“Eu me apaixonei por aqueles calções pretos… não lembro do resultado… e sim dos calções pretos… aí sabia que queria torcer para aquele time (Corinthians)” – Plinio Labriola.
“Eu nunca usei uma camisa do Palmeiras, pois minha camisa esta aqui dentro (toca o peito)” – Luiz Gonzaga Belluzzo
Na noite desta quinta-feira (6/4) no Parque São Jorge, o Tetro Omini Corinthians foi palco de um evento público que (re)contou a história centenária do clássico entre Corinthians e Palmeiras. Um evento muito bem organizado pelos historiadores do NECO (Núcleo de estudos sobre o Corinthians), que trouxe o melhor da história destes dois rivais. Foi reproduzido ali naquele teatro um pouco do sentimento mais puro de apaixonados pelo esporte bretão.
Entre os convidados especiais do evento estava o economista, professor e ex-presidente do nosso maior rival, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Com memória invejável, ele abriu sua fala lembrando dos times, escalou o Corinthians e o Plameiras da década de 50, destacou a importância do derby para vida dos dois clubes e suas torcidas, falou da elitização no futebol, arrancou risos ao comentar o desgosto que sente em ouvir comentaristas que tratam o futebol como ciência e a tristeza que dá ver jogos com torcida única. Ainda relembrou do memorável jogo de 1974, que culminou com a saída de Roberto Rivelino do Corinthians, além de ressaltar a importância de evento que dialoga com outras iniciativas que serão realizadas este ano pelos dois clubes, o que reforça a ideia de que deve sim existir a rivalidade, porém de forma saudável. Para não perder o hábito, Belluzzo também falou sobre sua preocupação com a situação atual do país.
Para dar voz ao lado alvinegro da mesa, esteva presente o professor e historiador Plinio Labriola. Junto com mais uma aula sobre a história do Corinthians, ele trouxe também a história do Plameiras contada pelo viés da imigração, o acolhimento aos italianos em São Paulo, fazendo ótimos recortes sobre a história verde, preta e branca do Derby.
Algumas intervenções merecem destaque, entre elas do Miro Moraes, que trabalha no acervo do Palmeiras e que mostrou uma história emocionante sobre uma ligação que fez ao amigo após o rebaixamento do Corinthians para série inferior do Campeonato Brasileiro e mesmo sendo um apaixonado pelo seu time, sentiu a emoção do amigo e juntos choraram naquele momento.
Rafael “Pankinho” Lopes mostrou em slides como o futebol se aproximou da estrutura de uma fábrica, com suas regras, horários e rigidez. Também falou da construção dos dois clubes e como eles foram a via de acesso ao lazer para os trabalhadores fabris no século passado.
Já Rafael Vieira Domingos mostrou como o nascimento das torcidas organizadas Gaviões da Fiel e TUP estavam próximos das necessidades e do contexto politico da época. A Gaviões nasceu em 1969, por iniciativa de torcedores que desejavam estar mais próximos da vida política e administrativa do clube – seu sócio número um, Flávio La Selva, combatia ferozmente o dirigente Wadih Helu que comandava o clube com mão-de-ferro desde 1961. A TUP (Torcida Uniformizada do Palmeiras) foi fundada em 1970 por um grupo de pessoas ligadas ao clube, alunos do Colégio Dante Alighieri e moradores da Pompeia, em sua maioria italianos ou descendentes, e até figuras muito conhecidas, como o técnico Mário Travaglini – que depois seria o histórico técnico do time bicampeão paulista durante a Democracia Corinthiana.
A cereja do bolo foi a apresentação de Kerly Tanaka, recitando um poema do jornalista Walter Falceta sobre o Derby, comovente e histórico, com a marca deste grande escriba.
Belluzzo ainda respondeu sobre a dificuldade do negro se inserir no seu clube, explicou como nasce pejorativamente o termo “porco”, devido à forma grosseira de tratar os italianos que chegavam ao país. Plinio finalizou falando sobre como as crianças escolhem seus times do coração hoje em dia, na era do “futebol moderno”, lamentando que o marketing pode ser a resposta.
Em cem anos de clássico poucas vezes duas torcidas concordaram tanto e fica a lição de paz e integração real destes dois “Parques” para o futuro: rivais sim, inimigos nunca.
Luiz Gonzaga Belluzzo
Rafael “Pankinho” Lopes
Fábio Preturlon, sobre o jogo: SCCP 0 x 8 Palestra Itália; um Derby incendiário.
Rogério Vieira Gomes