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Bate-papo com Luka Franca e Alê Almeida, organizadoras da “Marcha”:

 
 
JE:  Comentem a importância da Marcha.
 
  
Luka Franca: As mulheres negras e indígenas são parte importante do processo de construção e constituição do Brasil, ao mesmo tempo estão na ponta do processo de marginalização social por causa da sociedade racista, machista e de classes. Ocupar as ruas no dia 25 de julho é demonstrar que nós mulheres pretas somos diversas, mas temos pauta e programa político para disputar a sociedade de uma forma totalizante.
 
 
Alê Almeida:  Em primeiro lugar, pela manutenção e consolidação dos laços de solidariedade entre as mulheres negras. Em segundo lugar, pelo exercício democrático, aprendizagem da articulação em rede e organização política. Como resultado, temos o fortalecimento das mulheres negras, enquanto corpo político, a ação social em face das diversas opressões que nos assolam, de modo a enfrenta-las e combate-las de maneira organizada e concreta como protagonistas do avanço cultural, superando as estruturas sociais que nos violentam e sabotam o estabelecimento de uma democracia plena.
  
JE: Quando nasceu a ideia?
 
 
 
Luka Franca: A articulação surgiu no processo da construção da Marcha de Mulheres Negras de 2015 quando 50 mil mulheres negras de todo o país ocuparam as ruas de Brasília denunciando a violência machista e racista ainda existente no Brasil e também se confrontando diretamente com o conservadorismo que naquele momento estava manifesto com um acampamento reacionário nos gramados do congresso nacional. Quando passou o processo de construção deste evento nós verificamos aqui em São Paulo e em alguns outros estados a necessidade de se manter enquanto um espaço de articulação de mulheres negras de diversas organizações, matizes ideológicas e até mesmo autônomas.
 
Alê Almeida:   A ideia nasceu em 2016, quando ocorreu a primeira marcha em São Paulo pelo *25 de Julho*, na qual marcharam mais de 3 mil mulheres pelo eixo “Negras e Indígenas em Marcha, enfrentando o racismo, o machismo, o genocídio, o golpe, a lesbofobia e pelo Bem Viver”. O coletivo *Marcha das Mulheres Negras de São Paulo* é fruto no Núcleo Impulsor (região São Paulo) da *Marcha das Mulheres Negras contra o racismo, o machismo, a violência e pelo Bem Viver – 2015*, que através da articulação de diversas redes de mulheres negras de todo o território nacional, levou 50 mil mulheres que ocuparam as ruas de Brasília para cobrar políticas públicas e reparação pelas desigualdades estruturais enfrentadas. 
 
 Passada a Marcha de 2015, nos sentimos com o dever de dar continuidade àquela articulação e organização, em São Paulo, e escolhemos o *25 de Julho – Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha* para estarmos nas ruas mais uma vez, é uma data referência que une todas as mulheres negras pelas mesmas opressões e pelo objetivo de superá-las.
 
 
JE: Quais temas serão abordados na Marcha desse ano?
 
 Luka Franca: Esse ano continuamos a denunciar a violência machista e racista cotidiana, mas também temos apresentado a todo momento o que significa a retirada de direitos apresentada pelo governo Temer para nós pretas, assim como a escalada da violência policial que atinge diretamente também a nós agudizando o processo do genocídio da juventude negras. Ano passado já apresentávamos a compreensão de que o governo Temer não representaria nenhum avanço, mas sim retrocessos as nossas vidas. Além da pauta política mais geral e a denuncia do recrudescimento da violência que nos atinge de diversas maneiras, também pedimos a demarcação de terras indígenas e quilombolas que sofrem diretamente com o processo do latifúndio, projetos de mineração e afins.
 
Alê Almeida: Neste ano, nosso eixo é *Mulheres negras e indígenas: por nós, por todas nós, pelo Bem Viver!*. Os temas a serem abordados têm como pano de fundo a luta pela sobrevivência e resistência à violência que permeiam as nossas vidas desde que fomos trazidas escravizadas para o Brasil. Os temas principais são: racismos (religioso, institucional, patriarcal cisheteronormativo etc.), genocídio do povo negro, feminicídio, machismo, etnocídio, lesbofobia, bifobia, transfobia, golpe e a retirada de direitos. 
 
 
 
Frases de ordem *“Parem de nos matar!”*, *Não ao retrocesso nas conquistas sociais!*, *Nenhum direito a menos!*, *Somos muitas e muito mais fortes do que eles pensam: vamos vencer!*, *Vamos derrotar o higienismo e a privatização de tudo em SP*, *Vamos ocupar todos os espaços por direitos!*, *Não vão destruir nossos sonhos e utopias!*, *Somos luta e resistência* ,*Uma sobe e puxa a outra, ninguém fica para trás!*
 
JE:  onde ela se inicia e onde ela termina?
 
