Confira o “Drink Gentileza” oferecido a todos pelo artista
Domingo a tarde passo em um sebo de livros usados na calçada da região do metrô Praça da Árvore e ali vejo algumas raridades.
Entre as obras adquiridas, um livro em especial precisei deixar para trás por me faltar recursos. Em breve voltaremos a ele. Vou para meu compromisso lendo Mário Prata, este exímio contista.
Saio, me despeço do Valter, o vendedor, e vou para estação Pinheiros. De lá, rumo à estação Morumbi. Chego ao teatro e pego meu ingresso (que gentilmente foi cedido pela Thais, tia do amigo Felipe Dias).
Inicia-se a peça: “Autobiografia Autorizada”, com o simpático e performático Paulo Betti.
A peça flui como um conto de Mário Prata ou Brás, Bexiga e Barra Funda – uma coletânea de contos do escritor brasileiro Antônio de Alcântara Machado , e com encenações de Brecht.
A plateia participativa somente responde ao carisma interiorano do menino que com pés no chão viveu, guardou e encenou a felicidade da infância de Sorocaba.
Revelou ao JE eu um papo descontraído ao final do espetáculo, o ator Paulo Betti, os 10 anos ser a idade marcante em sua vida. E um dos motivos foi a subida de divisão do time do São Bento*.
*Nota: Em 1962, após sagrar-se Campeão Paulista da Serie A2 do Campeonato Paulista, subiu para a Divisão Especial (A1), ficando nela por quase trinta anos.
Senhor do palco e hábil contador de suas memórias.
Lúcido. Soube fazer magistralmente do palco sua terra. Atento aos detalhes, exímio contador de suas memórias, engraçado e respeitoso até para contar – ao tratar, passagens com entes doentes (doenças) e mortes em família. Dona Adelaide merecia uma peça à parte. Deixa aquele gosto de queria ter vivido também ali naquela casa com eles.
Finda-se a peça. Público em pé aplaude. Lá fora aguardam o anfitrião que com quem aprendeu a respeitar seu público, ensina aos “estrelas” e emburrados, como recepcionar aqueles que vieram vê-lo. Uma aula dentro e fora do palco. Ou seria lá fora parte da peça e ninguém avisou?
Gentileza gera gentileza. E foi assim que aconteciam as relações no saguão. O ápice? Entra no salão a senhora Elvira Lima Gentil, a primeira professora de Betti. A partir daí há desde trocas de gentilezas a agradecimentos e carinhos para com a mestre. O aluno agradece e referencia.
Ao sair do Teatro, já no trajeto final, dentro do metrô um papo com um ex-hippie que hoje é representante de vendas. O Senhor Raul, de 64anos, que no nome carrega música, política e fala de suas viagens ao redor do País, além de como nesta cidade que engole a calma/paz faz com que ele sinta falta do silêncio.
Antes de partir, abre a mochila, saca um livro e me oferece de presente.
Lembra que disse que voltaria a falar do sebo?
Pois bem. O livro que não comprei por faltar dinheiro, lá do sebo de calçada, foi o mesmo que ganhei do senhor Raul. Um ato gentil e, senão, ate místico.
Coincidência? Presença de Deus? Ou apenas Veríssimo brincando comigo como parte de mais uma das suas e de seu grande humor?
A cada intervalo ou baldeação nesse domingo teve como tira-gosto o livro de Mário Prata, “Minhas mulheres e meus homens”.
Um dia gentil, de memórias e histórias.
Fotos: