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O sonho da pequena Maria Eduarda foi abreviado

        Inspirado pelas teorias Raciais do Século XIX, o imperador Dom Pedro II, como homem de seu tempo, acreditava que o problema para o insucesso brasileiro estava na mestiçagem brasileira, principalmente por culpa da descendência indígena e africana. Para resolver o “problema”  da ausência de mão de obra, já que não haviam mais escravos, o imperador incentivou a vinda de imigrantes Italianos e alemães que chegaram ao Brasil, fugindo das péssimas condições existentes na Europa, vide que tanto a Itália quanto a Alemanha estavam terminando seus processos de unificações nacionais, resultando em muitos conflitos locais. Havia a propaganda que, por estas terras, estes imigrantes receberiam terras e teriam suporte governamental para recomeçar suas vidas. Os imigrantes ganharam terras, empréstimos impagáveis e foram inseridos na sociedade brasileira, prosperando, diferente do contexto negro e indígena, que já estavam no país desde o começo do processo de colonização mas que nunca foram inseridos de fato na sociedade brasileira. Para negros e indígenas sobrou apenas o famoso discurso meritocrata, que permanece nos debates políticos sempre que se discutem direitos indígenas a terra ou a ausência de de afro-descendentes em cargos representativos mesmo sendo maioria absoluta da nação. Esse mesmo discurso meritocrata, hipócrita,  vem servindo como principal justificativa para a manutenção de privilégios de determinada “casta social” majoritariamente branca e com descendência européia frente as lutas negra-indígena por melhores condições de vida.

      Com o processo de  Abolição da escravatura, o negro, sem emprego  e com sua cultura marginalizada pelo Estado brasileiro,  encontrou nos morros e na “informalidade” uma alternativa para sobreviver a este sistema excludente, que não lhe concedia emprego, não o considerava cidadão, e não lhe garantia um direito básico, o direito a moradia. A questão da moradia é fundamental para compreender a formação das favelas cariocas e sabemos que esse problema que assolou as grandes cidades brasileiras, durante as primeiras décadas do século XX,  persiste até os tempos atuais. Construções simples, geralmente de madeira,  deram origem as primeiras favelas, lares de incontáveis famílias negras, todas em busca de dignidade, base primária para a valorização da figura humana.  Para impedir motins e para agradar interesses de especulação imobiliária, vez ou outra, os morros eram e ainda são, alvos de ações “pacificadoras”, que entre um incêndio e outro, de forma bruta, traz a polícia para garantir o controle da “ordem vigente”.

      Com a ausência do Estado através de serviços de educação e de saúde pública, os próprios moradores das comunidades passaram a se auto-gerir. Nesse contextos inclusive surgiu a figura do “malandro”, o bom bandido, tantas vezes retratado na literatura brasileira, essa figura, cheia de “ginga e malemolência” (um preconceito enraizado contra a cultura negra e contra o Samba) mesmo transgredindo as regras, cumpre ativamente o papel do Estado em sua comunidade, dando assistência e garantido proteção para os membros da favela ou do bairro periférico. Esta visão distorcida, alimentada pela incompetência do Estado em garantir o básico para os seus cidadãos, semeando cidadania apenas para uma minoria social, gerou uma bola de neve interminável onde policiais pobres sobem os morros assassinando milhares de jovens, igualmente pobres enquanto os verdadeiros culpados, permanecem sob total proteção, no aconchego de seus gabinetes em Brasilia. O Brasil persiste no erro de resolver problemas sociais através da ação policial, sejam greves de professores ou de metroviários, a solução é sempre a mesma: balas de borracha e gás de pimenta. As vezes, quando os populares tomam as rédeas, o Estado utiliza-se de seus comandos especiais, os comandos de extermínios, com seus possantes “caveirões”, que sobem os morros, destruindo casas e , “acidentalmente”, retirando vida de incontáveis cidadãos, geralmente negros. Esse modelo de Estado, que já mostrou-se ineficiente,  tem deixado incontáveis vítimas tanto do lado popular como do lado policial e  precisa ser debatido pela sociedade.

        É preciso que o povo brasileiro se una e um um amplo debate nacional contra o genocídio da população negra periférica e contra as contantes mortes de policiais. Que o Brasil é um país com forte estrutura racista, que ainda não conseguiu resolver seus problemas de cunho racial, preferindo acreditar numa falácia sem tamanho denominada “Democracia Racial”, todos sabemos agora, até quando ficaremos de braços cruzados enquanto crianças negras são mortas em frente a grandes redes de Fast Food? Até quando será “normal” ver a policia entrando nas favelas e deixando incontáveis corpos pelo chão? Polícia boa não mata, prende, isto é uma constatação entre as melhores policias do planeta. A sociedade brasileira deve se unir para combater o genocídio vigente da população negra que, em muitos casos, é fruto da ação de maus policiais, que continuam reproduzindo os modelos de uma acadêmia cujo principal inspirador teórico foi Nina Rodrigues e sua caracterização do “bandido ideal” cujos traços, remeteria às características da população negra. Esse racialismo teorizado por Nina Rodrigues no auge das Teorias Raciais do século XIX, permanece até hoje em muitos cursos de formação policial e, através dessa visão, jovens negros tornaram-se os principais alvos das abordagens policiais.

       Precisamos criar soluções para resolver o conflito existente entre uma polícia que atira primeiro e pergunta depois e uma sociedade insana, que por total descrédito nas ações Estatais, vê a polícia como inimiga da classe trabalhadora. A solução passa pela desmilitarização da polícia e por investimentos pesados em educação, esporte e cultura como formas efetivas de emancipação social e de combate a pobreza extrema, o principal alicerce para a entrada de jovens negros na criminalidade. Estamos presenciando uma guerra contínua, que não tem vencedores apenas vítimas, como a menina Maria Eduarda, falecida com três tiros, dentro da escola onde estudava, um ato covarde onde crianças estão pagando pelos erros dos adultos.  A grande questão que deixo como reflexão para os leitores: Afinal, a vida negra importa? Pra quem?

Polícia boa não mata, prende…

Fontes:

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/e-muito-doloroso-diz-irma-de-menina-morta-baleada-dentro-de-escola-no-rio.ghtml

O que são os “autos de resistência” da PM e por que eles têm de acabar

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2002/020819_eleicaoviolencia2ro.shtml

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/02/1742551-negros-e-pardos-sao-77-dos-mortos-pela-policia-do-rio-em-2015.shtml

https://lunatenorio.jusbrasil.com.br/artigos/114873464/estudo-sobre-violencia-policial-revela-racismo-institucional-na-pm-de-sp

http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/o-negro-1.htm

http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&id=2673%3Acatid%3D28&Itemid=23

NOTA

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