 
Luka Franca: Inicia na praça Roosevelt às 17h e vai até o Largo do Paissandu quando encerraremos com uma Jam de Luana Hansen, MC Soffia e Yzalu.
 
 
Alê Almeida: A concentração ocorre na Praça Roosevelt, centro da capital, às 17h e marcha até o Largo do Paissandu.

 

O Jornal Empoderado perguntou a algumas mulheres: Como é ser mulher negra no Brasil hoje? Como educar o homem machista?

 

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Eliana Frazão, educadora, Carapicuiba/ SP

Ser mulher negra no Brasil hoje é ainda conviver com o modelo estereotipado:  a mulher quente, as instáveis,  as braçais.
Desconstruir esse imaginário é uma batalha diária, onde temos que provar que somos mais que peito e bunda, que somos seres intelectuais e capazes, que somos fortes  por que na maioria das vezes é nossa única  opção.

Outra batalha é manter nossa auto estima,  quando constantemente vemos todos modelos de beleza serem escalados menos o nosso.
Resumindo,  ser mulher negra é estar em constante busca por espaço e por respeito.

Como educar o homem machista?  Bom, eu acredito que o machismo assim como o racismo é estrutural.  É necessário desconstruir a mentalidade de superioridade que está tão enraizado nos homens.  Os homens devem aprender a ver a mulher com igualdade.  Tudo que um homem faz a mulher também faz, o que diferencia são as oportunidades. 

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Silvia Alves de Sousa,Profissão: Atriz e moradora da região do Sacomã/Zona Sul

Ser mulher negra do Brasil é muito complicado pois temos uma dupla jornada de trabalho, pois seja no trabalho com a família e no convívio social temos que estar  a todo o momento provando que nos somos seres humanos e desejamos que nos valorizem.

No meu caso atualmente sou atriz  mas antes trabalhei no setor publico onde trabalhava na área administrativa.E para quem era de fora eu era considerada apenas uma funcionário na área de serviços gerais (como faxineira). Não que seja uma profissão indigna, mas o que outros pensam da gente devido ao nosso fenótipo. Para eles nunca temos a capacidade de cursar uma faculdade realizar cursos extracurriculares, mestrado doutorado então para um negro é motivo de ironia.

Ter uma casa de bairro um pouco mais sofisticado e passa na portaria para (eles) você é um serviçal e não uma moradora.

Quando entrei na Faculdade chegava na portaria e era considerada apenas um serviçal e nunca uma aluna na faculdade onde cursei Administração de Empresa onde era bolsista pela Educafro e agradeço pela oportunidade sendo a única mulher negra dentre uns 28 alunos na classe.

No teatro sou a única negra dentre as dezoito do elenco sendo que diretor selecionou negros na peça mas enfim são tantos os problemas que acontecem com o negros  e somos impossibilitados a continuar, seja problema no trabalho, doenças e assim em diante.

Ser negra num País preconceituoso não é nada fácil .Ficamos a cada dia doentes pois as nossas preocupação são diferentes das outras mulheres brancas. Adoecemos muito devido a carga mental que a sociedade brasileira nos empoem e faz com que abaixemos a cabeça e falemos amem para eles mas nos negros temos que saber a todo momento levantar a cabeça e (dar a volta por cima).A atenção a mulher negra em todas as questões principalmente na área da saúde teria que ser diferenciada pois o nosso sofrimento é a cada dia sofrido pois adquirimos doença psicossomática que não deveríamos ter pois infelizmente a saúde da mulher negra nos meios da área esta a cada dia depravada .As consultas medicas são rápidas os remédios são os mais fortes e o atendimentos e nas maternidades a taxa de esterilização são mais altas em comparação as mulheres brancas.

“Vou para por aqui pois a vida das mulheres negras se torna um texto em vez de um linha”.

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Mariana Aparecida da Silva Santos. Profissão: Assistente Social. Região de moradia: Extremo da zona sul da Cidade de São Paulo(Grajaú)

Essa pergunta confesso me trouxe muitas reflexões, é difícil falar de uma questão onde as emoções indiscutivelmente  fazem parte e afloram. Eu, como mulher negra e periférica (pontuo bem isso porque precisam saber meu lugar de fala), sempre estive e estou ainda a margem da sociedade,excluída, segregada de vários espaços sociais. 
 
 
O machismo nos “aperta” de um lado e o racismo nos “esmaga” de outro e isso não é discurso vitimista como andam falando por ai é consciência de classe, é conhecimento da história ancestral é empoderamento.
Ser mulher negra no Brasil, causa medo, angustia, raiva, solidão…mas a resistência faz parte da minha e da história de cada mulher negra desse país,mulheres que também construíram e constroem esse país, ser mulher negra nesse país é partir cotidianamente para a luta brutal e desigual, mas NÃO desistir, pois transformações não veem do nada.
 
