedia da atualidade por muitos críticos. E realmente ela merece o mérito.
Diferente da aclamada Empire, Atlanta não possui o glamour em sua produção, mas sua narrativa consegue ser superior em vários aspectos, pois justamente segue em direção oposta, a trilha sonora um das boas surpresas mistura o passado e o presente, o roteiro é genial e seus personagens se aproximam de pessoas reais, com problemas reais.
Mas o que Atlanta (FX), Empire (Fox), Insecure (HBO) e She’s Gotta Have It (Netflix) e Queen Sugar (OWN) têm em comum?
Todas as séries são produzidas, dirigidas e protagonizadas por pessoas negras. Atlanta no caso foi premiadíssima em seu primeiro ano, Insecure, produzida e protagonizada por Issa Rae, também possui a ousadia de ser única em sua proposta, já ganhou uma terceira temporada confirmada pela HBO. She’s Gotta Have It do mestre Spike Lee, também entra para o catalogo da Netflix é será uma boa aposta no gênero, já Queen Sugar série dramática, criada por Ava DuVernay, é produzida por Oprah Winfrey teve 13 episódios na primeira temporada e também terá uma sequencia em 2018 . Todas essas series tem em seu elenco integralmente constituído por atores negros
Diferente do Brasil os negros americanos ganham a cada ano, mais espaços como diretores, roteiristas e protagonistas em suas próprias produções. Mesmo hoje as emissoras brasileiras fingindo não expor artistas negros em papeis estereotipados, ainda os mesmos não conseguem notoriedade para produzir ou dirigir seus próprios projetos. Claro que nos lembramos de imediato de Lazaro Ramos, que a cada dia vem se consolidando em novas empreitadas tanto na TV aberta quanto no canal fechado, mas em um país com tantos talentos no áudio visual negro, ainda estamos bem distante de nossos irmãos americanos e continuamos silenciados pelo racismo midiático.
Lazaro foi o primeiro, mais não pode ser o único, é preciso surgir novos nomes como roteiristas, produtores e diretores negros (as).
Um exemplo muito “claro” são as novelas da TV brasileira, as telenovelas tem destaque pela grande audiência que obtém diariamente, mas seus autores são sempre a mesma panelinha de sempre. Para aprofundarmos a reflexão, quando pensamos em melhores e mais papeis para nossos atores e atrizes, esquecemos que também temos bons diretores, escritores e produtores negros. Como não existe racismo no Brasil, se em mais de 50 anos de televisão brasileira, nunca foi lançado um diretor ou diretora negra em nossas produções?
Infelizmente temos a falsa sensação de mudanças midiáticas, mais ainda continuamos com pouca representação e muita exclusão nos meios de comunicação de massa.
Será que o Brasil estaria preparado para uma série no calibre de Atlanta? A resposta, provavelmente é não, pois há algo de muito podre no Reino do Brasil e isso nós negros já estamos pretos de saber.
Mas enquanto isso se você não assistiu Atlanta, assista já.
Respostas de 3
São tantos textos acadêmicos, tantos livros com histórias das Diásporas Áfricanas, tantos projetos, escritores, etc. É preciso surgir uma liderança para que esse grupo unificado aconteça na questão de protagonismos, onde apenas negros façam acontecer situações, programas, filmes, novelas, seriados, documentários e tudo mais com autoria 100 por cento negra.
tantos textos acadêmicos, tantos livros com histórias das Diásporas Áfricanas, tantos projetos, escritores, etc. É preciso surgir uma liderança para que esse grupo unificado aconteça na questão de protagonismos, onde apenas negros façam acontecer situações, programas, filmes, novelas, seriados, documentários e tudo mais com autoria 100 por cento negra.
Obrigado Gilca, por nos acompanhar. Continue conosco!