 
Salve, Dandara!
 
 
Não acredito na educação de um machista, acredito na desconstrução de seus conceitos machistas. E uma desconstrução que ultrapasse a esfera particular das famílias, mas que ocupe o campo de política pública ampliada. 
Se cada mulher entender o que de fato é o machismo e como isso prejudica sua vida diária, ela terá a oportunidade de desconstruir o machismo. 
 
 

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Nilza Camillo funcionária pública,gestora de pessoas,empreendedora social,líder de coletivo partidário FFB,Moro em Guarulhos/ Cumbica

54% da população brasileira é negra.Deste 51% da população que mora em favelas são de MULHERES negras,chefiam seus lares e possuí a renda menor que uma mulher branca e menor que o homem. Resumindo acabam tendo que se virar para levar o sustento de seus filhos se destacando como maiores empreendedoras. Além disso ocupa o maior número de cadeiras nas universidades públicas e particulares através do programa de cotas.

A democracia só será plena com maior número de participação das Mulheres em todas as esferas e cargos de Poder.Para diminuir com machismo o homem deve ter maior participação da vida ativa da mulher,a legislação tbm deve ser revista,tem que ter o mesmo nível de RESPEITO,o machismo NÃO vitimiza só a mulher,a mulher pode ser o que ela quiser e aí sim liberdade de escolha.

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Eu sou Elaine Souza, formada e pós-graduada em Direito, enamorada desde sempre pelas panelas, então a dois anos troquei os livros pela batedeira e ao invés de me tornar uma doce advogada virei uma boleira justiceira. Minha empresa é a Batuque na Cozinha e faço eventos corporativos. Faço parte da marcha mundial das mulheres e também da Associação de mulheres da economia solidária, e nas horas vagas eu durmo. Moradora da Vila Prudente/Zona Leste de SP.

Ser mulher negra no Brasil, é saber que quando o sol levanta temos que estar prontas para correr.É saber que se o homem tem que matar um leão por dia o negro tem que matar dois e nós temos que matar três.É saber que mesmo nas adversidades temos que ser fortes, mesmo doente, triste ou fracas temos que colocar um sorriso no rosto pra dizer ao mundo que está tudo bem quando estamos morrendo por dentro. É ver nosso homens negros nos trocando por mulheres brancas e ter que ouvir que amor não escolhe cor mesmo sabendo que o amor é antes de tudo uma escolha de vida por uma companheira que entenda como é ser negro num País que nos nega tudo e que temos que fazer valer nossa presença em todo e qualquer local. Ser mulher negra no Brasil é encarar cara espantada quando você fala que é pós graduada e entende de leis, Ser mulher negra no Brasil é saber que as oportunidades nunca nos serão dadas e que teremos que lutar pelo que queremos e nos irmanar umas com as outras.

Como educar o homem machista? Sendo uma mãe feminista. Como diz minha mãe pau que nasce torto, morre torto ou (eu acho) se endireita sozinho no balanço do vento. Os homens são criados por mulheres somos nós que queremos o mundo menos machista mas nos esquecemos que começa em casa…o filho brinca a filha lava a louça o filho estuda a filha estuda e limpa a casa, o filho sai com os amigos a filha tem que se preservar. Sabe a musica como nossos pais? Pois é nada mudou até agora. Muitos homens estão percebendo que não ganham nada sendo machistas, mas a maioria ainda acha que a mulher nasceu para servir.

Para estes eu não entendo que precisem ser educados, pelo menos não por mim, porque machismo não se cria em mulheres fortes que sabem seu valor. Sou uma dessas, eu ralo pra ter tudo o que conquistei e o que pretendo conquistar então não abaixaria a crista para um homem que se achasse no direito de levantar que fosse a voz que dirá a mão para mim….Sei que muitas mulheres talvez me recriminem por esta resposta, mas é notório a mulher que apanha é a mesma que cria o filho pra ser o machão da casa, como querer mudança se ela não começa na base que é o lar?

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Kátia Cristina da Silva Neves, Cirurgiã- Dentista moradora do Bairro do Tatuapé

 

Ser mulher negra é enfrentar e combater o racismo no Brasil duplamente. É saber que a mulher no Brasil a anos ocupa a maioria das profissões antes no passado preenchidas somente por homens. E mesmo assim, receber bem menos do que os homens imaginam ser Mulher e Negra .

Uma das melhores formas de educar o homem machista é através de conscientização desde a infância e nas escolas promovendo a igualdade de gênero e também de etnia.

 

NOTA

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